Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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O outro Douro

No Douro, o número de viticultores diminui de ano para ano. No final de 2016 já só eram 21.432 e destes, na sua maioria velhos e reformados, apenas umas escassas centenas conseguem viver dignamente da vinha. Claro que já não há gente descalça e faminta a vaguear pelas ruas e a trabalhar pela côdea e a sopa. Foi gente dessa que ajudou a erguer muitas quintas do Douro. Quando D. Antónia, “A Ferreirinha”, construiu a sua última quinta, Vale Meão, chegou a empregar cerca de 1000 pessoas, a maioria, de certeza, só a troco de comida. Era assim, naquele tempo. Hoje, não é de miséria que estamos a falar, é de pobreza. O que choca no Douro actual, perante a riqueza da região, é haver ainda tanta gente pobre e iletrada. O que choca é o Douro não ser como a Borgonha, Bordéus ou Champanhe, onde se pode ter uma vida boa sendo viticultor, onde a terra tem valor e as novas gerações querem ficar. Infelizmente, o Douro das grandes quintas e dos grandes vinhos continua a ser uma terra de emigrantes — e isso diz tudo.

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