Fugas - Motores

  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
  • Nelson Garrido

Um "gentleman" que é uma besta

Por Álvaro Vieira

É impossível ficar indiferente ao poder e à beleza deste F-Type da Jaguar. São 550 cavalos num grande carro, diante do qual a estrada se faz pequena.

A primeira coisa que se me impõe dizer sobre este F-Type 5.0 V6R é que é para quem pode. É preciso ter os 150.788 euros (161.507, na versão ensaiada) que ele custa numa conta bancária recheada com mais uns trocos valentes, à ordem dos 550 cavalos que é preciso alimentar a cada 500 quilómetros, mais coisa menos coisa. E, sim, claro, também é preciso ter unhas para explorar um Jaguar que não se ensaia nada para meter as garras de fora e que ruge, de forma assustadora. Como não tenho as unhas e muito menos os euros, confesso que andei com o coração na boca durante boa parte do tempo que passei com o automóvel. Com medo de o danificar, com medo do carjacking e, sobretudo, com medo de mim, quando passei a ter menos medo dele.

São 4,2 segundos dos 0 aos 100 kms/h — e um binário de 680 Nm disponível entre as 2500 e as 5500 rpm — que nos deixam logo com as costas bem enterradas nos excelentes estofos desportivos. A velocidade máxima anunciada é de 300 km/h, dado que não ousei confirmar. A esse respeito, direi apenas que faz algumas curvas de auto-estrada que nos habituámos a considerar largas parecerem apertadinhas, apertadinhas…

Este F-Type V8 5.0 R é o automóvel mais potente que a Jaguar alguma vez comercializou. A cidade não é o seu habitat. Não que o carro não seja surpreendentemente confortável, até no modo Dynamic, absorvendo muito bem as irregularidades do piso — no início, tanto conforto até levanta a suspeição de que será menos competente a agarrar-se à estrada, a curvar mais rápido.

Nada mais injusto, que nesse aspecto será difícil pedir-se mais. A questão é que é mesmo demasiada potência para o empedrado. Mesmo com o controlo electrónico de estabilidade (DSC) ligado, é fácil, muito fácil, fazer a traseira dançar. Pode ser na curva de um cruzamento, ao retomar a marcha com alguma vivacidade depois de se deixar um peão atravessar na passadeira, pode ser numa avenida de paralelo, ao ultrapassar com menos paciência alguém que resolveu procurar estacionamento sem sinalizar…

Nada, contudo, que não seja fácil de corrigir, em segurança, e de evitar, com a habituação à força que o pedal do acelerador convoca. De qualquer modo, será sempre um desperdício ter um carro destes para andar apenas na cidade, até porque não é propriamente económico. Nunca fiz um consumo combinado (cidade, estrada e auto-estrada) abaixo dos 15L/100km.

Os gostos não se discutem, por isso vamos acordar já que, por fora, o F-Type é um dos carros de linhas mais bem conseguidas no mercado. Como de resto é apanágio dos carros desenhado pelo Director de Design da marca, Ian Callum, que acaba de ver outro Jaguar, o XE, eleito como o automóvel mais belo de 2014 no Salão de Paris. A propósito, também na semana passada os leitores da revista alemã Auto Motor Und Sport elegeram o F-Type como um dos Best Cars 2015 nas categorias “descapotável” e “desportivo”. Mais um bom sinal para o grupo Jaguar/Land Rover, que parece estar em franca recuperação, pela qualidade dos últimos modelos produzidos e mesmo pelos resultados comerciais: em 2014 aumentou as vendas em cerca de 9% e está a investir, e a criar empregos.

--%>