A viagem começou quando dele desci numa caótica praça onde dezenas de autocarros iam e vinham e comerciantes com bancas de fruta tentavam a sua sorte. O cheiro intenso a Ásia, impossível de narrar, e uma explosão de cores e sons atingiu-me logo ali. O bafo quente que se perpetuava no ar e o barulho constante das buzinas entranharam-se em mim, os meus sentidos fervilhavam: estava pronta para ir explorar esta selva de cimento ainda na sua fase de desenvolvimento.
No templo budista de Gangaramaya, as mulheres vestidas de branco ofereciam água, flores, orações e incenso à árvore Bodhi. Dentro do caos da cidade, encontrei a paz. Olhavam para nós curiosas, sorriam-nos calorosamente e metiam conversa. Aqui, ir ao templo é um momento de lazer. É quando se encontra amigos e família, um momento para cantar e falar, para se divertir também, sem nunca, nem por um segundo, esquecer a razão de ali estar: a forte fé, que parece estar presente em todos os Sri Lankeses.
Depois de alguns dias na pequeníssima cidade de Dambulla, no centro-este da ilha, a fazer atividades mais turísticas como subir ao Sigiriya, pusemo-nos a caminho de Kandy, na província central. O mercado da cidade cultural alberga centenas de bancas recheadas de frutas coloridas e saborosas, legumes frescos, todo o tipo de especiarias e óleos, peixe e roupa. Tudo o que precisamos está aí, nessa azáfama que provoca os sentidos
Seguimos agora caminho para Ella, na clássica viagem de comboio dentro do lado mais intocado do Sri Lanka, passando por centenas de plantações de chás, aldeias rurais e crianças que se reuniam apenas para dizer olá aos passageiros que olhavam pela janela, acenando-lhes freneticamente num estado de alegria quase inconcebível para quem está a ver o comboio passar.
A caminho da selva encontrámos um pequeno templo hindu. Ali, junto ao lago, ofereciam comida à estátua de Ganesh enquanto o veneravam .A comunidade, cerca de 50 pessoas, assistia a esta celebração: homens e mulheres, velhos e crianças observavam atentamente o ritual, encantados e mergulhados na sua crença. As crianças esperavam ansiosamente a sua vez de entrar e abençoar-se no lago, sentindo um tremendo orgulho quando saíam, rindo com os restantes. No fim, ofereceram-nos comida e abençoaram-nos.
Passamos por fim os últimos dias em regiões de praia, como Hikkaduwa, onde ainda se sente o peso do abalador tsunami de 2004; e Bentota, onde dezenas de locais tomavam banho na praia ao lado, com roupa de dia a dia.
O ponto forte da viagem foi, sem sombra de dúvida, a gastronomia. A comida reflete um povo. A comida Sri Lankesa é quase toda à base de côco, tão doce, tal como os habitantes da sua ilha; misturada com um especiarias intensas e malaguetas incrivelmente picantes: são gente cheia de garra, profunda, berrante.
18 dias ao sabor do clássico arroz com caril e ao som exótico e animado que caracterizam a música singalesa, rodeados por pessoas simples que, apesar da pobreza material, desfrutam ao máximo do que a vida lhes oferece, um povo com uma cultura rica, tão marcante, com uma alma calorosa, para combinar com o clima. O Sri Lanka é, realmente, a pérola da Ásia.