Fugas - motores

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Os "suecos" invadem o quintal alemão

Por Luís Francisco

<p> Ambição não lhe falta: o novo compacto da Volvo quer discutir a supremacia do Golf nos pequenos familiares e assumir a luta no exigente segmento premium. Apesar de os argumentos económicos do V40 deixarem algo a desejar, os alemães bem podem ficar atentos.</p>

O que esperar de um carro de inspiração sueca, herdeiro de tecnologia norte-americana, feito por uma empresa chinesa e com um alemão ao leme? Parece uma combinação estranha, mas são estes os caminhos que a indústria automóvel vai trilhando... E, diga-se já, descansem os mais receosos: o novo Volvo V40 é um bom produto, que desafia a concorrência alemã no segmento dos pequenos familiares. Recebido de forma entusiástica por alguma crítica, parece, no entanto, sofrer de um problema de carácter: as suas virtudes são discretas, os problemas ostensivos.

São bem menos, os problemas, claro. Mas parecem saltar à vista logo num contacto inicial. Ou isso ou estamos mal habituados e, ao entrarmos num Volvo, temos tendência para dar uma série de coisas como garantidas. Será injusto, talvez. É fácil constatar que o carro não é particularmente espaçoso por dentro (a denominação não tem nada a ver com o V40 anterior, que era a versão "break" do S40 - e até aqui a Volvo poderia ter sido um bocadinho mais criativa...). Não podemos, no entanto, esquecer-nos que alguns dos concorrentes também não brilham nesse particular.

Também se tornam evidentes com o passar dos quilómetros algumas limitações dinâmicas - todo o conjunto parece destinado a proporcionar viagens suaves e seguras; a tentação de "puxar" pelo carro devolve alguma falta de acutilância. Nota-se na direcção (pouco comunicativa), intui-se nos travões, confirma-se na caixa (complicativa nas reduções), percebe-se no deslizamento do eixo traseiro (algo que pode ser divertido, mas quando há potência para controlar estas situações). O motor desta versão é apenas um 1.6 turbodiesel de 115cv. Estamos, portanto, na base da gama e será de esperar que tentações desportivas obtenham outra resposta com os propulsores diesel de 150cv (D3) e 177cv (D4) e o gasolina de 179cv (T4).

O que se espera de um carro destes? Que seja confortável, económico, fiável. E, sobre isso, não restam dúvidas - o V40 é bastante confortável, muito económico e não há qualquer razão para se duvidar da solidez da sua mecânica. A todos estes argumentos (que, em boa verdade, também se poderiam aplicar a modelos bem menos ambiciosos em termos de mercado e a léguas do pedigree da Volvo...) tem de se juntar um visual exterior muito bem conseguido, a qualidade superior dos materiais, uma insonorização excelente e níveis de equipamento bem interessantes, incluindo itens de segurança inéditos nesta classe.

Só que aqui começamos a caminhar perigosamente para outro ponto fraco do modelo: o preço. Os 30.000 € que custa a versão Momentum (o nível médio de equipamento) saem ainda inflacionados com alguns extras montados na viatura de teste - incluindo alguns que são incontornáveis para continuarmos a manter o veredicto do parágrafo anterior. Ou seja, há que contar, pelo menos, com os packs Driver Support (alerta de objecto em ângulo morto, alerta para o condutor, alerta de colisão com função de travagem) e Style (painel de instrumentos digital, sensores traseiros de parqueamento, câmara traseira de parqueamento, manete de velocidades iluminada). São 1310€, mais IVA.

Estamos, portanto, bem acima da barreira dos 30.000€. Para um carro que pretende competir com os modelos premium, o cenário já não é famoso - o Audi A3 Sportback (em vias de ser substituído) correspondente passa dos 32.500€; o BMW 116d anda pouco acima dos 31.000 e a Mercedes promete que o mais acessível dos seus novos classe A (180 CDI, de 115cv) estará disponível por menos de 30.000€, a mesma promessa que a Volvo faz...

É claro que o equipamento pode fazer toda a diferença, mas estamos a falar de marcas com pergaminhos assentes; quem pretende discutir o pódio deveria procurar outro tipo de argumentos monetários... Tanto mais que, daí para baixo, a concorrência aparece a léguas. A mítica referência do segmento, o VW Golf (e a Volkswagen está longe de primar pela simpatia dos preços) custa, na versão 1.6 TDI 105cv Confortline, 26.790€.

Em suma, voltando à questão inicial. Como analisar um carro de raiz sueca, com motor PSA/Ford herdado dos tempos em que as duas marcas estavam juntas, de um construtor europeu agora gerido por chineses e com as rédeas do projecto nas mãos de um alemão oriundo da VW? Pode depender de quem olha, mas, visto de perto, o copo está bem mais do que meio cheio. Tradição, mecânica comprovada, solidez financeira, pensamento estratégico. A Volvo deu um passo importante para entrar no quintal dos alemães.


