Ir de autocarro público até ao terminal de autocarros, do qual temos apenas o nome, transforma-se em horas entre pessoas que não nos entendem mas que até querem ajudar, indicações erradas e contraditórias, números de autocarros em paragens inexistentes, e voltas sem fim à cidade. Já percebi que, mesmo que não compreendam ou que não saibam a resposta à pergunta, os vietnamitas mandam-nos para qualquer lado. Tentamos explicar a uma nova revisora para onde queremos ir. Pedimos-lhe o telemóvel para acesso à Internet e, no meio de palavras de inglês que são traduzidas, lá parece perceber o nosso destino. Diz-nos por gestos que este autocarro vai para onde queremos. Sentamo-nos, exaustos. Damos uma volta inteira à cidade. O GPS não está a funcionar. Não sabemos onde estamos, mas chegamos a uma estação terminal e perguntamos, Halong Bay?
- Yes.
Saímos. Há gente à espera. Há sempre gente à espera de estrangeiros. Encaminham-nos para um minibus. Perguntamos, Halong Bay? Apontam-nos para um placard, como se aquilo assegurasse o que quer que fosse. Mas estamos cansados e acreditamos e perguntamos se é possível comprar bilhete.
- Yes.
Entramos. Haveremos de lá chegar. A viagem demora e, já de noite, gritam-nos para o fundo do autocarro: Halong Bay! Olho através do vidro e lá fora não existe nada. Voltam a repetir Halong Bay e apontam para nós. É sinal para sairmos. Tiram-nos as mochilas e onde nos deixam há homens com um táxi. Perguntam-nos para onde queremos ir. Mostramos o nome do hostel. Dizem-nos um preço. Não é demasiado e, por isso, seguimos nova viagem. Desta vez o GPS funciona e controlamos por onde vamos até chegarmos ao hostel.
Como queremos fazer um cruzeiro por entre os ilhéus deste Património Mundial da UNESCO, na manhã seguinte andamos entre agências a interrogar sobre preços e condições. Compramos a do Seasun Cruise, de três dias e duas noites, por um preço de 3.000.000dong, que inclui tudo menos as bebidas, e perguntamos ao agente o que aconselha fazer durante o resto do dia: fala-nos da baía e da montanha Bai Tho.
Na baía, há barcos de pescadores que se estendem até os perdermos de vista. Depois, procuramos a entrada para a montanha, mas sem a descobrirmos. Perguntamos na rua. Apontam-nos para um lado e para outro. Encontramos um casal e ela fala inglês e vietnamita. Ajuda-nos e escreve num papel “onde é a entrada para a montanha Bai Tho?” em vietnamita. Pomo-nos a caminho e usamos a pergunta para pedir indicações a um adolescente, que acaba por nos levar até à entrada que está escondida no meio de prédios. Há um portão e uma mulher que pede um dólar. A meio da subida, falta-nos o ar. Está calor, abafado. Os degraus acabam antes da metade da subida e, às vezes, é preciso agarrarmo-nos às rochas. Mas depois de 30 minutos a subir a vista é deslumbrante. A máquina dispara a gravar o horizonte e a boca espanta-se num uau verdadeiro.
Antes ainda de o dia acabar, procuramos por uma praia que vimos do topo e, enquanto um de nós investiga o acesso, ficamos duas na conversa à espera. Há duas senhoras que se aproximam. Têm os pés descalços e o corpo coberto de pó do trabalho e utilizam as mãos para nos pedirem comida. O coração amolece. Estendemos-lhe de dentro das mochilas o que ainda temos e há agradecimento nos olhos que se traduzem em vénias repetidas e sorrisos envergonhados que nos chegam cá dentro. Não são precisas palavras para saber a gratidão que lhes chega ao semblante.
No dia seguinte partimos na tour e o barco arranca com uma dezena de outros barcos a saírem ao mesmo tempo, numa linha recta de gente que se estende a navegar em direcção aos ilhéus. Ainda assim, não há nada que me tire a magia deste momento. Tenho o coração aos saltos. Eu estou mesmo aqui. Seguimos por entre as diferentes ilhas, paramos na Monkey Island e subimos até onde se tem uma vista fenomenal, conhecemos a Pearl Farm e é-nos explicado o processo da produção de pérolas, mergulhamos num mar envolvido por um cenário que lembra o Parque Jurássico, visitamos a Sung Sot Cave que impressiona nas estalagmites e estalactites, fazemos caiaque, dormimos em alto mar no meio de uma paisagem majestosa, onde eu vejo o descer do dia com música que combina nos ouvidos, e paramos na ilha Cat Ba, onde a praia se enche de gentes que distam centímetros entre si.
Na manhã do último dia deste cruzeiro, há uma tempestade no mar e ficamos retidos na ilha durante algumas horas. Consigo parar para pensar sobre estes dias e pergunto-me, o que poderá ser ainda melhor do que isto? Mal sabia o que me esperava no próximo destino: Sapa.