Quando Anthony Bourdain veio a Lisboa para gravar mais um episódio da célebre série No Reservations (que em Portugal é transmitida pela SIC Radical), em Dezembro de 2011, a par do marisco, das bifanas e das criações de alguns chefs portugueses, às tantas deu consigo num bar de conservas. O conceito do espaço, só por si inovador, é representativo de uma tendência: as conservas estão na moda.
Tal como Bourdain, quem entra e prova as conservas portuguesas no Sol e Pesca é surpreendido. Este é um local que tem a particularidade de ter uma carta de onde se pode provar diferentes marcas e produtos em conserva. Henrique Vaz Pato, arquitecto e proprietário do espaço, foi conhecendo a indústria conserveira e, hoje, tem no bar marcas de todo o país.
Mesmo os restaurantes de fine dining usam as conservas nas suas criações. Um desses espaços é o Can the Can, no renovado Terreiro do Paço. O chef Akis Konstantinidis, que está à frente do projecto, confecciona pratos de alta cozinha com conservas. Este foi um dos restaurantes que fez sucesso no festival Peixe em Lisboa, que decorreu entre 4 e 14 de Abril.
As conservas portuguesas até foram, recentemente, notícia em Inglaterra através da BBC News, onde se deu a conhecer o regresso de produtos portugueses com design vintage.
Apesar da crise e, ao contrário de outros sectores, a indústria de conservas aumentou as exportações em 2012. Segundo dados da Datapescas, uma publicação estatística elaborada pela Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, Portugal registou um aumento de 14,6% nas exportações de conservas, em relação a 2011, números que perpetuam a tendência positiva que se tem vindo a registar desde 2010.
Henrique Vaz Pato aponta a “inovação e a renovação” do sector como principal causa do sucesso das marcas da indústria conserveira que persistem no mercado. “Há empresários atentos a novas tendências e ao desenvolvimento de produtos inovadores.” Já o chef Akis fala das conservas como “um produto gourmet” e sublinha que as marcas portuguesas têm “altíssima qualidade”.
Seja como aperitivo ou prato principal, estas são as sete marcas cujos produtos Henrique Vaz Pato e Akis Konstantinidis defendem.
A fábrica de conservas Santa Catarina, da ilha de São Jorge, nos Açores, é um exemplo de perseverança e de inovação na indústria conserveira. Fundada em 1995, apesar de ter sentido dificuldades financeiras nos últimos anos, tendo mesmo registado prejuízos em 2011 e 2012, tem conseguido arrecadar reconhecimento na forma de prémios para os seus produtos. Enquanto tentava regularizar dívidas a fornecedores, no ano passado, o atum da Santa Catarina foi distinguido pela GreenPeace como tendo “o atum mais sustentável do mundo.”
Dedica-se exclusivamente às conservas de atum, capturado com linha e anzol através de uma arte de pesca tradicional conhecida como salto e vara, um método que selecciona os melhores espécimes e salvaguarda a preservação da espécie. Todas as conservas Santa Catarina têm a certificação “dolphin safe”: um exemplo de sustentabilidade.