A Quinta do Portal e a Bodega Liberalia, em Toro, distam uma da outra cerca de 300 quilómetros, mas há uma história e um rio que as une, o Douro, que, depois de nascer regato na serra de Urbión, se espraia com dolência pela planície zamorana, perde o pé durante a fronteira comum e vira mar interior até ao Porto. Rio de várias ressonâncias, ficou "Duradero" pela lírica do poeta espanhol Claudio Rodriguez, cujos versos de "Ao ruído del Duero" inspiraram Juan Antonio Fernández, proprietário da Liberalia, na hora de dar um nome ao vinho que haveria de selar a sua amizade com a famiília Mansilha Branco, da Quinta do Portal, e dar início a uma parceria transfronteiriça.
Desse casamento, consignado pelos enólogos Paulo Coutinho (Portal) e Sílvia Garcia (Liberalia), nasceu o tinto Duradero, feito com uvas de Tinta Roriz e Tempranillo, que, geneticamente, são a mesma variedade. No passado dia 13, as duas famílias juntaram-se no Douro para celebrarem o quinto aniversário da parceria e do vinho. E do encontro, depois da prova do colheita branco da Quinta do Portal de 2006 (com aromas fumados e melados e uma elegância e frescura surpreendentes), surgiu a intenção de as duas famílias fazerem também um branco. Neste caso, a ideia é juntar as castas Viosinho, do Douro, com o Verdelho de Zamora (da mesma família do Verdelho da Rueda).
Em relação ao Duradero, cada parte faz o seu vinho e o lote final resulta da junção, em partes iguais, de ambos. É vendido como vinho de mesa em Portugal e Espanha e custa 9,90 euros. A produção está limitada a 7 mil garrafas. O primeiro vinho, da colheita de 2005, foi lançado em 2007, e, desde então, já saíram para o mercado as colheitas de 2006, 2007, 2008 e 2009. A sua aceitação tem sido excelente, não só pela singularidade do vinho mas também pela magnífica relação qualidade/preço que oferece. É um vinho muito envolvente e sedutor, com belos taninos, fruta madura, notas tostadas e uma acidez que dá vivacidade e frescura ao conjunto.
Tem ainda o mérito de fazer o elogio a uma casta cada vez mais mal amada no Douro, a Tinta Roriz. São raros os enólogos que ainda se deixam encantar por esta variedade. Mas é uma moda que, mais cedo ou mais tarde, irá passar. A casta não é fácil, produz muito, tem uma maturação pouco homogénea e origina vinhos com taninos que podem ser bastante secos. Em contrapartida, pode fazer também vinhos muito perfumados, frescos e duradouros, caso seja bem trabalhada na vinha. Não é por acaso que todos os grandes vinhos do Douro, como o Barca Velha, integram na sua composição Tinta Roriz.