Fugas - Motores

Ricardo Campos

Uma limusina preparada para a lama

Por João Palma

Para alguns puristas, um veículo todo-o-terreno tem ser forte e feio, mas os modernos TT são tão bonitos e confortáveis como limusinas talhadas para o asfalto — não há qualquer razão para sair fora de estrada ser um acto de masoquismo.

A primeira sensação que se tem face a este Mercedes-Benz GLC 250 d 4Matic é que, sendo um veículo tão sofisticado e elegante, o melhor é atermo-nos ao asfalto e nada de incursões por caminhos de cabra, onde há sempre o risco de se riscar a pintura ou estragar o carrinho. E esse é o sentimento que perdura em grande parte dos proprietários de viaturas deste tipo. Nada mais errado: é um crime não tirar partido das potencialidades fora de estrada deste modelo de tracção integral da Mercedes.

Já tínhamos experimentado o GLC 250 d 4Matic num passeio todo-o-terreno organizado pelo Clube Escape Livre para possuidores de veículos 4x4 da marca alemã e aí pudemos verificar as capacidades deste SUV em trilhos já com uma certa dificuldade, em total segurança e sem risco anormal de danificar carro ou pintura — no final do passeio, a única coisa necessária foi uma boa lavagem para retirar a lama.

Esta é uma experiência que se recomenda vivamente a quem tenha veículos com capacidades para sair do alcatrão. Todas as marcas organizam eventos deste género, em que, com todas as precauções necessárias, se pode desfrutar não só do que podem fazer as viaturas como de sítios e paisagens únicas só alcançáveis fora da fita preta do asfalto. Para se ter uma ideia mais precisa, incluímos na ficha técnica as capacidades todo-o-terreno do Mercedes-Benz GLC que conduzimos. Um dado muito importante que joga a favor deste veículo: apesar da tracção integral e das suas aptidões todo-o-terreno, é sempre classe 1 nas portagens, não sendo sequer necessário ter um identificador de Via Verde.

Agora voltámo-nos a sentar atrás do volante do GLC 250 d 4Matic num percurso mais “civilizado” de cerca de 350km, um misto de condução urbana, em estrada e auto-estrada, com uma incursão esporádica por um estradão de terra, tendo feito uma média de 7,9 l/100km. E se já tínhamos apreciado o conforto proporcionado em trilhos irregulares e pedregosos, a sensação de estar a conduzir uma limusina com maior altura ao solo ficou reforçada. Aliás, a altura ao solo pode variar em 20mm através de um botão na consola graças à suspensão Air Body Control opcional, que também ajusta a rigidez automaticamente de acordo com o modo de condução e o terreno em que se circula.

Com cinco modos de condução, Eco, Comfort, Sport, Sport+ e Individual, em especial nos dois primeiros modos as irregularidades do piso são filtradas: parece que flutuamos sobre um tapete de algodão, algo que é complementado com um excelente isolamento acústico. Os 204cv de potência do motor e um binário máximo de 500Nm logo às 1600 rpm, associados a uma caixa automática de nove relações com um comportamento irrepreensível, conferem agilidade e rapidez de resposta a este “bicho” com 4656mm de comprimento, 1890mm de largura e 1644mm de altura e 1845kg de peso.

Uma declaração de interesses: quem escreve estas linhas mora numa zona de ruas muito estreitas da parte velha de uma localidade. Por isso, não é grande apreciador de viaturas volumosas, embora tenha que se abstrair dos seus gostos quando se trata de avaliar um veículo com um mínimo de objectividade. Neste caso, porém, rendeu-se. Este verdadeiro “criado para todo o serviço”, bom na estrada e também fora dela, além de ser visualmente muito atractivo, desembaraçou-se bastante bem por vielas e travessas, só requerendo um pouco mais de espaço para estacionar. Claro que as ajudas à condução (muitas delas opcionais) foram preciosas. Assim caiu na situação contrária, incorrendo no risco de escrever um panegírico em vez de uma crítica objectiva.

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