Que relação pode haver entre a exportação de vinhos para o Brasil e os painéis quinhentistas expostos no Museu Grão Vasco, em Viseu? A questão pode até parecer absurda, mas pensando-se que as pinturas atribuídas a Vasco Fernandes, o célebre Grão Vasco, coincidem com a época da chegada dos descobridores portugueses às terras de Vera Cruz e que nesses painéis há já cenas alusivas às vindimas na região de Viseu, fácil é concluir que a cultura da vinha e do vinho no Dão é, pelo menos, tão antiga como o Brasil. E sabe-se como a história e o contexto influenciam a percepção de qualidade e a decisão na hora de valorar e escolher um vinho.
É por isso que a Lusovini tem trazido ao nosso país importadores, críticos e jornalistas dos seus mercados mais importantes. Com a preocupação de lhes mostrar como e onde são feitos os vinhos, mas também a sua ligação com a cultura e património de Portugal.
É o Lusivini Wine Tour que, além das vinhas e adegas no Alentejo, Bairrada, Douro e Dão, levou este ano os seus convidados a locais tão emblemáticos como a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, o Museu da Tapeçaria, em Portalegre, a caves de vinho do Porto, em Gaia, ou o Museu Grão Vasco.
Outro dos objectivos passou pela harmonização dos diferentes vinhos do portefólio da empresa com as gastronomias dos vários países representados, mostrando a sua diversidade e versatilidade. Vinhos para o mundo, a partir de regiões com características diferenciadoras e grande diversidade de castas autóctones, que são uma das marcas mais distintivas da vitivinicultura portuguesa.
Começou em Lisboa, a visita, com um jantar no Palácio das Necessidades, para o qual o chef Vítor Sobral criou um menu de sabores africanos e focado nas cozinhas de Angola e Moçambique. A par do acesso aos salões dos edifícios que albergam o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o repasto contou com a presença dos secretários de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, e da Agricultura, Luís Vieira.
Nos repastos que se seguiram, José Júlio Vintém (restaurante Tomba Lobos, Portalegre), Vítor Dias (Quinta das Lágrimas, Coimbra), Rui Paula (DOC, Douro) e Luís Almeida (Dux, Viseu) procuraram criar momentos gastronómicos associados a sabores brasileiros, norte-americanos e orientais, de forma a evidenciar o potencial dos vinhos provados face às respectivas gastronomias.
Particular significado teve o jantar que foi servido nas Caves Andresen, em Gaia, onde os participantes tiveram oportunidade de testar a associação com sabores asiáticos, mas também tomar contacto com o método e envelhecimento dos vinhos do Porto e provar algumas colheitas de referência.
A par dos vinhos de produção própria, no Alentejo, Bairrada, Dão e Douro, a Lusovini está também associada a produtores de referência das várias regiões, que completam o seu portefólio de mais de 90 vinhos. Neste campo, assume particular relevância a ligação à Andresen, reputada pela qualidade dos seus Tawny. Há 25 anos que a empresa estava sem distribuição em Portugal e a nova parceria tem-se revelado como um enorme sucesso. “Pensávamos na Andresen para compor o portefólio, mas as vendas de Porto representam já cerca de 20% do negócio total”, revelou o presidente da Lusivini, Casimiro Gomes.
O projecto surgiu em 2009 e tem crescido desde que nasceu, ao contrário do que é normal na exportação. Em vez de representantes locais, a Lusovini percebeu “que primeiro” tinha de “criar bases”. Foi assim que constituíram empresas em Angola, Brasil e Moçambique, explica Casimiro Gomes, acrescentando que são agora já mais de vinte os outros mercados de exportação, com destaque para o Norte da Europa, mas também EUA, Canadá e China.
Tudo a partir do Dão, com centro de actividade nas remodeladas instalações da antiga Cooperativa de Nelas, que foram adquiridas em 2012, em processo de falência. A aposta na região passa pelo potencial de envelhecimento dos seus vinhos e, por isso, é ponto estratégico que seja comercializado apenas um terço de cada colheita, ficando os restantes dois terços em processo de envelhecimento.
Casimiro Gomes, que foi um dos fundadores do projecto Dão Sul, do qual depois se desvinculou, acredita que “o vinho é uma actividade de longo prazo e não um negócio para economistas”. Daí que os fundadores da Lusovini tenham traçado uma estratégia a dez anos, período durante o qual todos os recursos gerados são reinvestidos.
Com a recuperação e renovação das instalações de Nelas, o potencial é enorme. Funcionam já programas de enoturismo, com visitas, um restaurante e loja de vinhos, a capacidade de vinificação supera os seis milhões de litros e os dois andares de cubas de cimento permitem armazenar mais de oito milhões de litros.
O tempo joga a favor, tal como com os novos vinhos de topo que foram apresentados durante o Wine Tour: os Varanda da Serra DOC Dão Branco 2014 e Tinto 2013. Vinhos com origem em vinhas velhas e cuidado enológico da perspicaz Sónia Martins e com o propósito declarado de recriar os grandes vinhos de guarda do Dão a partir da viticultura e enologia actuais. Vinhos com um potencial de décadas de crescimento, por isso engarrafados apenas em magnum e com edições limitadas a três mil garrafas.