Fugas - Motores

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O paradigma dos citadinos está ainda mais fácil de conduzir

Por João Palma

O pequeno Smart Fortwo é um veículo urbano por excelência. E as suas aptidões aumentam com a nova caixa automática de dupla embraiagem. Porém, está apto para voos mais altos.

A primeira coisa que nos ocorre, quando pensamos em citadinos, é o Smart Fortwo. Citadinos há muitos, mas nenhum condensa melhor o conceito de carro ideal para a confusão do trânsito urbano como este — pelas suas dimensões, capacidade de se arrumar em buracos exíguos e de girar quase sobre si próprio. Já tínhamos experimentado a versão de 90cv com caixa manual, mas na variante de 71cv com a nova caixa automática as suas características de animal de cidade ainda são mais realçadas.

Claro que há um preço a pagar por essas qualidades evidentes com qualquer propulsor: o facto de só ter dois lugares e uma mala de 260 a 350 litros de capacidade (embora, neste capítulo, ela até seja maior que a de outros citadinos, como verificámos na prática). Para se dispor de mais lugares teremos que optar pelo seu irmão maior, o Smart Forfour, mas este já tem concorrentes comparáveis, a começar pelo “gémeo” Renault Twingo.

A marca tinha-nos proposto experimentar a nova caixa automática com a motorização de 90cv, mas nós optámos pela variante de 71cv, que utiliza o mesmo bloco tricilíndrico de 999cc, mas com um motor atmosférico que não dispõe de turbo.

Inicialmente, o teste deveria ser feito num percurso essencialmente citadino, mas as circunstâncias levaram a que tivéssemos que fazer uma viagem longa que incluía estradas de montanha. Por isso, foi de pé atrás que nos fizemos ao caminho. Pois bem, o que é excelente na cidade também é bom fora dela: com o auxílio da nova caixa de dupla embraiagem, o pequeno Smart enfrentou sem temores as subidas mais íngremes e o motor revelou uma força inusitada para se desembaraçar dos desafios que lhe colocámos. É certo que os consumos superaram em 2,0 l/100km a média anunciada pela marca, mas fazer 6,1 l/100km em mais de 600km nas circunstâncias referidas é bastante aceitável.

O anterior Smart podia dispor de uma caixa manual pilotada, cuja eficiência e comportamento deixavam muito a desejar. A nova Twinamic de dupla embraiagem e seis relações é outra música. É verdade que não é tão sofisticada como, por exemplo, a 7G-Tronic da Mercedes, cujas passagens de caixa são praticamente imperceptíveis: com a Twinamic, quando se pisa o acelerador a fundo (por exemplo, para ultrapassar) e as relações se reduzem, nota-se o ruído do motor e a resposta demora algumas fracções de segundo. Mas nada comparado com a anterior caixa pilotada. Já numa condução suave, as mudanças são imperceptíveis.

A caixa tem três modos de funcionamento: “E”, para uma condução económica, sendo que um indicador no visor atrás do volante mede a eficiência de condução em termos de aceleração e de condução defensiva; “S”, para uma condução mais dinâmica; e Manual, accionada através da alavanca do selector da caixa. Sem reparos é também o funcionamento do sistema Start/Stop, de paragem e arranque automáticos do motor.

Em cidade, no habitat natural do Smart, os 1000€ que custa esta caixa automática (que ainda inclui alarme) são muito bem empregados pelo conforto e segurança que proporciona — algo que também se evidencia em estrada. Quem escreve estas linhas nunca foi grande apreciador do anterior Smart Fortwo, que lhe dava a desagradável sensação de ser uma instável casca de noz. Porém, a actual geração obrigou a uma revisão da opinião, em especial depois de se pôr o pequeno veículo à prova num percurso fora da cidade.

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