Ou seja, enquanto em Portugal as cinco principais castas representam um quarto da área total de vinha, nos restantes países produtores essa proporção passa para valores entre metade e dois terços da área total. Pior, ou melhor, dependendo das perspectivas, as dez principais castas de Portugal representam 36,4% da área total, cerca de um terço da área conjunta de vinha. E se quisermos ser ainda mais chocantes ficamos a saber que as principais vinte e cinco variedades nacionais ocupam apenas 52% da área global de vinha, proporção menor que as cinco principais castas preenchem em Espanha.
Ou seja, as vinhas portuguesas estão largamente pulverizadas em dezenas de castas que, mesmo no caso das variedades de maior sucesso, representam uma pequeníssima porção do volume total de vinho produzido. O que é uma benesse, no que tal representa de riqueza e complexidade, mas simultaneamente um pesadelo quando pretendemos comunicar ao mundo este intricado e rico universo das castas nacionais.
Entre as dez variedades mais plantadas encontramos apenas três castas brancas, as já expectáveis Fernão Pires, Roupeiro e Arinto. Mas mesmo no restrito grupo das dez castas mais plantadas em Portugal conseguimos ser confrontados com sobressaltos pouco previsíveis. É surpreendente, para ser simpático na escolha de palavras, que a décima casta mais plantada em Portugal seja o Syrah, casta francesa de introdução relativamente recente no nosso país. A área absorvida pelo Syrah consegue ser mesmo superior à área ocupada pelo Alicante Bouschet, facto inesperado mas que é explicável pelo recente amor de tantas regiões nacionais que se deixaram seduzir pelos encantos do Syrah. Uma tendência assustadora e pouco racional que poderemos vir a pagar muito caro…
Mas também é estranho notar que a segunda casta estrangeira mais plantada em Portugal, se assumirmos o Alicante Bouschet como nacional, é o Caladoc, uma casta híper produtiva que muito raramente surge nos contra rótulos dos vinhos pátrios. Outra curiosidade é o sucesso do Loureiro, décima primeira variedade em área total plantada e que ocupa um pouco mais do dobro da área global do Antão Vaz! Quem tiver curiosidade em conhecer o nome das dez variedades mais plantadas em Portugal fica a saber que a hierarquia é representada por ordem decrescente pelo Aragonez/Tinta Roriz, Touriga Franca, Castelão, Fernão Pires, Touriga Nacional, Trincadeira, Baga, Roupeiro/Síria, Arinto e Syrah.