Fugas - Motores

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Quase, mas ainda falta um bocadinho

Por João Palma

Este é mais um caso de recuperação do nome de um carro antigo para um veículo totalmente novo. O Alfa Romeo Giulia é uma berlina que aspira a bater-se com os modelos das marcas alemãs premium do segmento D, o dos familiares médios.

A primeira versão do Alfa Romeo Giulia existiu de 1962 até ser descontinuada em 1978. Em 2015, a marca premium do grupo Fiat decidiu reavivar o nome e atribuí-lo a uma berlina do segmento D que tem como objectivo competir com veículos alemães premium como Audi A4, Mercedes-Benz classe C ou BMW série 3. Face à trindade alemã, isso foi conseguido? Ficou perto, mas ainda há pormenores que deixam esta berlina mesmo à porta de entrada.

Comecemos pelos materiais e os acabamentos: com estofos em pele, plásticos macios em grande parte do habitáculo e um certo cuidado na montagem, a qualidade é bastante boa, mas ainda falta qualquer coisa para se poder equiparar à dos modelos das marcas alemãs. No interior, o ambiente é um pouco cinzento, faltando-lhe alguma “pimenta” (o que surpreende, pois os italianos são mestres no design). O mesmo se aplica ao painel de instrumentos com aspecto datado, mas que (podendo ser mais nítido) tem boa leitura, é completo e de fácil manuseio. O veículo que conduzimos vinha equipado com o sistema opcional de infoentretenimento e navegação Connect 3D NAV, com ecrã de 8,8’’ (2150€).

Na parte mecânica, o motor é algo ruidoso a baixas rotações e, nos modos de condução Natural e Advanced Efficiency (económico), o carro é um pouco lento a reagir. Mas o pior é mesmo a caixa manual de seis velocidades, dura e de difícil accionamento — a caixa automática de conversor de par com oito relações, suave e eficiente, justifica o acréscimo de 2200€.

Significa tudo isto que o Alfa Romeo Giulia está desprovido de trunfos face aos concorrentes premium? Não. A berlina italiana tem vários argumentos a favor.

Comecemos pelo preço: conduzimos o Alfa Romeo Guilia Super com motor 2.2 Diesel de 180cv e caixa manual de seis velocidades. Beneficiando de um desconto de 3000€ em equipamento, o carro que nos disponibilizaram, com opções, tinha um preço de 50.205€. Os modelos premium alemães do mesmo segmento, com propulsor e nível de equipamento similares, custam cerca de mais 10.000€ (8000€, face ao Giulia com caixa automática).

Por dentro, o design do Giulia pode ficar a perder, mas no exterior as linhas dinâmicas e elegantes conferem a esta berlina um visual arrebatador, na linha da melhor tradição italiana. E para quem dá importância ao emblema no capot, a Alfa Romeo é uma marca de prestígio.

O novo Giulia está fabricado com materiais ultraleves: por exemplo, os blocos dos motores são em alumínio e o eixo de transmissão em fibra de carbono. A tracção é traseira, para, segundo a marca, oferecer melhores performances, mais divertimento e emoção na condução. Construído sobre uma nova plataforma “em sanduíche” de três camadas, duas de aço e uma intermédia de borracha para filtrar ruído e vibrações, dispõe de uma suspensão activa (confortável e eficiente) que usa a tecnologia Alfalink, tem uma boa distribuição de peso entre os dois eixos e a resposta às manobras da direcção é muito directa. Isso nota-se especialmente em estradas estreitas e sinuosas.

A posição de condução, apesar de os ajustes serem manuais, é boa, bem como a visibilidade, e pode-se optar por três modos, o Alfa DNA: Dynamic (desportiva), Natural e Advanced Efficiency. No modo Dynamic há uma enorme diferença no comportamento face aos outros dois: melhores performances, com reacção ao pisar do acelerador e manobras do volante que conferem ao Giulia um comportamento desportivo. No que se refere a consumos, num percurso variado com cerca de 500km, usando os três modos de condução, obtivemos uma média de 5,9 l/100km — aceitável, mas longe dos 4,2 l/100km anunciados.

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