Fugas - Vinhos

  • Miguel Manso
  • DR
  • Davide Sousa

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Os singulares Czar de Fortunato Garcia

A série começou com a colheita de 2011 e terminou com a de 1970, uma das duas que o próprio Fortunato nunca tinha provado. A outra foi a de 1974. Ambas as garrafas foram cedidas por um antigo distribuidor do pai. A série incluiu ainda as colheitas de 2009, 2006, 2000, 1998, 1992, 1990, 1988 e um vinho não datado de entre os anos de 1980 e 1983.

O vinho mais antigo, de 1970, foi o que se mostrou menos interessante, denotando já alguma quebra. Os vinhos da década de 80 surpreenderam pela sua elevada secura, em especial o 1988, um vinho austero, algo amargo até mas com boa acidez e interessantes notas de pólvora e de citrinos. Os Czar deste século são um pouco intermitentes. O 2011, ainda por rotular, é um vinho com grande nervo e salinidade, muito lítico, na mesma linha dos 80. O 2009 de 20,1% de álcool é o mais singular de todos, inebriando com as suas deliciosas e inesperadas notas de chocolate branco e de cognac, a par de outras mais típicas de frutos secos (nozes e pinhões, acima de tudo). É muito seco e picante. Um grande vinho. O 2006 é mais adamado e tem menos acidez. E o 2000 é o mais “Tawny” de todos, muito concentrado, com notas caramelizadas mais salientes e uma acidez volátil alta e sensações agridoces de laranja amarga que lhe dão muita garra.

A década que mais sobressaiu foi sem dúvida a de 90. O 1998 é um vinho com sensações de pólvora similares às do 1988. Muito cítrico e salgado, faz lembrar na boca alguns Madeira de Sercial bastante afiados. Muito bom. O 1990 vai noutra direcção, mais químico (cola, cera, verniz) e mais rico e concentrado na boca. E é também mais complexo. Fantástico. Superior, na nossa opinião, só mesmo o 1992, o vinho da prova. Junta o melhor dos vinhos mais secos com o melhor dos vinhos mais concentrados e volumosos. É uma sinfonia de frutos secos, mel, citrinos, iodo, sal. Um vinho rico e distinto, cheio de tensão e vivacidade (o basalto e a salinidade do mar conferem a estes vinhos uma expressão mineral e uma frescura magníficas). Cada gota expressa bem a força telúrica do Pico, uma ilha que em todo o seu esplendor visual exerce uma irresistível atracção magnética sobre nós, deixando-nos esmagados perante a presença majestática da montanha e a beleza das vinhas que florescem milagrosamente por entre campos de lava. Vinhos assim, não têm preço.

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