O declínio já foi o fado desta região, decadência que nos últimos anos tem vindo a ser contrariada com o entusiasmo de alguns pequenos projectos. A recente recuperação de popularidade dos vinhos brancos poderá ajudar na regeneração de Bucelas, coração de toda uma plateia de apreciadores de vinhos brancos com carácter. Infelizmente, e tal como num passado recente, uma quantidade significativa de vinha continua a ser dedicada à produção de vinho para consumo próprio, para vinhos de mesa não certificados naquilo que é um aparente paradoxo numa zona com tamanho potencial.
Colares é um mundo sem paralelo onde tudo é diferente e misterioso. Dir-se-ia que Colares faz tudo ainda às avessas, de forma ilógica e aparentemente absurda. As melhores parcelas de vinha estão plantadas em chão de areia, solos de areia pura e dura. O fundo argiloso encontra-se a grande profundidade, transformando a operação de erguer uma vinha num esforço quase inumano. Sim, é verdade que a denominação também conta com vinhas em solos argilo-calcários, o chamado chão rijo, mas esses vinhos são muito menos interessantes.
Os ventos são vigorosos e incessantes, num rodopio que derruba qualquer planta mais aventureira. Para garantir a sobrevivência das plantas, as vinhas são mantidas coladas ao chão de areia, espalhadas em áreas valiosas, protegidas por paliçadas de cana. Para que os bagos não sejam escaldados pela ardência da areia, cada pequeno cacho tem de ser elevado com a ajuda de curtas canas biseladas que terão de suportar cada cacho individual. A humidade do Atlântico é terrível e o nevoeiro uma constante, o que transforma a maturação numa incógnita permanente. Num clima que à partida se afigura mais propício para vinhos brancos, a aposta sempre recai maioritariamente nos vinhos tintos.
E, pior, Colares sofre do encanto de uma paisagem paradisíaca, da proximidade de Lisboa e da presença da praia, dos encantos da serra e do romantismo colado a Sintra. É presa fácil da urbanização, dos condomínios e das casas de férias que competem com o espaço dedicado às vinhas. A boa notícia é que começam agora a surgir novos projectos na região, novas aventuras que poderão indiciar uma tão necessitada renovação de sangue na região. Há quanto tempo não prova um vinho de uma destas três denominações da cidade de Lisboa?