Cerca de dois anos depois de Portugal ter sido um dos primeiros países a receber o Nissan Leaf, a construtora japonesa prepara-se para lançar a segunda geração de um dos mais coerentes e interessantes carros eléctricos disponíveis no mercado. No entanto, apesar de o retocado Leaf ser mais barato e dinâmico, revelar maior autonomia do que o seu antecessor e até surgir com três opções de equipamentos, o facto é que continua a ser um peixe fora de água no mercado nacional. A ideia é excelente, mas a aplicação prática, em Portugal, continua adiada para um futuro, aparentemente, ainda longínquo.
Quando, em Junho de 2009, José Sócrates apresentou um programa com o objectivo de libertar Portugal da dependência petrolífera, a expressão “mobilidade eléctrica” passou a constar do léxico nacional. À época, o ex-primeiro-ministro mostrou-se “certo” que quando o veículo eléctrico fosse adoptado, “seria produzida uma redução de barulho e uma melhor qualidade de vida”. “Quando as cidades experimentarem viver com veículos eléctricos, jamais quererão voltar para trás”, sublinhou. Poucos meses depois, numa iniciativa pioneira a nível europeu, surgia em Lisboa o primeiro posto de carregamento para veículos eléctricos.
A visionária aposta nacional na mobilidade eléctrica, através do programa Mobi.e, levou a Nissan a escolher a capital portuguesa para a apresentação mundial à imprensa do inovador Leaf e, com incentivos governamentais, em Dezembro de 2010, o primeiro veículo da marca nipónica foi vendido em Portugal. Com o lançamento, dois meses depois, da primeira pedra de uma fábrica de baterias para carros eléctricos do consórcio Renault-Nissan, em Cacia, Aveiro, a mobilidade eléctrica corria sobre rodas em Portugal. No entanto, a partir daí, tudo entrou em curto-circuito: a construção da fábrica em Cacia acabaria por ser suspensa, os incentivos de cinco mil euros à aquisição dos “eléctricos” foram retirados pelo actual governo, muitos postos de carregamento estão abandonados ou ocupados por veículos tradicionais e os números das vendas caíram a pique no último ano.
É, portanto, sob um fundo pouco cor-de-rosa que chega ao mercado nacional a segunda geração do modelo eléctrico mais transaccionado em Portugal – até final de 2012, 125 unidades do Leaf foram vendidas em território português, mais de um terço do total dos eléctricos comercializados. Há, porém, ainda uma ténue esperança para o Mobi.e: Álvaro Santos Pereira, Ministério da Economia, anunciou recentemente que “um novo modelo de mobilidade está em discussão”.
Politiquices e incentivos à parte, neste virar de folha, o Leaf apresenta a mesma cara do seu antecessor (a Nissan manteve praticamente inalterada a estética), mas há mais de uma centena de alterações em relação à geração inicial. A primeira grande novidade passa pelo surgimento de três definições de equipamentos – Visia, Acenta e Tekna -, com pacotes e preços diversos. No Tekna, o topo de gama, há a destacar o sistema de vídeo 360 graus (com quatro câmaras de vídeo), as jantes de liga leve de 17’’ e os estofos e revestimentos em pele. Importante também a possibilidade, a partir de Julho, de comprar o carro nipónico sem a bateria, alugando a mesma. Esta opção, já utilizada pelos “eléctricos” da Renault, permite baixar significativamente o preço final do Leaf, que, todavia, continua a ser duro para a actual realidade portuguesa: a versão mais acessível, sem a bateria, que terá um aluguer mensal a partir dos 79 euros (valor para 36 meses e um máximo de 12500 km), custará 25.200 euros. Qualquer que seja a opção de aluguer, terá sempre assistência gratuita e reboque em caso de falta de energia.