Fugas - motores

Miguel Manso

VW Sharan 2.0 TDI 140 Confortline Bluemotion: À altura dos novos desafios

Por Luís Francisco

Já passou década e meia (quem diria?) desde que a fábrica de Palmela, então ainda em parceria com a Ford, começou a produzir o VW Sharan. Da desconfiança inicial à popularidade dos nossos dias, os monovolumes evoluíram muito. E, agora o Sharan adequa-se aos novos tempos

A primeira, e óbvia, diferença do novo Volkswagen Sharan para a geração inicial do modelo é a adopção do cada vez mais popular conceito das portas traseiras deslizantes. Combinadas com uma silhueta elegante, que fica a léguas do perfil quase-furgão de outros tempos, elas dão ao VW Sharan um toque de modernidade de que o monovolume produzido na fábrica de Palmela estava desesperadamente a precisar. Foram 15 anos a ver a concorrência evoluir. Tempo demais.

Foi tanto tempo que esta nova geração apresenta-se como um modelo totalmente novo. Bom, não totalmente: as palas para o sol são iguais; tudo o resto é diferente. Em década e meia, os monovolumes transformaram-se em veículos de elevados padrões tecnológicos e dinâmicos, enobreceram-se, ganharam o seu espaço e uma dignidade que os leva muito para além da lógica "só comprei isto porque tinha mesmo de ser..."

E é por isso que o desafio da Volkswagen se mostrava exigente: o Sharan tinha de se mostrar ao nível do que a concorrência foi conseguindo fazer e, em nome do prestígio da marca, mostrar-se uma referência do segmento. Era um desafio complicado e, certamente, não seria difícil ao construtor alemão enfrentá-lo com sucesso se não vivêssemos tempos de crise e o controlo de custos não fosse um parâmetro nuclear na concepção de um modelo.

Ou seja, as soluções tecnológicas existentes na marca seriam mais do que suficientes para acumular argumentos poderosos e transformar o Sharan num monovolume exemplar. Mas, num mercado cada vez mais competitivo, deixar deslizar os preços de venda ao público para valores muito elevados seria fatal. E foi nesse equilíbrio que a VW jogou. E, reconheça-se, jogou com alguma mestria.

O Sharan é, antes de mais, muito bom em termos dinâmicos. Suspensão confortável e eficaz, direcção comunicativa, travões bons, caixa um bocadinho lenta mas bem escalonada, motor potente e disponível, segurança passiva e activa de bom nível. Tudo isto proporciona comportamentos em estrada acima de qualquer suspeita e boa atmosfera a bordo. Pena que a insonorização não se mostre à altura dos pergaminhos da marca.

Pegando nesse sinal de (aparente) poupança, partimos à descoberta dos pormenores que nos deixam uma sensação de insatisfação. E começamos logo pelo visual interior: os materiais não merecem reparos, mas um ocasional ruído parasita numa das portas deslizantes pode ser um mau sinal... Adiante. O que chateia realmente é a sensação monocórdica de que não há um rasgo de criatividade no desenho do tablier. Tudo prático, é verdade, mas sem chama.

Outros pormenores irritantes são a inexistência de pneu suplente, neste caso "substituído" por um sistema "runflat" que - e há que gritá-lo pela enésima vez... - não nos coloca a salvo de um rasgão; e ainda a colocação de alguns itens de equipamento numa lista de opções que inclui, entre outros, o sistema de ajuda ao estacionamento, absolutamente indispensável, para os padrões actuais, num carro deste tamanho. Compreende-se que a câmara traseira e, principalmente, o sistema "Park Assist" (que estaciona o carro sozinho) sejam pagos à parte, mas os sensores, caramba...

Por outro lado, para quem não seja dado a grandes devaneios estéticos, este carro é um portento de funcionalidade. A adopção de portas laterais deslizantes potencia o acesso aos (eficientes) bancos da terceira fila, que se podem arrumar no fundo da bagageira - esta, por seu turno, graças à ausência de pneu suplente ("et voilá!"), mostra-se bastante simpática mesmo na configuração de sete lugares.

Este é um devorador de quilómetros que não se sente bem em espaços apertados, onde a sua capacidade de manobra se mostra pouco interessante. Ainda assim, os consumos são controlados - mesmo no pára-arranca do tráfego citadino -, situação em que o motor se desliga em ponto-morto, um dos sinais mais visíveis da adopção da filosofia Bluemotion, uma característica comum a toda a gama.

Resta, portanto, olhar para os preços. Não sendo a VW uma campeã da parcimónia neste campo, haverá motivos para recear? A resposta é, notavelmente, não. Se exceptuarmos o Mitsubishi Grandis (que começa nos 36.370 euros e acaba aos 39.000), o Sharan (entre os 37.000 e os 42.800) alinha os seus preços pelos da concorrência nas motorizações dois litros diesel. Resta fazer depois as contas ao equipamento que se paga à parte.

