Ex-pilotos, antigos organizadores de voos charter, comissários e hospedeiras de bordo. Em comum, os associados do Clube Concorde, com sede no Reino Unido, têm a paixão por aquele que foi até hoje o avião supersónico a operar voos comerciais durante mais tempo. E dessa devoção nasceu a vontade de voltar a colocar o Concorde nos ares. Para tal, anunciou recentemente o presidente do Clube, Paul James, um ex-operador de charters, já foram angariadas 120 milhões de libras (cerca de 165,6 milhões de euros).
"O principal obstáculo a qualquer projecto envolvendo o Concorde até agora era 'Onde está o dinheiro? (...) Agora que o dinheiro já não é um problema, já não há desculpas para aqueles que nos podem ajudar a fazer com que isto aconteça."
O Clube pretente agora comprar um dos jactos e operar voos privados para gáudio dos fãs da aeronave. O regresso, esperam, deverá acontecer em 2019 por altura do 50.º aniversário do voo inaugural do primeiro protótipo, realizado a 2 de Março de 1969.
Ouvido pelo The Telegraph, Jonathan Glancey, o autor de Concorde: the Rise and Fall of the Supersonic Airliner, a ser publicado no Reino Unido a 1 de Outubro, acredita que o projecto irá mesmo ver a luz do dia tendo em conta a quantidade de gente que "sente a falta do Concorde". Além disso, o escritor sublinha que o clube além do dinheiro tem os meios técnicos e humanos para levar as suas intenções a bom porto: "Não há nada que uma equipa experiente e motivada de engenheiros não consiga.”
O Concorde, que fez parte da frota apenas das companhias Air France e British Airways - um incidente com outro supersónio, o Tupolev Tu-144, que operou voos regulares apenas durante dois anos, entre 1977 e 1979, esteve na origem da desistência de outras empresas de transporte aéreo de passageiros - iniciou os seus voos comerciais a 21 de Janeiro de 1976, com a rota Paris-Rio de Janeiro e escala em Dacar, no Senegal. Tendo por bases Londres e Paris, ao longo da sua vida, o Concorde serviu outras cidades, aterrando frequentemente em certos aeroportos exclusivamente para reabastecimento: casos de Ilha de Santa Maria, Açores, ou mais pontualmente Lisboa.
O Aeroporto da Portela viveu, porém, um dos pontos altos do Concorde: às 08h00 de 12 de Outubro de 1992, o voo AF-1492, número em homenagem ao ano em que Cristóvão Colombo chegou à América, saiu de Lisboa para uma volta completa ao planeta. A viagem, de mais de 40 mil quilómetros, terminou no mesmo aeroporto 32 horas, 49 minutos e três segundos mais tarde, i.e., às 16h49 de dia 13, tendo parado seis vezes pelo caminho para reabastecer - um recorde que o mesmo avião superaria em 1995 com um tempo de 31 horas, 27 minutos e 49 segundos.
O início do fim do Concorde deu-se quando, a 25 de Julho de 2000, o voo 4590 operado pela Air France se incendiou poucos minutos após ter descolado do Aeroporto Charles Charles de Gaulle, Paris. Morreram 113 pessoas. O acidente deixou os aviões em terra por 15 meses, período após o qual voltaram às rotas habituais. Mas os gastos e a cada vez menor procura ditaram a inviabilidade económica. A 10 de Abril de 2003, a Air France e a British Airways anunciaram a reforma das aeronaves. A Air France voou com um Concorde pela última vez no dia 31 de Maio de 2003. A derradeira viagem comercial do Concorde foi ao serviço da British Airways, a Mach 2.02 (ou 2474 km/h — a sua velocidade cruzeiro), no dia 24 de Outubro de 2003.