Fugas - Viagens

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Nas margens do Vez, um “jardim botânico” (e ouro dos duendes)

Andamos por zonas planas (até passam algumas bicicletas) e parece acessível o percurso, sempre com o borbulhar do rio, por vezes mais nervoso, e o som das cigarras como companhia. Uma plantação de bétulas albas surge do lado de dentro, onde os terrenos são privados e uma rede os separa dos trilhos que eram, mesmo antes da ecovia, utilizados por pescadores (a truta é a “vítima”). É nesta tranquilidade que nos deparamos com o Observatório de Louredo – o nome é sofisticado mas não há muita informação: aqui, o rio Ramiscal junta-se ao Vez e forma uma zona de grande beleza. Há muitos recantos assim, neste troço dos passadiços, até chegarmos ao Poço das Caldeiras: este é espaço “oficial” de mergulhos (do alto de rochedos) e pode aceder-se de carro.

É aqui que emergimos do vale (escadaria íngreme que não é fácil para quem, como nós, não está habituado a caminhadas), subimos acima do “jardim”. Entramos numa espécie de “parênteses” neste trilho, afastados do rio e pelo alcatrão. É quase um quilómetro assim.

Novamente a sinalização da Ecovia do Vez para iniciarmos a zona com “mais natureza” (diríamos natureza mais indomada). A partir daqui o trilho é mais acidentado, com subidas e descidas íngremes, por vezes com bastantes pedras; a partir daqui o recurso a passadiços intensifica-se, sobretudo à medida que vamos subindo e aproximando-nos de Sistelo: grandes troços suspensos, sobem, descem e fazem curvas entre floresta que do lado do rio se “agarra” em declives abruptos e do lado de dentro se empoleira entre afloramentos rochosos, por vezes com pequenas cascatas. Os sinais do glaciar do Vez reconhecem-se nos “cortes” que formam paredes de pedras e terra, como que negativos do que foi a subida e a descida do nível do rio (neste processo, explica Hugo, surgiram os socalcos que também fazem a fama de Sistelo, que o homem melhorou e amplificou), e no leito do rio com a “substituição” dos seixos por rochas cada vez maiores.

Avançamos entre carvalhos-alvarinho, borboletas brancas e um silêncio apenas entrecortado pelo rio a saltar (o Vez é rio de caiaque). As “aradeiras” (o nome dado por aqui às heras) cobrem troncos de árvores, aparecem pilriteiros – não vemos nenhuma cobra-de-escada mas são comuns, começam a aparecer orégãos selvagens e vemos a urze que dá cortiça. A Poça da Padela abre-se no rio e estamos em terreno plano, floresta (cheia de musgos; em Setembro surgem os cogumelos). Começamos a ver mais terrenos agrícolas (feno), já casas empoleiradas nas vertentes – espreitamos o ouro dos duendes (um musgo que vive em grutas e espaços escuros que é fluorescente), quase reduzido a zero – mas quando chegamos à Poça dos Aflitos, praia fluvial, já é novamente floresta por todo o lado, embora estejamos perto da Capela dos Aflitos. É hora do piquenique: fumeiro assado, broa de milho amarelo, mel, vinho branco, água, fruta da época – o folar brandeiro ficou de fora, vieram os charutos de Arcos de Valdevez adoçar-nos a boca.

Esta zona é aproveitada por muitos caminhantes para iniciarem o percurso ou apenas visitantes ocasionais, uma vez que os carros podem chegar perto. Nós, entretanto, começamos a cruzar-nos com vários grupos, famílias, sobretudo, e é assim que chegamos a Sistelo. E se não repetimos os dez quilómetros para voltar ao carro é porque viemos com a Quinta Lógica (12€ por pessoa para grupos entre oito e 16 pessoas) – além da interpretação e do piquenique, há boleia até ao ponto de partida.

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