O que esperar de um carro de inspiração sueca, herdeiro de tecnologia norte-americana, feito por uma empresa chinesa e com um alemão ao leme? Parece uma combinação estranha, mas são estes os caminhos que a indústria automóvel vai trilhando... E, diga-se já, descansem os mais receosos: o novo Volvo V40 é um bom produto, que desafia a concorrência alemã no segmento dos pequenos familiares. Recebido de forma entusiástica por alguma crítica, parece, no entanto, sofrer de um problema de carácter: as suas virtudes são discretas, os problemas ostensivos.
São bem menos, os problemas, claro. Mas parecem saltar à vista logo num contacto inicial. Ou isso ou estamos mal habituados e, ao entrarmos num Volvo, temos tendência para dar uma série de coisas como garantidas. Será injusto, talvez. É fácil constatar que o carro não é particularmente espaçoso por dentro (a denominação não tem nada a ver com o V40 anterior, que era a versão "break" do S40 - e até aqui a Volvo poderia ter sido um bocadinho mais criativa...). Não podemos, no entanto, esquecer-nos que alguns dos concorrentes também não brilham nesse particular.
Também se tornam evidentes com o passar dos quilómetros algumas limitações dinâmicas - todo o conjunto parece destinado a proporcionar viagens suaves e seguras; a tentação de "puxar" pelo carro devolve alguma falta de acutilância. Nota-se na direcção (pouco comunicativa), intui-se nos travões, confirma-se na caixa (complicativa nas reduções), percebe-se no deslizamento do eixo traseiro (algo que pode ser divertido, mas quando há potência para controlar estas situações). O motor desta versão é apenas um 1.6 turbodiesel de 115cv. Estamos, portanto, na base da gama e será de esperar que tentações desportivas obtenham outra resposta com os propulsores diesel de 150cv (D3) e 177cv (D4) e o gasolina de 179cv (T4).
O que se espera de um carro destes? Que seja confortável, económico, fiável. E, sobre isso, não restam dúvidas - o V40 é bastante confortável, muito económico e não há qualquer razão para se duvidar da solidez da sua mecânica. A todos estes argumentos (que, em boa verdade, também se poderiam aplicar a modelos bem menos ambiciosos em termos de mercado e a léguas do pedigree da Volvo...) tem de se juntar um visual exterior muito bem conseguido, a qualidade superior dos materiais, uma insonorização excelente e níveis de equipamento bem interessantes, incluindo itens de segurança inéditos nesta classe.
Só que aqui começamos a caminhar perigosamente para outro ponto fraco do modelo: o preço. Os 30.000 € que custa a versão Momentum (o nível médio de equipamento) saem ainda inflacionados com alguns extras montados na viatura de teste - incluindo alguns que são incontornáveis para continuarmos a manter o veredicto do parágrafo anterior. Ou seja, há que contar, pelo menos, com os packs Driver Support (alerta de objecto em ângulo morto, alerta para o condutor, alerta de colisão com função de travagem) e Style (painel de instrumentos digital, sensores traseiros de parqueamento, câmara traseira de parqueamento, manete de velocidades iluminada). São 1310€, mais IVA.
Estamos, portanto, bem acima da barreira dos 30.000€. Para um carro que pretende competir com os modelos premium, o cenário já não é famoso - o Audi A3 Sportback (em vias de ser substituído) correspondente passa dos 32.500€; o BMW 116d anda pouco acima dos 31.000 e a Mercedes promete que o mais acessível dos seus novos classe A (180 CDI, de 115cv) estará disponível por menos de 30.000€, a mesma promessa que a Volvo faz...
É claro que o equipamento pode fazer toda a diferença, mas estamos a falar de marcas com pergaminhos assentes; quem pretende discutir o pódio deveria procurar outro tipo de argumentos monetários... Tanto mais que, daí para baixo, a concorrência aparece a léguas. A mítica referência do segmento, o VW Golf (e a Volkswagen está longe de primar pela simpatia dos preços) custa, na versão 1.6 TDI 105cv Confortline, 26.790€.
Em suma, voltando à questão inicial. Como analisar um carro de raiz sueca, com motor PSA/Ford herdado dos tempos em que as duas marcas estavam juntas, de um construtor europeu agora gerido por chineses e com as rédeas do projecto nas mãos de um alemão oriundo da VW? Pode depender de quem olha, mas, visto de perto, o copo está bem mais do que meio cheio. Tradição, mecânica comprovada, solidez financeira, pensamento estratégico. A Volvo deu um passo importante para entrar no quintal dos alemães.
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Os "suecos" invadem o quintal alemão