Fugas - Vinhos

Continuação: página 2 de 2

Barca Velha

Uma equipa que no decorrer destes já longos 61 anos de existência conheceu unicamente três enólogos, três condutores que assumiram esse enorme privilégio de poder tomar conta dos destinos do Barca Velha. O primeiro foi o grande compositor e ideólogo do Barca Velha, Fernando Nicolau de Almeida, o homem que idealizou e desenhou um vinho a partir do nada. José Maria Soares Franco tomou as redes do Barca Velha logo de seguida, garantindo a sucessão de forma séria e tranquila, acrescentando uma dose de urbanidade menos habitual no passado. E finalmente o autor contemporâneo do grande tinto duriense, Luis Sottomayor, renovador de veludo do perfil Barca Velha, apresentando vinhos capazes de manter a austeridade mas acrescentando um perfil mais sereno e moderno.

E claro, o mito não estaria completo sem a intemporalidade e lendária capacidade de guarda do Barca Velha. A sua longevidade excepcional é mais uma vez sinal evidente de um carácter pouco habitual nos vinhos portugueses. A comparação é fácil e para tal basta colocar o Barca Velha face aos seus pares do mesmo ano… exercício que mostra invariavelmente a concentração e profundidade deste mito do Douro.

A verdade é que o perfil Barca Velha mudou substancialmente desde a colheita 1999, uma mudança positiva e que renovou e ajudou a recuperar o prestígio do passado. Podemos afirmar, mesmo que com alguma afoiteza, que a colheita de 1999 foi o primeiro Barca Velha da era moderna, o primeiro Barca Velha contemporâneo que permitiu rivalizar e emparceirar com os seus pares mais recentes do Douro… e igualmente mediáticos. Um estilo que o Barca Velha 2000 confirmou e que o mais recente Barca Velha 2004 reiterou de forma categórica.

O perfil delicado, a austeridade e aristocracia do passado mantêm-se mas agora acrescidos de fruta e de uma jovialidade contagiante, uma frescura aromática que acrescenta alegria e pujança. E pujança é mesmo a inovação de perfil mais dramática no Barca Velha, mostrando um estilo mais desempoeirado, moderno, no melhor sentido que a adjectivação possa encerrar, sem nunca perder de vista os conceitos de equilíbrio e harmonia tão queridos dos criadores do Barca Velha.

Sejamos claros, os Barca Velha de 1999, 2000 e 2004 são vinhos absolutamente notáveis. E tão portugueses na sua expressão. 

--%>