Fugas - Viagens

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O hot spot de biodiversidade que a população abraçou

Lugar do primeiro beijo

Então prosseguimos, mergulhando numa galeria ripícola onde confluem vários ribeiros com o Uíma — um deles está seco. Aqui, o elemento-chave é o amieiro, “naturalmente instalado”, e o seu sistema radicular contribui para a estabilização das margens e a purificação da água (noutros pontos isto foi feito com técnicas de engenharia ambiental). Na água haverá lontras (são esquivas), já houve enguias (por aqui chamadas eirós) e há bogas do Norte — podem pescar-se desde que se tenha licença. Já vimos muitos amieiros e salgueiros, as árvores dominantes deste ecossistema, veremos freixos, cerejeiras-bravas, sabugueiros, medronheiros, erva-doce — e silvados: “No início as pessoas ficavam admiradas, interpelavam-nos porque achavam que não estávamos a fazer o nosso trabalho. Agora já percebem que se cortamos num sítio e não noutro é por um motivo. O mesmo se passa com as podas das árvores”, recorda Pedro Teiga.

Ficaremos a admirar libelinhas que se vão juntando perto de um charco de água parada (artificial, com funções didácticas), veremos carriças a saltitar diante de nós, lagartos que aparecem e desaparecem num ápice, borboletas (incluindo a pavão-diurno, espécie quase ameaçada) a revoltearem no ar; escapam-nos a rã ibérica e o rouxinol branco que companheiros vêem; escutamos o som metálico do guarda-rios e, já no final, uma águia de asa redonda rondará por cima de nós; ficarão por ver salamandras, a lusitânica e a de pintas amarelas, ou as garças reais, por exemplo. E estes são apenas alguns exemplos dos encontros, imediatos ou não, que podemos ter com a fauna e flora no Parque das Ribeiras do Rio Uíma.

Um desvio leva-nos a um beco com mesa e bancos de madeira; outro à torre de observação de aves. Ladeamos um milheiral com um espantalho no meio (terreno privado que nos afasta por momentos da água e nos recorda que este é território agrícola, também) e chegamos à outra entrada do parque. Inversão de marcha é a opção, mas como são cerca de dois quilómetros sempre planos, não pesam nas pernas. Na antiga zona de banhos, a “Preta e Branca”, a primeira mais profunda, destinada a homens, a outra a mulheres, algumas pessoas amontoam-se em volta da placa de informação, tiram fotos (não faltam painéis informativos, assim como sinalização em Braille, no chão, para que depois se possam descarregar os ficheiros áudio no site do parque). “Isto é um sonho, como projectista, gerar nas pessoas este espírito, este interesse”, desabafa Pedro Teiga — e aqui, além da beleza do local e da riqueza biológica, há o apelo da nostalgia: Pedro ouviu muitas histórias de casais que aqui se conheceram, aqui deram o primeiro beijo.

Há, recorda Marina Rodrigues, coisas que fogem ao controlo, porque este é um espaço aberto. Mas, por enquanto, não há sinal de vandalismo. Se calhar porque rapidamente as pessoas assumiram o parque como delas: “Cuidam e tomam conta. Têm um sentimento de posse.” A próxima fase será esticar o passadiço até à Caldas de São Jorge. “Agora será mais fácil.”

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