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Adriano Miranda

O vinho verde não é verde mas branco, tinto, rosé…

Por Bárbara Wong

A região dos Vinhos Verdes, quer promover a casta Alvarinho e o seu "berço", Monção e Melgaço.

É possível harmonizar uma refeição com uma dezena de vinhos? É. E todos eles serem de casta Alvarinho? Também. A experiência foi promovida pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), esta quarta-feira, em Lisboa, e teve como objectivo promover esta casta e a zona de onde é originária: Monção e Melgaço (MM).

A CVRVV em conjunto com os produtores de Monção e Melgaço querem promover a “sub-região” através de um programa que inclui campanhas, apresentação em eventos de vinho e turismo, formação, visitas e provas de vinho. Ao todo, a CVRVV tem três milhões de euros para gastar em seis anos. É que MM são “o berço dos famosos vinhos de casta Alvarinho –  considerados o ex-libris da região dos Vinhos Verdes”, explica Manuel Pinheiro, presidente da Comissão Executiva da CVRVV.

Uma das primeiras acções acaba de decorrer em Lisboa: um almoço para produtores e jornalistas no restaurante A Feitoria, em Lisboa, com o objectivo de a versatilidade do Alvarinho. Luis Lopes, jornalista e especialista em vinhos, foi convidado para explicar as características desta região minhota. Lopes confessou ser um “fã desde o inicio” desta zona, “mais até do que da casta”. Contudo também referiu as dezenas de garrafas que tem na sua garrafeira particular de vinhos daquela sub-região. O jornalista explica que devido aos solos e ao clima a casta é “diferente do resto das outras regiões dos vinhos verdes e também do país”, onde estão a aparecer “dezenas de Alvarinhos” e que esta uva ali desenvolve-se de outra maneira porque existem as “melhores condições para que a casta dê o melhor de si”.

Mesmo na sub-região de MM há diferentes Alvarinhos devido aos solos que Lopes divide em três – os que estão na região do Vale, mais próximos do rio com calhau rolado; os mistos; e os da encosta com granito puro.

Antes do almoço, fomos convidados a provar o rosé Muralhas de Monção da Adega Cooperativa de Monção, que desde 1958 produz vinho e actualmente recebe uvas de 1700 produtores e tem uma facturação na ordem dos 12 milhões de euros. É também um espumante da mesma adega que é proposto para o primeiro prato do chef João Rodrigues, do restaurante Feitoria que tem uma estrela Michelin, a que deu o nome “Como um bacalhau à brás…”, e que convida a que sejam os próprios clientes a terminar o prato antes de o consumirem, uma vez que traz todos os ingredientes para fazer o tradicional Bacalhau à Brás.

Aos convivas é ainda proposto provar um Alvarinho Reserva Bruto (2012) oriundo de vinhas orgânicas. O primeiro com notas mais amanteigadas e o segundo com mais acidez, define Bruno Almeida, responsável do marketing da CVRVV.

Para acompanhar o peixe-galo, com açorda de pão alentejano e legumes primaveris, a proposta é um Quinta das Alvaianas seleccionado de 2015 – de uma vinha plantada em 1996 da qual os primeiros vinhos foram feitos em 2001; e um Quinta dos Pereirinhas (Alvarinho Superior 2015) – João Pereira, proprietário e enólogo desta quinta em Monção, define o seu vinho como muito frutado e defende que a região melhorou com a experiência e a formação dos novos enólogos.

Segue-se um robalo grelhado com tártaro de carabineiro, espargos brancos e espuma de champanhe, que é acompanhado com um Reserva de 2015 de Foral de Monção que fez o estágio em barricas de carvalho francês; um Reguengo de Melgaço (2015) que tem sido premiado nos últimos anos; e um Terras de Monção (2014) muito fresco e que Bruno Almeida diz ser “best of dos vinhos verdes”.

A refeição termina duas horas depois com uma sobremesa de chocolate, fava tonka, caramelo e flor de sal e com uma aguardente gelada da Quinta de Alderiz com dez anos.

Ao longo do almoço foi possível provar nove vinhos, todos de casta Alvarinho e diferentes, do rosé ao espumante passando pela aguardente. Aqui também se ouve uma sugestão: esquecer as aguardantes em balão e servidas com o café para as consumir a baixa temperatura e com sobremesa.

E assim começa a campanha de promoção de Monção e Melgaço – “o desafio é grande, mas temos um grande aliado que é o vinho”, defende Manuel Pinheiro. Recorde-se que embora se chame vinho verde, este é branco, tinto, rosado e a sua aceitação tem vindo a crescer no mercado externo – já não apenas no chamado “mercado da saudade” – quem não se lembra de Paulo Alexandre, que cantava “Vamos brindar com vinho verde que é do meu Portugal”; mas para países que vão da vizinha Espanha ao Japão. Em 15 anos, as exportações subiram de 15% para 43%.

Se a região do vinho verde é demarcada desde 1908 e nessa altura Monção e Melgaço foram identificados como sub-regiões; agora o objectivo é promovâ-las, ligando o produto ao território, atraindo os turistas para ficar, comer e, claro, beber. 

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