Fugas - Motores

Uma questão de confiança

Por Maria Lopes

Se lhe dissessem para tirar as mãos do volante e os pés dos pedais precisamente quando o carro entra em pião, o que faria? Largava tudo logo no momento em que se perde o controlo da viatura? O difícil não é decidir fazer isso; o mais difícil é conseguir, de facto, fazê-lo. Porque o hábito e o instinto farão com que a reacção natural seja sempre agarrarmo-nos de unhas e dentes ao carro. Mas há que adicionar o factor confiança.

E foi precisamente a confiança no automóvel, mas também nas motos — em todas as vertentes possíveis —, que a BMW quis mostrar ao público com a acção que levou ao Autódromo do Estoril cerca de quatro mil pessoas durante nove dias, em Maio, para testar cerca de 80 viaturas. Sob o lema Roads of Tomorrow - The Next 100 Years, o grupo alemão preparou um programa para celebrar o seu centenário que incluiu actividades para explorar todas as vertentes dos automóveis e motos BMW e dos Mini, fosse em exercícios específicos, na pista do autódromo ou num circuito todo-o-terreno improvisado, ou ainda um simples passeio panorâmico pelas sinuosas estradas da serra de Sintra.

Mas antes de se entrar na pista houve explicações técnicas sobre o circuito — onde acelerar e travar, como entrar numa curva, como aproveitar a escapatória — e sobre as diversas provas, desde a perícia do ring my bell (fazer o carro passar num ponto onde conseguia tocar o sino), aos solavancos do todo-o-terreno e ao pião num X1. Pois, o tal em que se volta à infância para dizer “olha mamã, agora sem mãos nem pés”. Já lá vamos. Primeiro havia uma exposição da história do grupo alemão para ver, tocar, sentar em motos, Mini e BMW. Com modelos como o M4 GTS ou o i8, o híbrido plug-in com portas que abrem em estilo asa, de onde se podia sair com uma minifotografia como recordação.

Já na rua, foi tempo de testar a eficácia dos sistemas de travagem do M235i, um três litros de 326cv, longitudinal com seis cilindros em linha, na chamada drag race: acelerar a fundo durante alguns segundos — os suficientes para subir dos 100 km/h que ele atinge em 4,8 segundos —, sentir todo o corpo colado ao banco como se nele se fundisse, enquanto se toca pouco nas patilhas das mudanças no volante, e depois travar a fundo para os travões M Sport o fazerem parar dentro dos limites marcados por uns pinos laranja. E confiar que ele vai parar mesmo.

Agora o pião. Sim, o teste do pião num X1 sDrive 18d, um dois litros de 150cv com caixa automática, comum numa estrada portuguesa que custa pelo menos 44.400 euros. As instruções são simples: levar o carro até aos 45-50km/h, colocar a caixa em neutro, guinar o volante a 90 graus para a esquerda, e tirar mãos do volante e pés dos pedais. O carro vai dar uma volta completa sobre si próprio e estancar, direitinho, resultado da ajuda de uma panóplia de sistemas de controlo como o ABS, o DSC de três fases, o controlo de diferencial blocante EDLC electrónico, o sistema de direcção assistida optimizada Servotronic e ainda um controlo de performance que tenta inverter a tendência de subviragem. Com o coração apertado, claro, mas com muita vontade de repetir a brincadeira.

Uma apresentação num autódromo não merece esse nome sem umas voltas ao circuito. Tendo à escolha entre M2, M3 e M4, foi neste último que nos fizemos à pista. Um brinquedo com um preço base de 102 mil euros, equipado com um bloco a gasolina de 2979cc de seis cilindros em linha com 431cv. Com uma velocidade limitada a 250km/h (que a marca admite esticar aos 280km/h pagando um opcional),o M4, dotado de dois turbocompressores, acelera dos zero aos cem km/h em 4,1 segundos.

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