Tudo foi planeado com cuidado para as nossas andanças por terras de Itália. É sempre bom ter um plano para alterar! Como o apartamento que escolhemos não fica no centro da cidade, logo ali, na estação de Santa Maria Novella, comprámos os bilhetes da ATAF que permitem usar os transportes urbanos. Vendem-se nas tabacarias e cada validação dá para noventa minutos e para todos os veículos.
Explorámos Florença andando, andando, andando… Percorremos ruas e ruelas de comércio tradicional, instalado em edifícios lindamente preservados. São constantes as marcas da presença passada de mercadores e artistas e torna-se difícil não ficar de nariz no ar ao virar de cada esquina, ao entrar em cada praça. Por lá nos vamos deparando com os génios de Botticelli, Dante, Galileu, Giotto, Leonardo da Vinci, Michelangelo… Iniciando em Santa Maria Novella, e seguindo para as praças della Sighoria e do Duomo, encontramos as famosas catedrais, o batistério, o campanário de Giotto, o Palazzo Vechio. Um mapa ajudou-nos a escolher percursos e a rentabilizar as caminhadas. Junto ao Duomo, na Galleria degli Uffizi e na Ponte Vechio envolvemo-nos na multidão de turistas, mas a sua presença não absorve a ambiência da cidade como acontece em Roma.
Do miradouro Michelangelo, na margem esquerda do Arno, temos uma fantástica vista panorâmica da cidade. É um espaço amplo, feito para mirar, rodeado de verde e jardins onde encontramos algumas esculturas de Jean Michel Folon. À chegada, vindos da porta de San Miniato, o homem de bronze convida-nos a sentar naquele banco para recuperarmos da subida e trocarmos dois dedos de conversa!... Florença é fotogénica e por isso nos demoramos a guardar imagens. A descida que escolhemos serpenteia por entre o arvoredo até ao rio. Atravessámos a ponte Santa Trinita, de onde podemos ver o lado mais belo da Ponte Vechio.
Na Via del Corso, ao balcão da Pasticceria Cucciolo, escolhemos uma fogaccia à tonna que muito bem nos soube! Encontramos facilmente lugares onde comer algo saboroso que aconchegue e dê energia. Para o jantar reservámos sempre tempo. Os nossos dotes culinários e a qualidade dos produtos locais foram fazendo a sua magia. O Mercato Centrale Firenze pode ser uma boa alternativa e está aberto das dez à meia-noite. No primeiro andar,as indicações ilustradas espalham-se pelo espaço com graça. É possível comprar para levar, sentar num dos vários cafés, bares e restaurantes ou simplesmente apreciar os artesãos dos sabores.
Tínhamos encontro marcado na Hertz com um Fiat 500 novinho. Objectivo? As 24 horas de Toscana! Com as indicações simpáticas da menina num “portinhol” esforçado, o “neverlost”, um mapa e o tal livrinho recheado de anotações, avançámos com confiança pela região do Chianti, strada regionale 222 fora! Sucedem-se os vinhedos bem arrumadinhos, as colinas suaves de um verde verdejante, os ciprestes a caminho de acolhedoras casas de pedra clara. Que beleza! E veio à fala o nosso Portugal, como é lindo o Douro, que bem ficámos naquela quinta…Ah! E o Alentejo… Pois é. Então o olhar prendeu-se no casario e em Castellina in Chianti iniciámos a descoberta dos vários burgos medievais. Passeando pelas ruas empedradas bem limpas, sentimos a força das construções defensivas, o alcance das torres que se erguem no horizonte. É uma viagem muito agradável, cerca de 70km, até Siena. Seguimos para Monteriggioni e San Gimignano, onde fizemos uma pausa para um copo do tradicional Chianti. Estivemos em Volterra e Colle di Val D’Elsa e voltámos a Florença com a noite a envolver suavemente a cidade.
Buongiorno, benvenuto! A gentil voz masculina anuncia que o comboio vai para Livorno, passando em Pisa Centrale, que é o que nos interessa hoje. Nos dois andares da carruagem não sobram lugares. Esperávamos encontrar muito mais do que uma oportunidade para segurar de forma artística a inclinação da torre do Campo dei Miracoli. Assim foi! O trem seguiu para oeste. Ao longe vislumbrámos os Apeninos e os cumes ainda brancos.
A arquitectura da cidade, acomodada nas margens do Arno, diz-nos que ali viveram mercadores influentes. Palácios, igrejas, recantos… tanto para descobrir, afinal! A Piazza dei Cavalieri e o Palazzo della Carovana merecem atenção. Em Pisa comemos por acaso um panini soberbo. Uma tasquinha discreta numa pequena praça, uma lista grande de alternativas, produtos locais e tudo preparado no momento e à vista com serena maestria, assim é no L’Ostellino. Deambulámos por ruelas e becos estreitos, cruzando-nos com as vidas dos pisanos. Cativou-nos um mercado de rua pleno de ordem, frescura e cor e perdemo-nos pela feira do livro. Divertimo-nos com a mensagem escrita a giz sobre lousa exposta na montra do talho do Maurizio: “Se la ciccia bona voi mangià da Maurizio devi andià!” Afinal, Pisa não é apenas o tal cartão postal!
De volta a Florença, procurámos não perder nada do que a cidade oferece a quem a visita. Uma maravilhosa mostra a céu aberto! Estamos de partida, a caminho de Bolonha. Desta vez esperamos o comboio na Stazione Rifredi. Fazemos tempo num pitoresco café de bairro. Diante de um cappuccino delicioso, passamos os olhos pelo jornal diário, sorrimos à gentileza do dono da casa, à música das conversas e dos trocadilhos dos clientes habituais. Como os italianos adoram trocar palavras! Fazem uma festa de um simples cumprimento! Já temos saudades… Planície do Pó, aqui vamos nós!