Fugas - Motores

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Para a cidade e para o clima português

Por João Palma

Conduzimos a versão descapotável do smart fortwo com o motor menos potente, o 1.0 tricilíndrico atmosférico com 71cv, associado à caixa automática Twinamic de dupla embraiagem com seis relações, tendo um preço-base de 13.400€, a que se somam 1000€ da caixa automática.

Como é política usual de todas as marcas, o veículo que nos disponibilizaram vinha bem equipado e, para além da linha Prime (a mais cara das três linhas de equipamento), trazia uma série de extras que faziam subir o custo para 19.290€.

Este preço suscita logo uma questão: não é excessivo pagar quase 20 mil euros (ou mesmo 15 mil euros com o equipamento básico, que faz jus ao nome) por um microcarro de apenas dois lugares e uma mala (teoricamente) exígua, excelente na condução em cidade e menos bom fora dela? Resposta dos responsáveis da marca: com as características do smart fortwo cabrio há algum veículo mais barato? Pois…

Um cabriolet é sempre mais caro do que a versão de tecto fechado que lhe dá origem. O tecto contribui para a rigidez da estrutura e em caso de capotamento protege os ocupantes. Por isso, para garantir a mesma segurança e comodidade dos passageiros, a construção da carroçaria de um descapotável é mais complexa e dispendiosa. No caso do smart fortwo cabrio, isso traduz-se num acréscimo de 2400€ no preço face ao smart fortwo coupé. A lagosta não custa o mesmo que a pescada. Para optar, há que pagar.

Analisemos então este pequeno descapotável e o que ele nos pode oferecer. Antes de mais, divertimento e prazer de condução — este é um carrinho que apela ao bom tempo e a conduzir sempre que possível a céu aberto. Até as travessas em que se apoia a capota de lona são facilmente desmontáveis e arrumam-se num espaço próprio na tampa da mala, criando um ambiente ainda mais desafogado. Uma ressalva: com mais de 30º C e o sol a pique é muito mais confortável levantar a capota — uma operação fácil e rápida, premindo um botão na consola central — e ligar o ar condicionado.

Um carro destes pede ar livre e, para quem gosta, praia. Quem escreve estas linhas é um “profissional do bronze”, requerendo, para além de uma mochila com toalhas, fatos de banho, protectores solares, etc., etc., cadeiras, chapéu-de-sol e saco térmico com água, sumos, fruta e sandes. Como meter tudo isto dentro do smart? Surpresa: coube tudo na mala de 260 litros deste descapotável. Mais: ainda foi possível meter lá dentro um saco com compras de supermercado.

Sendo “o” citadino por excelência, como se comporta este smart fortwo cabrio em estrada? Já tínhamos conduzido e apreciado favoravelmente o comportamento da versão mais potente, com 90cv, na apresentação internacional, mas tínhamos algumas reservas quanto ao desempenho do motor de 71cv. Outra surpresa: acoplado à nova caixa automática de dupla embraiagem, este propulsor responde muito bem e até nem é muito gastador — em 600km de um percurso variado, obtivemos uma média de 5,5 l/100km (nas voltinhas em cidade, os consumos sobem para perto dos 7,0 l/100km). A caixa automática de dupla embraiagem, embora ainda se nota um leve soluço nas mudanças e algum atraso na reacção ao pisar do acelerador, tem um comportamento muito superior face à anterior caixa manual pilotada que equipava o smart.

O novo smart está muito mais estável e guiável que o da anterior geração — sente-se como um veículo de maiores dimensões. Excepto, claro está, quanto se consegue arrumar num buraquinho os 2695mm de comprimento, 1663mm de largura e 1552mm de altura deste minidescapotável ou quando ele faz uma inversão de marcha numa só manobra (diâmetro de viragem referencial de 6,95m).

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