A verdadeira hecatombe sofrida pela, outrora florescente, indústria automóvel britânica fez temer pela perda de pedigree das suas marcas mais aristocráticas. Mas, talvez devido à aprendizagem proporcionada por lições do passado, não é isso que se verifica. Os alemães souberam continuar a linhagem de Bentley (Volkswagen) e Rolls-Royce (BMW) e os indianos do grupo Tata também estão a dar provas de respeito pelos pergaminhos da Jaguar, cujo modelo E-Type, por exemplo -considerado por muitos o automóvel mais belo de todos os tempos -, está a comemorar meio século de existência. Já a anterior proprietária da Jaguar, a Ford, não foi tão escrupulosa e caiu na tentação de lançar o X-Type baseado no seu Mondeo, opção que lhe valeu muitas críticas... Olhando para a estética deste XJ não é fácil definir o seu grau de beleza, tal o arrojo das suas linhas, num segmento habitualmente mais conservador. Visto de um ângulo positivo, isto poderá deverse a algum avanço das suas formas face à época em que vivemos e, se o modelo envelhecer de forma saudável, como é expectável, o futuro poderá muito bem decretar que este XJ se tornará num clássico. Parece também evidente que o actual XJ tem mais condições para suscitar a cobiça de coleccionadores do que o seu antecessor, com um visual que nitidamente acusava o peso dos anos.
A sensação de clássico potencial estende-se ao interior do XJ. Aqui os sentidos tocam, vêem e sentem pele, madeira, cromados e lacado tipo piano. É preciso alguma pesquisa para encontrar plástico. A sensação de conforto, mesmo com o carro parado, faz pensar noutras épocas e em grandes viagens. O XJ também não é um exemplo de domínio das mais recentes tecnologias como o são os seus rivais mais directos -Audi A8, BMW série 7 ou Mercedes classe S.
Mas, para além de dispor do equipamento que se impõe neste patamar, o XJ apresenta uma solução tecnológica inovadora e que poderá até indicar o futuro da generalidade dos automóveis -um painel de instrumentos digital. Uma ideia que se saúda, mas que resultaria bem melhor se o velocímetro, conta-rotações e indicadores de combustível e temperatura fossem mais parecidos com os analógicos. Não o sendo e apresentando, como apresentam, um grafi smo pouco evoluído, combinam mal num habitáculo em que predominam classicismo e requinte.
O XJ recebe os privilegiados que podem aceder ao seu interior com distinção, mas quem for sentado no lugar central traseiro sente menos conforto do que os passageiros refastelados a seu lado. O condutor também experimenta alguma dificuldade em ver quem lhe segue atrás devido à inclinação muito pronunciada do vidro traseiro.
Ainda dentro de uma certa tradição "temperamental" associada a um Jaguar, bastava carregar num botão para que a unidade cedida à Fugas abrisse automaticamente a tampa da bagageira. O pior era quando se premia o outro botão, de fecho. A mala simplesmente não fechava...
Este XJ está animado pelo motor turbodiesel 3.0 V6 já conhecido das gamas Land Rover Discovery e Range Rover Sport, embora nesses casos com menos potência (a Land Rover é também detida pela Tata). Trata-se de um propulsor que substitui o anterior 2.7 V6 de 204cv e que resulta dos acordos celebrados entre a PSA Peugeot Citroën e a Ford para o fabrico de engenhos a diesel, em que os primeiros produzem os de menor cilindrada e os segundos os de maior capacidade. É o mesmo 3.0 V6 que equipa, por exemplo, os Citroën C5 e C6 e o Peugeot 407 Coupé, embora, nesses casos, com menos potência e binário.