Fugas - Motores

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Condução utilitária de alma aguerrida

Por Carla B. Ribeiro

Um utilitário com uma componente lúdica. Poder-se-ia resumir assim o novo Renault Clio TCe 90: um três cilindros com um motor de 899cc e uns 90cv alertas

 

Confesse-se: havia um certo receio de que o motor de três cilindros soasse a uma panela de pressão estragada. É verdade que, ao contrário dos de quatro cilindros, não revela propriamente um espírito suave. Mas é muito mais silencioso do que calculávamos, especialmente em andamento - em ralenti ou no arranque denuncia estarmos perante um tricilíndrico, mas fora isso o bloco TCe tem um comportamento (quase) irrepreensível, mostrando-se sempre pronto a dar um pouco mais de si: quer numa ultrapassagem quer numa mais íngreme subida (e, nestes casos, a assistência ao arranque em subida de série marca pontos).

Não é preciso muita ginástica para tirar partido de um binário que, não sendo muito expressivo (135 Nm), está disponível a partir das 2500 rotações e mantém-se até perto das 5000. Por isso não será de estranhar que conquiste adeptos entre o pára-arranca citadino nem que doravante se assista a uns destes a furar aqui e ali: são rápidos, ágeis e bons de manusear.

Mas nem tudo são flores. O consumo anunciado, de 4,3 l/100 km, ficou longe de cumprido, com o bloco de 0,9 litros a exigir uma média entre 6,5 e 7,5 litros a cada 100 km para se saciar. O que, para um carro com tantas ambições económicas, não deixa de causar uma certa frustração na altura de reabastecer o depósito (mais ainda tendo em conta o custo actual de cada litro de gasolina).

A verdade, admita-se, é que é difícil ter potência subalimentada. E já era de prever que os 90cv exigissem algum investimento. O que leva a questionar: 90cv enfiados num motor de 0,9 litros? Sim. E é isso que deixa um certo gostinho. Principalmente num carro leve (emagreceu mais de 100 kg graças à utilização, no geral, de materiais mais leves, mas essencialmente devido à opção pelas barras estabilizadoras ocas e pela redução da capacidade do depósito de combustível em dez litros) e pequeno (embora consideravelmente maior do que a anterior geração).

A potência de 90cv é suficiente para lhe dar uma alma aguerrida. Não se voa. Mas pode-se brincar. Até porque, não obstante a sua leveza (tem 1009 kg), revela estabilidade em curva e a direcção mostra-se precisa. Só é pena que o Clio precise de algum tempo para se soltar. Porém, quando isso acontece, a capacidade de travagem transmite sensação de segurança: não é um "ás" da coisa, mas não desaponta.

O gosto da condução neste Clio TCe também não será indiferente ao conforto na posição do condutor. Há espaço e tudo é simples sem que seja simplista. No visor, conta-rotações à esquerda; controlador de combustível à direita; velocímetro e outras informações sobre aperformance do carro ao centro. E a ausência de uma miríade de comandos no volante agrada.

Passe-se para o lugar do navegador e não há grandes defeitos a apontar. O mesmo já não se pode dizer do banco traseiro: se é para transportar crianças, tudo bem - e se houver cadeirinhas, inclui sistema Isofix. Mas qualquer um com mais de 1,50m de altura começará a sentir-se demasiado encaixado entre assentos.

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