Barómetro

+ Visual discreto, qualidades dinâmicas, espaço a bordo, modularidade, acesso à terceira fila de bancos, classificação de classe 1 nas portagens

- Manobrabilidade, interiores sem chama, insonorização, alguns itens de equipamento pagos à parte, inexistência de pneu suplente

Prático

Os três bancos da segunda fila podem deslizar até 16 cm para a frente e para trás. E podem fazê-lo individualmente, possibilitando um sem-número de configurações e facilitando de forma notável o acesso à terceira fila, quando em uso. O banco deita-se para a frente e o enorme espaço disponibilizado pelas portas de correr faz o resto. Na versão testada, os estofos eram em tecido, mas os bancos mostraram-se competentes. Mesmo os dois mais atrás são confortáveis e têm saídas de ar próprias e espaços para guardar objectos.

Questão de hábito

Os ganhos ergonómicos são evidentes, mas ainda há qualquer coisa que nos deixa desconfortáveis quando juntamos no mesmo metro quadrado crianças e portas de correr... Neste caso, com comando eléctrico. É suposto elas pararem o seu movimento quando encontram alguma resistência, mas aquele deslizamento ao longo da chapa lateral, ainda por cima num ângulo morto para o condutor, exige alguma adaptação psicológica. E não só.

Simpático

Mesmo na configuração sete lugares, a bagageira oferece um espaço simpático e mostra-se muito funcional. Com os bancos da terceira fila embutidos no piso, sobra uma plataforma lisa e de generosas dimensões. Há quem consiga melhor, mas isto já é muito interessante. Os bancos armam-se em dois tempos: pelo portão traseiro, puxam-se as costas com a ajuda de uma pega e depois ergue-se o assento a partir das portas laterais. Custa mais a descrever do que a fazer.

Rotina

O melhor mesmo é habituarmo-nos a fechar as portas de correr enquanto estamos de pé junto às crianças, não vá alguma delas meter a mão no espaço entre a porta e a chapa lateral do carro. Com o motor eléctrico, há várias maneiras de o fazer: usando o comando remoto, dando um toque no puxador ou carregando no botão interior. Esta última opção parece ser a mais prática, mas fornece uma pista clara aos gnomozinhos maléficos que viajam lá atrás - quando menos esperamos, a porta abre-se porque o(a) menino(a) já sabe onde carregar. Para evitar estes sustos, há um botão de segurança na porta do condutor que desactiva os comandos do trinco e dos vidros. Use-o.

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1968cc
Potência: 140cv às 4200 rpm
Binário: 320 Nm entre as 1750 e as 2500 rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 16
Alimentação: Injecção directa diesel por conduta comum, turbo de geometria variável
Tracção: Dianteira
Caixa: Manual de 6 velocidades
Suspensão: Independente, tipo McPherson, à frente, independente, com paralelogramo deformável atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, assistida
Travões: Discos ventilados à frente e atrás

Dimensões

Comprimento: 485,4c m
Largura: 190,4 cm
Altura: 172,0 cm
Peso: 1774 kg
Pneus: 225/50 R17
Capac. depósito: 70 litros
Capac. mala: 300 litros (sete lugares); 809 litros (cinco lugares)

Prestações*

Velocidade máxima: 194 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 10,9s
Consumo misto: 5,5 litros/100 km
Emissões CO2: 146 g/km

* Dados do construtor

Preço: 39.354 euros (versão ensaiada: 40.777 euros)

EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim (atrás em Opção: 194 euros)
Airbags cortina: Sim
Airbag joelhos condutor: Sim
Controlo de tracção: Sim
Controlo de estabilidade: Sim
Assistência ao arranque em subidas. Sim
Cruise-control: Sim
Controlo adaptativo de chassis: Opção (892 euros)

Vida a bordo

Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Controlo de pressão dos pneus: Sim
Sistema de ajuda ao estacionamento: Opção (229 euros; com câmara atrás, 567 euros)
Retrovisores eléctricos: Sim
Ar condicionado: Sim (automático de duas vias)
Bancos dianteiros com regulação eléctrica: Opção (819 euros)
Estofos em pele: Opção (2620 euros)
Cadeira de criança integrada na segunda fila: Opção (217 euros)
Abertura depósito interior: Não
Abertura mala do interior: Não
Bancos traseiros rebatíveis: Sim (e terceira fila)
Jantes especiais: Sim
Rádio: Sim (com CD)
Sistema de navegação: Opção (entre 776 e 1728 euros)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável: Sim
Travão de mão eléctrico: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Opção (337 euros)
Tecto de abrir panorâmico: Opção (1104 euros)
Sensores de chuva: Sim
Sensores de luminosidade: Sim
Faróis de xénon: Opção (1175 euros)

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