Em tempos de crise, escrever-se sobre luxuosas limusinas pode ser visto como politicamente incorrecto e até ofensivo. Mas ainda vamos a tempo de nos penitenciarmos, apresentando um veículo que poderia até merecer a aprovação dos defensores da austeridade.
Durante décadas, os portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades: uma profusão de auto-estradas, entre as quais três entre Lisboa e Porto ou uma circular superportajada em Lisboa (A16) com a intensidade de trânsito de um trilho de camelos no Sara; swaps, BPN e quejandos; parcerias público-privadas, pensões de reforma exorbitantes, salários mirabolantes que até permitem luxos como comer bife uma vez por mês – é um fartar vilanagem!
Está na altura de arrepiar caminho e a Fugas dá o exemplo, apresentando um carrinho económico que está de acordo com os princípios defendidos por Vítor Gaspar – esse guru das folhas de Excel que, ao abandonar-nos, nos deixou irremediavelmente órfãos. Até porque austeridade é um termo muito elegante e que traduz uma boa política (em especial se aplicada a outros que não a nós).
É na linha desses princípios morais e filosóficos que apresentamos o carro mais barato de sempre de acordo com o Guinness World Records: o Smith Flyer de 1922, também conhecido por Red Bug (Insecto Vermelho). Construído pela Briggs Stratton Co. de Milwaukee, Wisconsin, EUA, o seu preço oscilava entre 120 e 150 dólares, o que, nos dias que correm, poderia equivaler a um custo de 1200 a 1500 dólares (entre 900€ e 1100€).
Além de os valores nos terem chamado à atenção, o carro da Briggs Stratton também nos fez lembrar as vezes em que, ao descrevermos carros de marcas premium que praticam uma política de quase todo o equipamento não essencial ser opção, escrevemos com algum exagero de estilo que de série só o motor, volante e os bancos. É que o Red Bug Smith Flyer é literalmente isso: 111kg que se distribuem por uma plataforma de tábuas de madeira com 1575mm de comprimento e 762mm de largura, quatro rodas laterais de 508mm de diâmetro e uma quinta na traseira, que é a roda motriz e está conectada com o motor de 2cv (sim! dois) de potência.
Sobre a plataforma insere-se o volante e dois bancos. O arranque do motor é efectuado com a roda motriz ligeiramente levantada e após aquele estar a trabalhar, o condutor baixa a roda motriz até ao solo por meio de uma alavanca eo veículo, fazendo jus ao nome (Flyer), começa a “voar”.
Em termos de equipamento de série, o Red Bug, que deve a alcunha ao facto de ser pintado de vermelho, é um dois lugares “descapotado”, que oferece tecto panorâmico permanente, entrada sem chave, ventilação inferior (pelas frestas das tábuas da plataforma), apoio lombar ao condutor e acompanhante e transmissão “automática” com uma única velocidade (só para a frente).
O Smith Flyer foi inicialmente fabricado pela A.O. Smith Company de Milwaukee, desde 1915 até cerca de 1919, quando os direitos de produção foram vendidos à Briggs & Stratton, que lhe mudou o nome para Briggs & Stratton Flyer. No entanto, o nome original persistiu, bem como a designação Red Bug como era comummente conhecido.