Fugas - dicas dos leitores

Patrícia Campos

Machu Picchu, o segredo inca no Vale Sagrado

Por Patrícia Campos

A magia de Machu Picchu iniciou-se desde o ponto de partida. Desde Cusco até à Hidroelétrica. Da Hidroelétrica até Aguas Calientes. E daí até ao topo da cidade escondida.

Cheguei cansada a Machu Picchu. Contudo, um cansaço que se esqueceu em breves segundos. Machu Picchu não é segredo para ninguém mas continua a ser um grande segredo da História inca.

Depois de alguns dias em casa da família de Naya nos vales montanhosos ao longo do rio Urubamba, chegámos ao ponto de partida para o Machu Picchu. A Hidroelétrica situa-se sensivelmente a quatro horas de Cusco, a uma hora de Santa Teresa. Depois de um longo trajecto por caminhos de terra, recomendado para veículos 4X4, passando por desfiladeiros assustadores, cheguei com Naya ao ponto de partida da caminhada. Ao longo do trilho de comboio vários viajantes e peruanos caminhavam até Aguas Calientes. E o trilho é tão famoso que alguns alojamentos começaram a surgir ao longo da linha de comboio. O esforço da caminhada, a paisagem verde e fresca, sempre acompanhada pelo rio e a magia do comboio a passar, fazia com que a curiosidade se aguçasse a cada quilómetro.

As imagens da cidade inca perdida na selva são do imaginário de todos. Aguardava com expectativa o grande momento, apesar de algum receio com a possível frustração e desilusão de visitar um lugar tão turístico. A caminhar pelo trilho do comboio, e apercebendo-me do quão inóspito lugar se situava Machu Picchu, as expectativas aumentavam.

Machu Picchu era realmente um segredo. No mais recôndito lugar do Vale Sagrado. No topo de penhascos verdejantes, longe dos olhos mais curiosos. Longínquo das civilizações. Depois de três horas a caminhar até Aguas Calientes, descansei sobre a almofada a sonhar com o dia seguinte.

Seriam seis horas da manhã e, apesar do nevoeiro cerrado, levantei-me da cama como uma criança ansiosa para ver os desenhos animados ao abrir do canal da televisão. Depois de duas horas a caminhar até ao topo da montanha, chegava a Machu Picchu. Dei por mim boquiaberta com as ruínas.

De um pontos mais altos sentia-me pequenina perante aquela imensidão. A cidade inca era de dimensões gigantescas e ultrapassou as dimensões das minhas expectativas. Rendida. Do Templo do Sol, o epicentro de Machu Picchu parecia longínquo, do alto das montanhas deveria parecer apenas uma cabecinha de alfinete, mas ali bem no centro de Machu Picchu a cidade era assustadora. Aquele misto de verde e cinza, as raízes do passado e o presente, a engenharia e a história, a descoberta. A impressionante sensação de ter estar num dos lugares mais surpreendentes da cultura inca deixava-me congelada e de pele arrepiada. Milhares de perguntas assombraram-me os pensamentos. Admirava a coragem, a destreza e a bravura de Hiram Bingham para explorar aqueles montes em busca de algo desconhecido e de tão difícil acesso. Machu Picchu foi descoberta em 1911, apesar de pertencer a uma época pré-colombiana. Como teria estado tanto tempo longe dos olhos das civilizações? Como foi apagada pela história e o tempo?

Entre a massiva multidão que visitava Machu Picchu naquele dia, não deixaria de ficar rendida àquela inolvidável cidade. Machu Picchu teria este efeito sobre todos os visitantes. A confusão do entra e sai de gente entre as rochas estava reduzida a nada. E às vezes o nada é tudo. Ali, parada no tempo, o centro do mundo estava ao alcance do meu olhar. Aquela fracção de momentos dar-me-ia todas as razões para continuar a viagem.

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