Barómetro
+ Qualidade geral, economia, conforto, visual, equipamento, segurança
Preço, habitabilidade, falta de temperamento desportivo, nome do modelo susceptível de gerar confusões, extras pagos à parte


Referência
Não podem restar dúvidas: em breve, todos os carros serão assim. A aposta clara da Volvo em sistemas de segurança como factor diferenciador da concorrência não é apenas discurso de marketing. Graças à câmara e aos sensores colocados no pára-brisas (e outros noutras zonas), este carro trava sozinho se detectar um volume na estrada, avisa o condutor se se aproximar demais do carro em frente, comunica a presença de objectos em ângulo morto, sinaliza a mudança de faixa se não se fizer pisca. Pode até tornar-se um bocado cansativo (basta desligar alguns sistemas), mas o pior, mesmo, é ter de pagar quase tudo isto à parte.

Salva-vidas
E, continuando na área da segurança, nunca será demais destacar a presença de um airbag para peões. Colocado abaixo do capot, cobre o vidro dianteiro em caso de atropelamento, o que contribuirá para amparar o impacto do peão no carro - apesar de o primeiro contacto ser susceptível de lesionar as pernas, é a colisão do tronco e da cabeça com o veículo, num segundo momento, que ceifa mais vidas. É um item de segurança que se estreia neste segmento e - melhor ainda - vem de série.

Complicado
Haveria muito para dizer acerca das cotas de habitabilidade do V40 - e quase todas elas pouco agradáveis. O espaço envolvente dos passageiros pode tornar-se complicativo ou claustrofóbico. No primeiro caso, temos a entrada para os bancos traseiros, dificultada pelo reduzido ângulo de abertura das portas, pelas dimensões discretas da abertura e pelo próprio desenho do carro. Para ilustrar a segunda limitação, recorde-se a profundidade dos bancos traseiros e a altura a que ficam os vidros (crianças pequenas, mesmo na cadeira, terão dificuldade em olhar pela janela). A bagageira também não deslumbra e lamenta-se que o pneu suplente que encontramos por baixo seja pago à parte (50€, mais IVA).

Melhorável
Depois de carregar na embraiagem para accionar o botão de arranque, não vale a pena aproveitar para engatar a primeira antes de baixar o travão de mão. O mais certo é enredar-se numa manobra complicada. Com o hábito, isto deixa de se tornar um problema por aí além, mas mostra bem como, em alguns aspectos, o V40 parece um bocado "atulhado"... A instrumentação, com algumas novidades bem interessantes no quadro principal, nem sempre se mostra muito prática. E o painel central tem demasiados botões. Quanto à visibilidade, complica-se bastante para trás e a três-quartos.


FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1560cc
Potência: 115cv às 3600 rpm
Binário: 270 Nm entre as 1750 e as 2500 rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 16
Alimentação: Turbodiesel de injecção directa por conduta comum, turbo de geometria variável
Tracção: Dianteira
Caixa: Manual, de 6 velocidades
Suspensão: Tipo McPherson, à frente; triângulos sobrepostos, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Travões: Discos ventilados à frente, discos atrás

Dimensões

Comprimento: 436,9 cm
Largura: 204,1 cm
Altura: 144,5 cm
Peso: 1300 kg
Pneus: 205/55 R16
Capac. depósito: 52 litros
Capac. mala: 335 litros

Prestações*

Velocidade máxima: 190 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 12,3s
Consumo misto: 3,6 litros/100 km
Emissões CO2: 94 g/km

Preço: 29.936€ (viatura ensaiada: 34.810€)

* Dados do construtor


EQUIPAMENTO

Segurança
ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim
Airbags cortina: Sim (à frente e atrás)
Airbags laterais atrás: Não
Airbag para peões: Sim
Controlo de tracção: Sim
Controlo de estabilidade: Sim
Controlo de velocidade: Sim
Limitador de velocidade: Sim
Sistema Start/Stop: Sim
Indicador pressão dos pneus: Não
Sistema de detecção de obstáculos na via: Sim (com travagem automática)
Sistema de detecção de peões na via: Opção (Pack Driver Support, com aviso de cansaço, sinal de transposição de faixa, detector de veículos no ângulo morto e travagem automática: 850€, mais IVA)

Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Arranque sem chave: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim (retrácteis e aquecidos)
Ar condicionado: Sim (automático de duas zonas)
Abertura depósito interior: Não
Abertura mala do interior: Sim
Banco do condutor eléctrico: Opção (com memória: 585€, mais IVA)
Banco do passageiro eléctrico: Opção (315€, mais IVA)
Bancos traseiros rebatíveis: Sim
Bancos aquecidos: Opção (à frente: 260€, mais IVA; atrás: 180€, mais IVA)
Estofos em pele: Opção (1055€, mais IVA)
Jantes especiais: Sim
Rádio: Sim (com CD e MP3)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável: Sim (em altura e profundidade)
Computador de bordo: Sim
Sistema de navegação: Opção (950€, mais IVA)
Alarme: Opção (490€, mais IVA)
Tecto panorâmico: Opção (950€, mais IVA)
Sensores de chuva: Sim
Sensores de luminosidade: Sim
Sensores de estacionamento: Opção (atrás: 300€, mais IVA)
Painel de instrumentos digital: Opção (com ecrã de 8 polegadas: 380€, mais IVA)
Câmara traseira de estacionamento: Opção (375€, mais IVA)
TV: Não
Faróis de xénon: Opção (730€, mais IVA)

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