Fugas - motores

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O MX-5 sabe esquiar, os portugueses nem por isso

Nas mãos tinha um dos roadster's mais vendidos do mundo. O MX-5 2.0 de 160cv dava todas as garantias, mas os problemas apareceram quando a máquina começou a mexer-se. Antes de entrar na pista, havia uma centena de metros para percorrer com limite máximo de 30 km/h. Mesmo aí percebi que estava metido num grande "31". Terminada a zona com "limite de velocidade", com uma pequena recta pela frente, foi tempo de carregar no acelerador.

O que se seguiu? Três voltas à pista, cerca de 20 minutos de condução e algo indescritível. Com a adrenalina no máximo e sempre em "segunda" ou "terceira", segurar o carro numa recta era tarefa árdua, pior ainda era sobreviver às 43 curvas. Mesmo sem fazer nada por isso, a condução em drift era constante e o tempo para respirar nulo. Quando regressei às boxes, a primeira vitória estava conseguida: nenhuma saída de pista.

Da parte da tarde, a história já era a "doer". Mal recomposto da aventura matinal, regressei ao MX-5 e agora os tempos contavam para a qualificação. A minha táctica, no entanto, manteve-se. Quando alguém entra de patins pela primeira vez numa pista de gelo o que tenta fazer? Manter-se de pé, obviamente. Eu ia tentar fazer o mesmo, o que nesta caso significava aguentar o MX-5 dentro da pista.

É que cada incursão na parte de fora resultava, inevitavelmente, em carro preso e necessidade de ajuda das pick up para nos desenterrar da neve. E isso podia significar mais de cinco minutos de espera. Como apenas o melhor tempo da equipa contava, o objectivo era não perder tempo desnecessário e deixar os "especialistas" colocarem-nos no melhor lugar possível. E o que conseguimos? Deixar dois carros atrás de nós. A nossa corrida ia começar numa pouca animadora 18.ª posição.

A táctica para a corrida foi cozinhada ao jantar. Contra australianos especialistas em dirt racing's (corridas nas ovais enlameadas em que os carros andam sempre de lado), russos que fizeram provas de selecção para escolher os pilotos, nórdicos habituados a ambientes gelados e ex-pilotos consagrados, o que podíamos fazer? Deixar os outros espalharem-se, provar que os portugueses sabem fazer condução segura e subir na classificação à custa de erros alheios. A estratégia foi aprovada por unanimidade.

É quarta-feira, pouco passa das 10 horas e ouve-se o roncar dos motores. A primeira das duas corridas vai começar e pouco falta para nós provarmos que "condução" e "defensiva" são duas palavras que não combinam no léxico português. Pouco antes de terminarem as duas horas da corrida matinal, já tínhamos transformado o MX-5 na atracção do dia, ao converter o roadster da Mazda em algo parecido com um buggy e obrigamos os mecânicos a horas extras para mudar o radiador, que não aguentou o nosso ritmo. À tarde, apesar do grande atraso que resultou da visita matinal ao mecânico, as coisas saíram francamente melhor e nos últimos minutos, após uma recuperação impulsionada pelo orgulho, conseguimos provar que os últimos nunca são os primeiros. Um carro ficou atrás de nós.

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