Assim que se entra no habitáculo percebe-se que pouco foi deixado ao acaso: a começar pela textura suave do volante e prosseguindo por todo o veículo. Está tudo a um toque de distância e é fácil descortinar as suas várias funcionalidades. Ajeita-se o banco, afinam-se retrovisores, acerta-se o volante. Tudo sem se sair um centímetro do mesmo sítio. E, assim que se engata a marcha atrás, fica-se a conhecer uma das mais-valias desta nova geração: uma câmara traseira, incluída de série no nível de equipamento Sport.
É, de facto, complicado descortinar o que se passa lá atrás, com o vidro cortado a meio pelo aileron. Mas tirar este aspecto do Civic era como que lhe cortar meia alma. O redesenho da traseira conferiu-lhe também um efeito mais sofisticado. Já a sua frente ganhou em agressividade e na grelha cromada que assume um lugar de destaque - e que, no diesel 2.2, fecha a partir dos 40 km/h, contribuindo para melhorar a aerodinâmica.
Com tudo a postos, o arranque é suave e, embora os 100cv, que o bloco 1.4 a gasolina que conduzimos debita, não se sintam numa primeira abordagem (até porque, para se revelarem na sua totalidade, precisam de 6000 rotações), é notório que apelam para que lhes soltem as rédeas antes de revelarem as prestações de que serão capazes.
Acabamos, porém, por refreá-los ainda mais ao optar pelo modo ecológico - basta pressionar um pequeno botão para que a resposta do carro se altere e passe a reagir com vista a reduzir emissões e consumos. E é verdade que o consumo médio vê-se a diminuir (e, com o custo da gasolina actualmente a posicionar-se perto de 1,80€ por litro, esta não é uma característica a desconsiderar), mas também as prestações se tornam pouco atraentes: nos semáforos não se solta e em subidas acentuadas vai ficando para trás, pedindo uma mudança abaixo... e outra.
Uma função, portanto, a evitar em estrada, particularmente se há ultrapassagens rápidas a efectuar. Mas é aqui que o carro mostra outra qualidade: a precisão da direcção em curva somada à estabilidade, à qual não será indiferente o facto de o Civic estar ligeiramente mais baixo e largo (já em comprimento cresceu 4,5cm), proporcionando momentos agradáveis de condução apenas um pouco manchados pelo ângulo morto criado pelo desenho do pilar A, o que se verifica em curvas para a esquerda.
Em auto-estrada, porém, a conversa muda de figura: seja em modo ecológico ou não, assim que se sentem embalados, os 100cv desatam a galopar sem que os consumos disparem por aí além - o que é fácil de controlar nas cores que se vão desenhando no sobrepainel em linha com a visão: verde, em baixo consumo; azul claro, em consumos mais elevados; azul escuro, em números absurdos. Ao lado, um ecrã onde se podem ir lendo todas as informações relevantes sobre o funcionamento automóvel, assim como visualizar a traseira através da câmara. O painel, com mostradores redondos debruados a cromado, é reservado para o conta-rotações em grande destaque, ladeado pelos controladores de temperatura e combustível que, em conjunto com uma consola central mais focada no info-entretenimento, confere um ambiente de sobriedade a todo o interior. Já por todo o habitáculo não falta arrumação: do porta-luvas a compartimentos mais discretos, este Civic oferece buraquinhos onde enfiar tudo e mais alguma coisa.
Somando todas as suas características, o Civic 1.4 a gasolina será mais apetecível ao mercado luso do que o 1.8 a gasolina ou o 2.2 diesel. Mas é muito provável que o lugar de preferido seja relegado para segundo plano em 2013, quando a Honda der o salto com o aguardado bloco 1.6 diesel, com 120cv e emissões abaixo dos 100 g/km. Aguardemos.
Pouco intuitiva
Com a marcha atrás posicionada mesmo ao lado da 6.ª velocidade e sem nenhum truque para a engatar, a caixa revela-se pouco intuitiva, obrigando a uma redobrada atenção de cada vez que se pretenda passar de uma 5.ª para uma 6.ª. Já para não se deixar cair as rotações entre as passagens de caixa é necessário "puxar" pela mudança anterior, prejudicando a média de consumos sobretudo em circuito urbano, subindo além dos 6,7 litros anunciados.
Espaçoso
Com o truque de um cadafalso e sacrificando o pneu suplente, a Honda aumentou a bagageira em 70 litros, permitindo uma surpreendente capacidade de arrumação: quase que se fez as compras do mês sem que se tivesse de mexer nos bancos traseiros, que voltam a apresentar características "mágicas": dobram-se, reviram-se, sobem e baixam para que se consiga transportar quase tudo. Na posição original, foram trabalhados no sentido de dar mais espaço aos passageiros: dois viajam à larga; três não se atropelam; os mais altos sentem a proximidade do tecto.
Ecológico
Basta pressionar um pequeno botão para todo o funcionamento do carro se transformar. O controlo de injecção de combustível é accionado, o sistema de reinício automático torna-se mais sensível e até o ar condicionado se ajusta aos parâmetros desejáveis. Como resultado, o consumo baixa e as emissões são reduzidas. É certo que as performances acusam um certo desagrado, mas, justifica a marca, "não se pode ter tudo".
O corte do aileron
É um clássico do Civic e este não podia simplesmente desprezar um dos seus símbolos. Mesmo tendo em conta as reacções de desagrado em relação à falta de visibilidade traseira na última geração. Vai daí, a marca não só reviu o desenho do painel, como disponibilizou uma câmara traseira como apoio ao estacionamento (de série neste nível de equipamento Sport).
HONDA CIVIC 1.4 i-VTEC SPORT
Mecânica
Cilindrada: 1339cc
Potência: 100cv às 6000 rpm
Binário: 127 Nm às 4800 rpm
Cilindros: 4
Alimentação: injecção electrónica multiponto PGM-FI
Tracção: dianteira
Caixa: manual de 6 velocidades
Suspensão: Tipo McPherson, à frente; barra de torção, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Travões: Discos ventilados à frente, discos sólidos atrás
Dimensões
Comprimento: 430 cm
Largura: 177 cm
Altura: 147 cm
Peso: 1185 - 1272 kg
Pneus: 225/45 R17
Capac. depósito: 50 litros
Capac. mala: 477 litros
Prestações*
Velocidade máxima: 187 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 14s
Consumo misto: 5,5 litros/100 km
Emissões CO2: 131 g/km
* Dados do construtor
Preço
22.500€ (com pintura metalizada e despesas)
EQUIPAMENTO
Segurança
ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim
Airbags de cortina: Sim
Controlo de velocidade cruzeiro: Sim
Controlo de estabilidade: Sim
Ajuda ao arranque em subida: Sim
Vida a bordo
Arranque sem chave: Não (disponível em equipamento Executive)
Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim
Ar condicionado: Sim
Rádio CD: Sim (com MP3)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Sim
Bancos dianteiros eléctricos: Sim
Bancos dianteiros aquecidos: Não
Estofos em pele: Não
Pedais em alumínio: Sim
Punho da alavanca de velocidades em pele: Sim
Navegação por GPS: Opção
Regulador de velocidade: Sim
Sensores de chuva: Sim
Sensores de luminosidade: Sim
Sensores de estacionamento: Não
Faróis de halogéneo: Sim