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Olho no Pé, vinhos para pôr a vista em cima

Por Pedro Garcias

A vila duriense de Alijó já estava associada aos espumantes Vértice, das Caves Transmontanas, e ao tinto Quanta Terra, ambos ligados ao enólogo Celso Pereira, que, no segundo, faz parceria com Jorge Alves, da Quinta do Tedo. Mas agora há outro enólogo a disputar-lhes os holofotes. Chama-se Tiago Sampaio, tem 32 anos, e os seus vinhos, vendidos com a marca Olho no Pé, começam a ser merecidamente falados.

Tiago tirou o curso em Engenharia Agrícola na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e doutorou-se na Universidade de Oregon, nos Estados Unidos. Foi aí que conheceu a portuguesa Carmo Vasconcelos, uma das maiores especialistas mundiais em Pinot Noir. Tiago Sampaio mal conhecia a casta, mas acabou enamorado e, quando regressou a Portugal para tomar conta das vinhas da família em Alijó e em Sanfins do Douro (onde possui a adega), trouxe na bagagem cerca de 15 clones de Pinot Noir. Plantou-os numa vinha nova situada numa zona alta e fresca de Alijó e em 2007 lançou o primeiro vinho. Pelo meio foi fazendo brancos e um colheita tardia.

Em jantar recente no restaurante Cepa Torta, naquela vila, o mesmo onde o chefe Rui Paula começou a sua carreira, a Fugas pôde provar as últimas colheitas do Olho no Pé.

A ementa e o serviço mostraram que o Cepa Torta, agora gerido por dois jovens casais da terra, continua a ser um restaurante altamente recomendável, praticando uma cozinha de inspiração regional mas com uma boa dose de sofisticação.

E os vinhos (à venda no Corte Inglés e em algumas das melhores garrafeiras nacionais) confi rmaram as boas indicações que as primeiras colheitas já tinham deixado.

Começou-se pelo branco Olho no Pé Grande Reserva 2009 (8,5€), feito de vinhas velhas, a acompanhar um folhado de cogumelos com vinagre de cereja.

O vinho, com estágio em madeira, mostrou-se um pouco austero de aroma (tinha sido engarrafado há pouco tempo), mas o perfil é cativante, aliando algumas notas de leveduras de pão a frutos secos, a citrinos e a um toque de maracujá.

Na boca é um branco gordo, elegante, longo e com a acidez certa. Um vinho muito interessante, apesar de bastante maduro (tem um volume alcoólico de 14%) e de ser um pouco contra a corrente. É ideal para comidas de Inverno.

Seguiu-se o branco Grande Reserva 2008 (8,5€), ainda mais alcoólico (14,5%), que, na companhia de umas línguas de bacalhau com lombinho do mesmo, mostrou uma evidência: o excesso de álcool nem sempre é um problema, desde que o vinho seja equilibrado. É o caso. Percebe-se a madureza da fruta, responsável pela elevada graduação, mas o vinho tem boa acidez e o estágio em madeira deu-lhe uma complexidade e uma gordura admiráveis. Grande branco.

Com perdiz e queneles de batata, provou-se depois o Pinot Noir 2008 (16,5€). O vinho passou 22 meses em barrica e um quinto das massas fermentou com engaço, para lhe dar mais estrutura. É um tinto maduro no nariz, cheio de fruta do bosque, e de uma grande elegância e complexidade na boca. Os taninos, bem evidentes, são bastante macios e o final é longo e fresco. O elevado volume alcoólico (15%) é compensado por uma fantástica acidez natural. Belo vinho.

O último vinho da noite foi o Colheita Tardia 2008 (15€), feito, como os brancos, com uvas de vinhas velhas e que, neste caso, são deixadas na vinha durante o Outono, para ganharem podridão nobre. Alijó já tem tradição neste tipo de vinhos. O lendário Grandjó de 1925, da Real Companhia Velha, foi feito lá.

Este Olho no Pé passou dois anos em casco e é delicioso. Desde logo por ser bastante seco na boca, onde são evidentes as notas químicas (querosene, sobretudo) desencadeadas pela podridão nobre. Sendo um vinho gordo e doce, onde predominam o mel, as passas e alguma marmalade (compota inglesa de laranjas amargas), não chega a ser enjoativo, porque tem uma muito boa acidez.

Vai valer a pena acompanhar a sua evolução. Por agora, dá muito prazer a beber, dispensando a companhia de sobremesas doces.

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