Havia uma lacuna na gama portuguesa da Renault — um SUV do segmento C. Enquanto o parceiro da Aliança Renault/Nissan tinha o Nissan Qashqai, pioneiro dos crossovers e referência do mercado, o Kadjar da Renault, face à absurda legislação portuguesa, sendo classe 2 nas portagens, tinha as rodas cortadas à nascença. Por isso, face à insistência da Renault portuguesa, a casa-mãe criou uma versão com suspensão especial, que não só melhorou o original, como, com Via Verde, é classe 1 nas portagens.
O SUV da Renault, com 1125mm de altura à vertical do primeiro eixo ao solo, apesar de pesar apenas 1426 kg (tanto como uma berlina normal do segmento C), estava à partida condenado a ser classe 2 nas portagens portuguesas. Por isso, quando do lançamento europeu, há cerca de ano e meio, a Renault decidiu não o comercializar de imediato em Portugal. Mas não desistiu. Foi posta de parte a solução de rebaixamento da suspensão, pois iria afectar a dinâmica e a segurança do veículo para ocupantes e peões — o Kadjar em testes de segurança efectuados em 2015 pelo Euro NCAP obteve o máximo de 5 estrelas, com 89% na protecção dos ocupantes, 81% nas crianças, 74% na protecção dos peões e 71% nos dispositivos auxiliares de segurança.
Como dar então a volta ao texto? Os responsáveis portugueses da Renault convenceram a sede a criar uma versão deste SUV feita à medida para Portugal. Para isso, valeram-se de uma excepção à regra do 1,10m, criada de propósito para incluir os monovolumes fabricados na AutoEuropa (e esta foi uma medida perfeitamente justificada para apoiar a produção nacional). O Decreto-Lei n.º 39/2005 reza que “os veículos de passageiros e mistos… com dois eixos, peso bruto superior a 2300kg e inferior ou igual a 3500kg, com lotação igual ou superior a cinco lugares e uma altura, medida à vertical do primeiro eixo do veículo, igual ou superior a 1,1m e inferior a 1,3m, desde que não apresentem tracção às quatro rodas permanente ou inserível”, com Via Verde, pagam classe 1 nas portagens.
Assim, com o apoio da Renault Tech (uma divisão da Renault Sports Car), foi criada uma variante do Kadjar exclusivamente para o mercado português, com uma estrutura reforçada e um eixo traseiro multibraços, oriundos da versão 4x4 mas adaptados ao Kadjar com tracção dianteira. Esta solução melhora as capacidades e as qualidades dinâmicas do veículo, o conforto e o prazer de condução (menor rolamento da carroçaria e direcção mais reactiva). Mas mais, e esse é o ponto fundamental, esta adaptação permite que o Kadjar “português” possa ter um peso bruto de 2305kg e assim cumprir o DL n.º 39/2005, sendo classificado, com Via Verde, como classe 1 nas portagens. As modificações efectuadas traduzem-se num aumento negligenciável de 46kg na tara do veículo, que não vai afectar consumos ou penalizar as performances (pelo contrário, como já foi referido acima).
A versão portuguesa do Kadjar, já disponível no mercado, vem com uma única motorização, o conhecido 1.5 dCi a gasóleo de 110cv, acoplado a uma caixa manual de seis velocidades. Com performances, emissões e consumos muito aceitáveis, o SUV da Renault oferece dois níveis de equipamento: XMOD (mais aventureiro, por 29.710€) e Exclusive (mais requintado, por 31.600€).
