Quando pensamos em carros que não precisam de pessoas para serem conduzidos, muitos de nós lembramo-nos de todo o tipo de trocadilhos com a série dos anos 80 “Knight Rider”, mas um vídeo divulgado esta semana pela Google vem colocar tudo na sua devida perspectiva: Steve Mahan, um norte-americano que perdeu 95 por cento da visão, saiu de casa, em Sillicon Valley, na Califórnia, sentou-se no banco do condutor de um Toyota Prius coberto de sensores e câmaras e foi encomendar comida mexicana a um restaurante na zona, antes de passar pela lavandaria para recolher a roupa.
"Auto driving." A voz feminina que recebeu Steve Mahan no carro experimental da Google marcou o início da primeira viagem de um passageiro que não está envolvido no projecto da empresa para a construção e comercialização de automóveis que se conduzem a eles próprios.
Estes carros usados nos testes da Google – que começaram em 2010 – têm um sensor no tejadilho, capaz de captar imagens em todas as direcções e construir um mapa tridimensional da área, que inclui a posição de outros veículos. À frente e atrás há sensores de proximidade (como os que alguns carros têm para ajudar nas manobras de estacionamento). No interior, está instalado um sistema de GPS, que inclui os limites de velocidade de cada estrada e toda a informação geográfica que a empresa recolhe através de serviços como o Street View. Há ainda uma câmara, perto do espelho retrovisor, que detecta semáforos e elementos em movimento, como bicicletas e peões.
Este tipo de tecnologia também tem sido desenvolvido por fabricantes automóveis e em ambiente académico, mas está ainda a vários anos de chegar ao mercado. Mesmo os investigadores mais optimistas acham que serão necessários, pelo menos, mais oito anos de trabalho. Steve Mahan, o primeiro passageiro oficial – que a Google ambiciosamente apresenta no vídeo como o passageiro número 000000001 –, não dispensa o sentido de humor para descrever o que se sente ao volante de um carro que não precisa de ser conduzido: “Olha, mãe, sem mãos!”
Mais a sério, Mahan explica o que esta tecnologia poderia mudar na vida de uma pessoa que, tal como ele, depende de outras para estar onde lhe apetece: “Isto mudaria a minha vida porque me daria a independência e a flexibilidade para ir aos sítios que quero visitar e aos sítios que preciso de visitar”.
Para quem já se interrogou sobre a legalidade da experiência da Google com Steve Mahan, aqui fica a explicação: o detective Troy Hoefling, da polícia de Morgan Hill – responsável pelo policiamento em Sillicon Valley –, disse à edição online da revista norte-americana PC Magazine que existe um vazio legal no estado da Califórnia. “Comparamos esta situação a um adolescente de 15 anos a ter aulas de condução. Sem carta e a aprender a conduzir com uma pessoa com carta ao seu lado, que pode assumir o controlo do veículo numa situação de emergência”.
Em Dezembro do ano passado, a Google garantiu um lugar no banco da frente desta revolução nos automóveis: a empresa norte-americana viu ser-lhe atribuída a patente de uma tecnologia que permite levar um carro de um ponto a outro sem a intervenção do condutor.