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O hot spot de biodiversidade que a população abraçou

Por Andreia Marques Pereira

No Parque das Ribeiras do Rio Uíma, em Santa Maria da Feira, um ecossistema ribeirinho foi recuperado e transformado num verdadeiro corredor ecológico. Os passadiços de madeira em breve vão ser alargados.

Se a ideia era devolver à população pelo menos um pequeno troço do rio Uíma, parece que o objectivo da autarquia de Santa Maria da Feira foi conseguido. “O povo nem dorme para vir para aqui caminhar. Foda-se!” O desabafo vernacular vem de uma mulher de meia-idade que acaba de sair do carro no já quase cheio parque de estacionamento do Parques das Ribeiras do Rio Uíma, o principal, perto da ETAR de Fiães (não, não é um mau prenúncio).

Põe um boné amarelo torrado e dirige-se para o trilho, do lado da freguesia de Fiães — separado por uma estrada está também um pequeno troço, já do lado da freguesia vizinha, Lobão. Passam pouco das 9h, a manhã de semana de início de Agosto está fresca e quando mergulharmos no percurso mais fresca parecerá — as copas das árvores acompanham-nos quase sempre. E é verdade, há um movimento intenso neste parque onde a natureza se revela desde passadiços quase sempre assentes em estacas, ou não estivéssemos num vale mais ou menos alagado, sobretudo no Inverno. O rio Uíma (que desagua no Douro) é a via estruturante, mas inúmeros ribeiros o alimentam, formando um ecossistema ribeirinho.

Este ecossistema foi, aliás, o mote para recuperar esta zona para a população local — a maioria dos frequentadores do parque —, que até aos anos de 1960 vinha muito para aqui. Havia muita agricultura, refere Marina Rodrigues, engenheira ambiental da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, mas, entretanto, tinha sido quase tudo abandonado e ocupado por silvados. Então surge um conceito “inovador”: “A manutenção ligada à ecologia”, explica Pedro Teiga, biólogo, especialista em recuperação de rios. O que significa, na prática, cuidar-se dos ecossistemas para que sejam regenerados; o que poderá significar, no futuro, um ecossistema em equilíbrio, sem manutenção. “Para já não, há [plantas] invasoras”, nota Marina Rodrigues — como as trepadeiras, muitas “pepino-estrelado”, que “atrofiam” troncos. E que ninguém se iluda. Este “não é um parque urbano”, avisa Pedro Teiga, “o conceito aqui é de preservação da natureza, da fauna e flora”. O que na prática significa, por exemplo, nada de zona de piqueniques; aliás, nada de sair do passadiço (há uma zona que está a ser reabilitada para poder ser acedida), colher plantas, perturbar a fauna.

Começamos então o nosso caminho com o salgueiral de um lado e a galeria ribeirinha do outro. O rio, estreito, corre suavemente por entre abóbodas de árvores onde o sol não entra. Alguns dos salgueiros foram plantados, não por capricho, mas porque faziam parte da natureza aqui. Há-os em arbusto e árvores e estão acompanhados de outras espécies que compõem o habitat de um salgueiral, alguns choupos, freixos e carvalhos-alvarinhos, por exemplo, mas são os lírios amarelos que saltam à vista. A tranquilidade é quase sempre a regra neste espaço que dir-se-ia intocado, com excepção do passadiço. Mas essa é precisamente a ilusão. Porque se aqui nada é “antropocêntrico” e tudo foi criado pela natureza, contou, isso sim, com a ajuda do homem: foram determinadas espécies-alvo que existiram, outras que se preservaram e melhoraram e tudo é monitorizado para manter o equilíbrio neste ecossistema específico. Afinal, “cada rio tem o seu ADN próprio”, sublinha Pedro Teiga. E assim ajudou-se ao florescimento deste “hot spot de biodiversidade a 20 minutos do Porto”. “Quem criou este passadiço foi a biodiversidade. Se fosse mais um trilho de madeira por que é que a Europa ia financiar?”, lança Pedro Teiga à laia de retórica.

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