Fugas - Motores

É com barro que se constroem sonhos

Por João Palma

Passaram-se 50 anos desde a sua criação. E, claro, hoje o Estúdio de Design da Opel dispõe das mais avançadas ferramentas. Mas há coisas que não mudam e os designers ainda privilegiam o barro para dar corpo aos seus sonhos automóveis. João Palma

Até 1964, quando os fabricantes de automóveis europeus queriam criar algo mais que um mero meio de transporte, incumbia-se a especialistas externos o desenvolvimento de concept cars ou protótipos. Em especial, aos ateliers do Norte de Itália, onde pontificavam nomes como Bertone ou Pininfarina, que se tornaram lendas e cujos estúdios ainda hoje marcam o estilo e o design de novos veículos.

Porém, há meio século, deu-se uma mudança radical: inspirada pela casa-mãe GM, que, desde 1927, já tinha um departamento de design próprio, a Opel criou um Estúdio de Design no edifício N10 da sua fábrica de Rüsselsheim, nos arredores de Frankfurt, inaugurando uma tendência que foi seguida pelos outros construtores — hoje todos têm os seus próprios centros de design.

E, na comemoração do 50.º aniversário da criação do seu centro de design, a Opel franqueou as portas do seu estúdio em Rüsselsheim, na Alemanha, a representantes da comunicação social, que assim puderam ver como se processava há meio século e como é feita hoje a criação tanto de protótipos que nunca chegaram às linhas de produção como de novos modelos, numa espécie de treino de portas abertas onde até, ao contrário do habitual, as fotos não só foram permitidas como encorajadas.

“[Na altura da sua criação], o Estúdio de Design Avançado estava liberto do trabalho diário ligado aos modelos de produção e incumbido de não se focar no que iria para a estrada no dia seguinte ou num futuro próximo, mas de desenvolver possibilidades e oportunidades para produtos capazes de conquistar espaço no longo prazo.” Nessa época, não existia na Europa qualquer curso de design automóvel, pelo que este estúdio, liderado pelo americano Clare “Mac” MacKichan, funcionou como uma escola que atraía jovens designers que se iriam tornar  famosos. Casos de Wolfgang Möbius, Dick Söderberg, Hideo Kodama ou mesmo do actual chefe do Departamento da Opel, Mark Adams.

Adams chegou à empresa em 2002 e começou a trabalhar no concept Insignia, lançando as sementes da actual filosofia de design da marca que defende a “arte escultural aliada à precisão alemã”. Mas, afinal, o que é “uma filosofia de design”? No seu entender, “é algo de sustentável e duradouro que pode manter-se válido durante 100 anos”.

O Insignia foi o primeiro automóvel moderno de produção imbuído desses valores, também patentes no Opel GT da década de 1960, e inaugurou o moderno ciclo 1.0 de design da Opel. O ciclo 2.0 foi aberto em 2013 pelo protótipo Monza, que irá definir o design dos veículos de produção da Opel para os próximos oito a dez anos. Seguir-se-á um ciclo 3.0, mas sempre a obedecer ao tal lema: “arte escultural aliada à precisão alemã”.

O vaivém do barro

A palavra inglesa concept, face à mais comum tradução para português “protótipo”, define com muito maior precisão aquilo que sai da imaginação, das pranchetas de desenho e dos computadores dos designers de automóveis. Trata-se de um conceito que poderá ou não concretizar-se em modelos de produção. Nos anos de 1960, as pranchetas de desenho, o papel, os lápis, eram obrigatórios; hoje, embora não prescindindo do papel, a ferramenta principal é o computador.

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