Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Duorum, como uma águia passou de pesadelo a motivo de orgulho

Por Pedro Garcias

Uma nova forma de encarar a cultura de vinha no Douro e uma nova quinta, mais amiga do ambiente. A Duorum colabora com o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, garantindo as melhores práticas ambientais ou um plano de conservação do ameaçado chasco-preto, "o pássaro do vinho do Porto". Uma aprendizagem ecológica para a qual muito contribuiu uma certa águia.

Na grande quinta do projecto Duorum que José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos estão a erguer na margem esquerda do Douro, junto a Castelo Melhor, Vila Nova de Foz Côa, nidifica uma águia de Bonelli. Como se trata de uma espécie em perigo de extinção, está expressamente proibida a realização de trabalhos com máquinas pesadas durante o período de reprodução daquela ave de rapina. E numa parte da área envolvente não é permitido sequer plantar vinha.

No início, José Maria Soares passou umas noites sem dormir, temendo que a presença da águia e as obrigações ambientais decorrentes da circunstância de o local integrar a Zona de Protecção Especial para as Aves do Douro Internacional inviabilizassem o sonho de construir um projecto de raiz no Douro Superior. Mas o que começou por ser um pesadelo acabou por transformar-se num desafio e numa oportunidade de construir uma quinta mais sustentável e amiga do ambiente. Os custos subiram cerca de quatro por cento.

Porém, é com um indisfarçável orgulho que hoje Soares Franco mostra o pequeno bosque de carvalhos e de espécies mais mediterrânicas plantadas junto à casa principal da propriedade, a par de centenas de árvores ornamentais e de fruta por toda a propriedade; as tapadas, olivais e amendoais que foram preservados; a ausência de postes de electricidade e de condutas de água à vista; as valas de drenagem revestidas a xisto; as manchas generosas de coberto vegetal mantidas nas linhas de água; e a dissimulação também através de paredes de xisto de todas as construções existentes na quinta. 

Dos 160 hectares da Quinta de Castelo Melhor, cerca de 60 permaneceram intocados, para não interferir com o habitat da águia de Bonelli. Desde a vinha à casa das máquinas ou ao depósito da água, foi tudo feito a pensar no enquadramento paisagístico e no aumento da biodiversidade. Com estas condições, Soares Franco acredita que também vai ser possível produzir vinhos mais puros e melhores. É uma nova forma de encarar a cultura da vinha no Douro, respeitando o lugar e os equilíbrios ambientais em benefício do próprio negócio. 

Coincidência ou não, há pouco tempo foi avistado na Quinta de Castelo Melhor um casal de chasco-preto que se julgava extinto daquela zona. Desta vez, e ao contrário do que aconteceu quando souberam que tinham uma águia de Bonelli na propriedade, o regresso daquele que é conhecido localmente como "o pássaro do vinho do Porto" deixou eufóricos os responsáveis da Duorum e foi decisivo para a adesão da empresa à iniciativa Business and Biodiversity, do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade. É a primeira empresa de vinhos do Douro a aderir a esta iniciativa, lançada pela presidência portuguesa da União Europeia em 2007. 

Para além de ficar obrigada a cumprir as melhores práticas ambientais, a Duorum terá de dar preferências às castas autóctones na plantação de vinha e assegurar a monitorização da avifauna da quinta. Outra das suas obrigações é a elaboração de um plano de conservação do chasco-preto, que poderá tornar-se no ícone da Duorum.

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