O nosso mundo não está feito para ter mais do que dois filhos. E quem diz o mundo, diz também os automóveis. Não é à toa que ter três filhos é sinónimo de família numerosa. E o facto nem sempre é pacífico durante os ensaios dos carros: ora cabem as duas cadeirinhas, mas não há espaço para um terceiro ocupante, ora cabem todos, quando as linhas do banco traseiro são suficientemente planas para o permitirem, mas passam a viagem a resmungar uns com os outros.
Posto este desabafo, é sempre com algum agrado extra que recebo um carro para ensaiar onde não só os três encontram espaço suficiente para se acomodarem como ainda nos podemos dar ao luxo de levar companhia extra para um passeio.
O Série 2 Gran Tourer, herdeiro do Active Tourer com que a BMW surpreendeu ao estrear-se no subsegmento dos monovolumes, recebeu a mesma plataforma que, para poder receber dois bancos extra (o extra não é apenas forma de dizer; há que pagar o valor adicional de 817€ para dispor da terceira fila de bancos), esticou 210mm e cresceu 50mm em altura. No entanto, lá porque passou a ser ainda mais familiar, a marca bávara não prescindiu da identidade do Série 2, mantendo a mesma silhueta dinâmica e uma frente igual. Aliás, o rebaixamento do capot, facilmente identificável, permite que mesmo o Gran Tourer seja classe 1 nas portagens.
Para famílias com crianças pequenas é de referir que os três lugares da segunda fila, assim como o lugar do passageiro dianteiro, dispõem de sistema Isofix, para fixação de cadeirinhas, algo que se faz com alguma facilidade, tirando partido da ampla abertura de portas e do espaço interior.
A terceira fila, a tal que se paga à parte, pode acomodar adultos, sendo a montagem dos bancos fácil e rápida. Mas tal só será viável se a viagem for curta. Mesmo tendo em conta o excelente acesso à terceira fila de bancos, para viagens mais longas o ideal é que os assentos traseiros sejam ocupados por crianças.
Quando deixa de haver necessidade de usar os dois assentos opcionais, os mesmos são sabiamente arrumados sob a segunda fila de bancos, com as suas costas a formarem um piso linear de bagageira. Na mala, a capacidade de 560 litros não constitui uma referência — a VW Touran ostenta um máximo de 633 litros e a C4 Gran Picasso consegue atingir os 700 litros —, mas o espaço revela-se muito útil, dadas as linhas direitas que formam a bagageira. Além disso, não faltam sítios para arrumar pequenos objectos, quer à frente quer atrás, onde com o Pack Travel (517€) se adiciona dois pequenos tabuleiros às costas dos bancos dianteiros, proporcionando uma superfície rígida e plana, ideal para pequenos lanches em viagem ou para apoio a um desenho ou mesmo a um pequeno jogo de mesa. Com o mesmo pacote, recebe-se ainda barras de tejadilho em preto e uma útil rede de separação na bagageira.
Não é só dentro do habitáculo que se encontram características que poderão agradar a uma família numerosa. Também sob o capot esconde-se o poupado motor tricilíndrico diesel de 1496cc estreado no Mini Cooper, sendo o 216d o mais acessível série 2 Gran Tourer que, com caixa manual e na configuração de cinco lugares, custa desde 32.190€. E não é por ser poupado (a média oficial situa-se abaixo dos quatro litros) que o bloco se nega a quaisquer avanços. Com uma potência equivalente a 116cv e um binário máximo de 270 Nm (disponível logo a partir das 1750 rotações), não é nenhum portento na aceleração (11,1 segundos dos 0 aos 100 km/h), precisando de um bom incentivo com o peso do pé direito e algum trabalho com a caixa. Mas, assim que isto é apreendido, mostra-se capaz de ultrapassagens seguras e de um comportamento em curva tão confiável que é quase impróprio para um carro das suas dimensões.
