La Gomera é a ilha mais próxima de Tenerife e uma das mais pequenas das Canárias. Por isso, é possível fazer uma viagem de ida e volta, para a visitar num dia. Como parte da nossa busca pelo lado mais autêntico das Canárias, e atraídos pela promessa de que aí é possível descobrir a sua essência mais antiga, apanhámos um ferry no porto de Los Cristianos (Tenerife) de manhã bem cedo, chegando a San Sebastián de La Gomera uma hora depois. Para podermos explorar a ilha livremente, levámos connosco o carro alugado.
Do mar, La Gomera é uma ilha montanhosa e árida. À chegada, porém, somos recebidos com cor, já que San Sebastián, a capital, está cheia de casas de tons pastel que convidam a um passeio a pé.
Agora queremos explorar a ilha, percorrer-lhe as estradas. São íngremes e estreitas as que conduzem ao interior do território. De um lado e do outro, há montanhas rugosas e ravinas profundas, onde as distâncias são tão grandes que a população desenvolveu uma linguagem assobiada para comunicar — o silbo gomero — uma herança cultural que a UNESCO reconheceu como Património Imaterial da Humanidade em 2009.
À medida que nos aproximamos do centro da ilha, as costas do dragão ganham cada vez mais verde: primeiro são pequenos pontinhos espalhados pelas vertentes abruptas, depois manchas de árvores, donde se elevam, de vez em quando, grandes picos vulcânicos de pedra nua (roques).
Subindo de San Sebastián, pela estrada TF-713, em direcção ao Parque Nacional Garajanoy, avistam-se cinco desses guardiões rochosos, nomeadamente os roques de Agando e La Laja, num primeiro miradouro, e depois La Zarcita, Carmona e Ojila.
É no centro que fica a principal atração da ilha: o Parque Nacional Garajonay, guardião da maior e mais bem conservada floresta laurissilva das Canárias, um vestígio dos bosques primitivos que há muitos milhares de anos cobriam grande parte do sul da Europa. Declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1986, o parque está cheio de trilhos para caminhar. O nevoeiro, frequente, adensa o mistério, emprestando, por outro lado, a humidade necessária à sobrevivência deste habitat, onde uma grande parte da flora (25%) e fauna (50%) é endémica da ilha.
Ao embrenharmo-nos na vegetação exuberante, sentimos o espanto de quando éramos crianças. Inspirando o ar puro, absorvemos o cheiro da floresta milenar. Ouvimos os nossos passos sobre as folhas caídas. Tocamos nalguns troncos para sentir que são de verdade. A dado momento, não resisto mais e abraço algumas árvores com os braços bem abertos. Bem aberto foi também o sorriso com que fomos recebidos num restaurante muito próximo do Centro de Visitantes do parque, onde uma jovem nos serviu o prato confeccionado nesse dia pela sua mãe.
Ao final do dia, antes de regressarmos a Tenerife, passeámos a pé pelo centro histórico de San Sebastián de La Gomera, a capital da ilha. É uma cidade tranquila, cheia de casas de estilo canário, onde se podem encontrar algumas marcas quer da colonização espanhola no século XV, quer da importância de quando era porto intermédio entre a Europa e a América no século XVI.