Para levar a cabo uma empreitada tão ambiciosa precisavam de campos de ensaio, vinhas onde pudessem sustentar as muitas experiências e ensaios. Foi aqui que se deu um dos milagres deste trabalho extraordinário, numa rara confluência de interesses entre o sector privado e o meio académico, uma parceria entre a comunidade científica e o mundo empresarial, entre a produção e a investigação, numa associação entre dois mundos que tradicionalmente vivem desfasados. Cerca de uma centena de produtores aceitaram ceder pequenas parcelas das suas vinhas para serem usados como campos experimentais, viabilizando a missão e resolvendo uma das dificuldades mais evidentes do projecto. Uma convivência salutar que ainda hoje é rara dentro de portas.
Com a ajuda de diversos produtores dispersos por todo o país, instalaram vinhas em cem campos experimentais dispersos por todo o território continental e insular, pequenas parcelas desviadas da produção para serem dedicadas à investigação numa atitude de filantropia. Porque é mesmo de abnegação e de esforço económico que estamos a falar, com os muitos produtores aderentes, quase todos anónimos, a suportar os custos e inconvenientes de ter vinhas experimentais nos seus campos, vinhas que deixaram de ser produtivas em prol da investigação para o bem comum.
Um trabalho de campo notável que apresentou resultados extraordinários, que permitiram recuperar algumas castas pouco valorizadas, por vezes resgatando do esquecimento algumas das variedades que hoje são consideradas fundamentais para a enologia nacional. De entre os muitos sucessos obtidos, o caso mais mediático e feliz será certamente a recuperação da Touriga Nacional, devolvendo o brilho e a glória a uma casta então desprezada e que se encontrava demasiado perto da extinção ou obsolescência genética.
Um trabalho notável mas, como tantos outros trabalhos fundamentais, infelizmente pouco reconhecido. Uma junção de esforços ambiciosa e pouco habitual em Portugal que deveria servir de exemplo para o presente e o futuro. Um trabalho individual e colectivo de preservação que permitiu aumentar o conhecimento sobre as castas nacionais, um projecto em que Portugal se afirmou por direito próprio no pelotão da frente do conhecimento.