Fugas - motores

O diesel fica-lhe tão bem

Por Aníbal Rodrigues

Será, com certeza, mais apreciado por administradores de empresas de topo, mas, como concluiu Aníbal Rodrigues, o Jaguar XJ 3.0 D tem argumentos para agradar a um leque vasto de condutores.

A verdadeira hecatombe sofrida pela, outrora florescente, indústria automóvel britânica fez temer pela perda de pedigree das suas marcas mais aristocráticas. Mas, talvez devido à aprendizagem proporcionada por lições do passado, não é isso que se verifica. Os alemães souberam continuar a linhagem de Bentley (Volkswagen) e Rolls-Royce (BMW) e os indianos do grupo Tata também estão a dar provas de respeito pelos pergaminhos da Jaguar, cujo modelo E-Type, por exemplo -considerado por muitos o automóvel mais belo de todos os tempos -, está a comemorar meio século de existência. Já a anterior proprietária da Jaguar, a Ford, não foi tão escrupulosa e caiu na tentação de lançar o X-Type baseado no seu Mondeo, opção que lhe valeu muitas críticas... Olhando para a estética deste XJ não é fácil definir o seu grau de beleza, tal o arrojo das suas linhas, num segmento habitualmente mais conservador. Visto de um ângulo positivo, isto poderá deverse a algum avanço das suas formas face à época em que vivemos e, se o modelo envelhecer de forma saudável, como é expectável, o futuro poderá muito bem decretar que este XJ se tornará num clássico. Parece também evidente que o actual XJ tem mais condições para suscitar a cobiça de coleccionadores do que o seu antecessor, com um visual que nitidamente acusava o peso dos anos.

A sensação de clássico potencial estende-se ao interior do XJ. Aqui os sentidos tocam, vêem e sentem pele, madeira, cromados e lacado tipo piano. É preciso alguma pesquisa para encontrar plástico. A sensação de conforto, mesmo com o carro parado, faz pensar noutras épocas e em grandes viagens. O XJ também não é um exemplo de domínio das mais recentes tecnologias como o são os seus rivais mais directos -Audi A8, BMW série 7 ou Mercedes classe S.

Mas, para além de dispor do equipamento que se impõe neste patamar, o XJ apresenta uma solução tecnológica inovadora e que poderá até indicar o futuro da generalidade dos automóveis -um painel de instrumentos digital. Uma ideia que se saúda, mas que resultaria bem melhor se o velocímetro, conta-rotações e indicadores de combustível e temperatura fossem mais parecidos com os analógicos. Não o sendo e apresentando, como apresentam, um grafi smo pouco evoluído, combinam mal num habitáculo em que predominam classicismo e requinte.

O XJ recebe os privilegiados que podem aceder ao seu interior com distinção, mas quem for sentado no lugar central traseiro sente menos conforto do que os passageiros refastelados a seu lado. O condutor também experimenta alguma dificuldade em ver quem lhe segue atrás devido à inclinação muito pronunciada do vidro traseiro.

Ainda dentro de uma certa tradição "temperamental" associada a um Jaguar, bastava carregar num botão para que a unidade cedida à Fugas abrisse automaticamente a tampa da bagageira. O pior era quando se premia o outro botão, de fecho. A mala simplesmente não fechava...

Este XJ está animado pelo motor turbodiesel 3.0 V6 já conhecido das gamas Land Rover Discovery e Range Rover Sport, embora nesses casos com menos potência (a Land Rover é também detida pela Tata). Trata-se de um propulsor que substitui o anterior 2.7 V6 de 204cv e que resulta dos acordos celebrados entre a PSA Peugeot Citroën e a Ford para o fabrico de engenhos a diesel, em que os primeiros produzem os de menor cilindrada e os segundos os de maior capacidade. É o mesmo 3.0 V6 que equipa, por exemplo, os Citroën C5 e C6 e o Peugeot 407 Coupé, embora, nesses casos, com menos potência e binário.

Origens à parte, a boa notícia é que este três litros, com 275cv de potência e 600 Nm de binário, é digno de um Jaguar. Possante, suave e rápido, não hesita em pôr em sentido desportivos bem mais leves... Ainda por cima, é servido por uma competente e despachada caixa automática de seis velocidades com possibilidade de accionamento sequencial através de patilhas no volante.

Mesmo com uma carroçaria de grandes dimensões, o XJ comportase sempre a altura, seja qual for a velocidade imprimida ou as curvas da estrada, e sem beliscar o conforto. Já a direcção melhoraria se fosse mais "informativa", mas isso também não chega a ser problemático.

E, se tudo o que atrás ficou dito já é muito, o XJ ainda tem mais um belo argumento, provavelmente pouco relevante para quem compra um carro destes, mas significativo nestes tempos de austeridade. Em ritmo de passeio, o XJ é capaz de consumos na casa dos seis (!) litros e, mesmo numa utilização normal, podem esperar-se resultados a rondar nove litros, o que continua a ser assinalável num carro com esta potência e que atinge (mesmo) uma velocidade máxima de 250 km/h, limitada electronicamente.

Os 109.389 euros que este Jaguar custa são muito dinheiro. Mas, depois de o conduzir, qualquer um é capaz de ficar a pensar que, daqui a alguns anos, quando um destes XJ valer muito menos como usado, continuará a ser uma bela compra...

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