Fugas - Vinhos

Três vales, grandes vinhos

Por José Augusto Moreira

A Quinta do Vale D. Maria lançou a gama intermédia VVV Valeys, com vinhos de vinhas velhas, qualidade acima da média e preços intermédios.

Cristiano van Zeller dispensa grandes apresentações. Além do destaque que tem como produtor de vinhos de referência, integra o grupo que trouxe visibilidade internacional (e proveito) aos vinhos da região, os Douro Boys, pertence a uma família cuja actividade recua até aos inícios do século XVII, e é também uma personalidade interventiva, com atitude e opinião desassombrada quando se trata do Douro e de tudo o que gira em torno da produção de vinhos. 

Destaca-se também pela imponência da sua figura, e bem se poderia até dizer que os vinhos da sua propriedade familiar, a Quinta do Vale D. Maria, procuram de certa maneira corresponder à personalidade: afirmativos, envolventes, poderosos e sedutores e, nalguns casos, mesmo imponentes, tanto os Quinta Vale D. Maria como os CV-Curriculum Vitae têm conquistado na última década para a região algumas das mais destacadas pontuações de revistas internacionais. 

A par destes vinhos de topo é produzido o Rufo do Vale D. Maria, um vinho de entrada, mas notava-se a falta de gama intermédia. Um vinho de qualidade acima da média, mas também mais acessível em termos de preço e apto para as exigências de consumo mais quotidianas. E a novidade aí está com os Vale D. Maria VVV Valleys, tinto e branco, das colheitas de 2013 e 2014, respectivamente. 

O lançamento foi feito já em finais de Outubro e os três V correspondem aos três vales de onde são oriundas as uvas, que Cristiano acredita serem os terroirs que melhor expressam o carácter dos tintos do Douro e que há séculos a sua família conhece. Os vales do Pinhão e do Douro, onde estão as quintas do Noval e de Roriz, que até recentemente lhes pertenceram, e o vale do Torto, onde está a Quinta do Vale D. Maria. Os brancos vêem de três diferentes parcelas de vinha velha, em zonas altas da região de Murça. 

Com os V inscritos no rótulo, o produtor pretende também simbolizar as V gerações da família dedicadas ao vinho e à região, lembrando também que era o símbolo usado na adega para assinalar os vinhos de maior qualidade. 

Com preço recomendado de 22,50€ e produções pequenas (14 mil garrafas de tinto e apenas 1200 de branco), o branco mostra-se muito sedutor pela complexidade de aromas, envolvência, volume de boca, frescura mineral e um toque salino, enquanto o tinto atrai pela evidência viçosa de fruta, toque mineral, tanino elegante e saboroso típico das vinhas velhas. 

E é precisamente nas vinhas velhas que Cristiano, e as enólogas que o acompanham, Joana Pinhão e a filha Francisca van Zeller, acreditam residir a principal característica diferenciadora para os vinhos durienses. Vinhas velhas com castas misturadas que permitem um amadurecimento mais equilibrado e homogéneo entre elas que confere aos vinhos maior complexidade. 

No Vale D. Maria têm 41 variedades, o que acreditam conferir aos seus vinhos o caractér único e distintivo que lhes dá identidade e valoriza. A quinta é propriedade da família desde o início do século XIX, e Cristiano ironiza com a determinação das cinco castas tradicionais estabelecida para o Douro. “Uma tradição inventada em 1982 que transforma o Douro numa banalidade. Uma uniformização de castas, técnicas e processos que torna os vinhos todos idênticos”, assinala, defendendo que “o lote faz-se na vinha” e que é preciso voltar atrás no Douro”. 

É curiosamente com um lote de cinco castas — Rufete, Sousão, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Francisca, que não são as recomendadas — que é feito o Quinta Vale D. Maria Vinha da Francisca 2013 (67,50€), um tinto muito fresco e apimentado, de taninos suaves, cativantes notas vegetais e muito elegante, que nos seduziu na prova de apresentação. 

Grande atracção também pelo CV-Curriculum Vitae Branco 2014 (65€), muito fresco, poderoso e evolvente. Ainda um tanto marcado pela madeira mas a prometer futuro esplendoroso. Na mesma linha os reconhecidos CV-Curriculum Vitae Tinto 2013 (70€) e os Quinta Vale D. Maria Tinto 2013 (43,50€), que se mostram agora numa linha de maior frescura, envolvência e elegância que os valoriza face a colheitas anteriores.

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