A primeira, e óbvia, diferença do novo Volkswagen Sharan para a geração inicial do modelo é a adopção do cada vez mais popular conceito das portas traseiras deslizantes. Combinadas com uma silhueta elegante, que fica a léguas do perfil quase-furgão de outros tempos, elas dão ao VW Sharan um toque de modernidade de que o monovolume produzido na fábrica de Palmela estava desesperadamente a precisar. Foram 15 anos a ver a concorrência evoluir. Tempo demais.
Foi tanto tempo que esta nova geração apresenta-se como um modelo totalmente novo. Bom, não totalmente: as palas para o sol são iguais; tudo o resto é diferente. Em década e meia, os monovolumes transformaram-se em veículos de elevados padrões tecnológicos e dinâmicos, enobreceram-se, ganharam o seu espaço e uma dignidade que os leva muito para além da lógica "só comprei isto porque tinha mesmo de ser..."
E é por isso que o desafio da Volkswagen se mostrava exigente: o Sharan tinha de se mostrar ao nível do que a concorrência foi conseguindo fazer e, em nome do prestígio da marca, mostrar-se uma referência do segmento. Era um desafio complicado e, certamente, não seria difícil ao construtor alemão enfrentá-lo com sucesso se não vivêssemos tempos de crise e o controlo de custos não fosse um parâmetro nuclear na concepção de um modelo.
Ou seja, as soluções tecnológicas existentes na marca seriam mais do que suficientes para acumular argumentos poderosos e transformar o Sharan num monovolume exemplar. Mas, num mercado cada vez mais competitivo, deixar deslizar os preços de venda ao público para valores muito elevados seria fatal. E foi nesse equilíbrio que a VW jogou. E, reconheça-se, jogou com alguma mestria.
O Sharan é, antes de mais, muito bom em termos dinâmicos. Suspensão confortável e eficaz, direcção comunicativa, travões bons, caixa um bocadinho lenta mas bem escalonada, motor potente e disponível, segurança passiva e activa de bom nível. Tudo isto proporciona comportamentos em estrada acima de qualquer suspeita e boa atmosfera a bordo. Pena que a insonorização não se mostre à altura dos pergaminhos da marca.
Pegando nesse sinal de (aparente) poupança, partimos à descoberta dos pormenores que nos deixam uma sensação de insatisfação. E começamos logo pelo visual interior: os materiais não merecem reparos, mas um ocasional ruído parasita numa das portas deslizantes pode ser um mau sinal... Adiante. O que chateia realmente é a sensação monocórdica de que não há um rasgo de criatividade no desenho do tablier. Tudo prático, é verdade, mas sem chama.
Outros pormenores irritantes são a inexistência de pneu suplente, neste caso "substituído" por um sistema "runflat" que - e há que gritá-lo pela enésima vez... - não nos coloca a salvo de um rasgão; e ainda a colocação de alguns itens de equipamento numa lista de opções que inclui, entre outros, o sistema de ajuda ao estacionamento, absolutamente indispensável, para os padrões actuais, num carro deste tamanho. Compreende-se que a câmara traseira e, principalmente, o sistema "Park Assist" (que estaciona o carro sozinho) sejam pagos à parte, mas os sensores, caramba...
Por outro lado, para quem não seja dado a grandes devaneios estéticos, este carro é um portento de funcionalidade. A adopção de portas laterais deslizantes potencia o acesso aos (eficientes) bancos da terceira fila, que se podem arrumar no fundo da bagageira - esta, por seu turno, graças à ausência de pneu suplente ("et voilá!"), mostra-se bastante simpática mesmo na configuração de sete lugares.
Este é um devorador de quilómetros que não se sente bem em espaços apertados, onde a sua capacidade de manobra se mostra pouco interessante. Ainda assim, os consumos são controlados - mesmo no pára-arranca do tráfego citadino -, situação em que o motor se desliga em ponto-morto, um dos sinais mais visíveis da adopção da filosofia Bluemotion, uma característica comum a toda a gama.
Resta, portanto, olhar para os preços. Não sendo a VW uma campeã da parcimónia neste campo, haverá motivos para recear? A resposta é, notavelmente, não. Se exceptuarmos o Mitsubishi Grandis (que começa nos 36.370 euros e acaba aos 39.000), o Sharan (entre os 37.000 e os 42.800) alinha os seus preços pelos da concorrência nas motorizações dois litros diesel. Resta fazer depois as contas ao equipamento que se paga à parte.