Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

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Para celebrar a libertação do Porto

As provas realizadas no dia 7 deste mês, em Gaia, tiram todas as dúvidas: este Warre's 2009 Comemorativo da Libertação do Porto vale mesmo a declaração. Não é um vintage com o nervo dos Dow´s ou com a amplitude dos Graham´s, as outras duas marcas farol do grupo Symington Family Estates: mas como é timbre nos Warre's é um vintage no qual impera a harmonia, a elegância e a classe.

Num ano normal, talvez os Symington não se esforçassem tanto a seleccionar os melhores lotes das quintas da Cavadinha, da Telhada e do Retiro Novo para fazer apenas seis mil garrafas do Warre's de 2009. Mas Paul Symington é um devorador de História e sabe que há uma velha tradição novecentista entre os britânicos que os leva a associar as datas dos vintage à coroação de rainhas ou a batalhas históricas, como o célebre Vintage Waterloo, de 1825. No caso da libertação do Porto, a Warre's tem motivos reforçados para associar o seu nome às guerras peninsulares contra os franceses: William Warre, que nasceu no Porto em 1784, foi um destacado elemento dos exércitos anglo-portugueses que combateram as tropas napoleónicas, tendo recebido do rei D. João VI a Ordem de São Bento D'Aviz pelos serviços que prestou.

Se as outras apresentações de vintage de 2009 dos Symington privilegiaram as combinações entre castas, o Warre's é, antes de mais, uma composição de diferentes terroirs. A Cavadinha, na margem direita do rio Pinhão, já na parte superior da encosta, produziu um lote com um aroma floral acentuado, que denunciava uma forte presença de touriga nacional, deixando na boca uma aura de dimensão e grandeza pontuada por uma magnífica frescura.

Do Retiro Novo, uma quinta dominada por vinha velha quase junto à foz do rio Torto, veio um lote com grande concentração, marcado pelos aromas de fruta madura deixando na boca um rasto de impressões vibrantes, seja pela sua acidez, pela imponência dos seus taninos ou pelo volume de boca. Finalmente, da Telhada, uma vinha de uma zona bem mais quente, foi incorporada uma pequena quantidade que acrescentou ao lote amplitude de aroma, maior volume de boca e aromas mais maduros de fruta vermelha.

Entre as apresentações do dia, é muito difícil dizer se este clássico da Warre's tem ânimo e fulgor suficiente para se bater com os magníficos vintage do Vesúvio, da Senhora da Ribeira ou da Quinta dos Canais. Os vintage apenas podem ser avaliados pelo que são e, principalmente, pelo que prenunciam para o futuro. E, neste particular, se é verdade que o Warre's não tem a exuberância do Vesúvio ou o nervo tipicamente dos Dow's da Senhora da Ribeira, é capaz de revelar uma solenidade e uma complexidade que se enquadram no melhor estilo da casa. Os seus aromas, que se desdobram em sensações de fruta vermelha, de notas florais e de arbustos e deixam no nariz a percepção de alguma menta e chá preto, são absolutamente atraentes; na boca, este vintage impõe-se pela sua razoável estrutura e ainda mais pelo seu equilíbrio entre o volume, a intensidade das frutas, o vigor contido dos taninos, uma boa frescura que nos poupa ao cansaço e uma enorme profundidade e persistência.

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