Será branco? Será tinto? Fomos ver e era um rosé. Não aconteceu bem assim, mas não é nenhuma piada. Num jantar especial realizado no passado dia 24 no restaurante Largo do Paço, na casa da Calçada, em Amarante (uma estrela Michelin), o rosé Principal Tête de Cuvée voltou a surpreender e a justificar os prémios e os elogios que tem merecido desde que, em 2009, foi lançado. Se há vinho que, provado às cegas, pode motivar as mais díspares respostas, é este. Tem nuances florais que apontam para um branco, mas mostra uma riqueza e uma estrutura na boca que levariam muita gente, provadores experimentados incluídos, a jurar tratar-se de um vinho tinto.
Feito na Bairrada, a partir de uvas de Pinot Noir, o Principal Tête de Cuvée é um dos melhores rosados do mundo. Não há que ter medo das palavras. Numa prova cega realizada o ano passado pela revista italiana Spirito diVino, com alguns dos melhores rosados de Itália, França e Inglaterra, o Principal Tête de Cuvée 2010 ganhou destacado.
O vinho tem a assinatura do francês Pascal Chatonnet e resulta das primeiras prensas dos melhores lotes de Pinot Noir produzidos nas Colinas de São Lourenço, a primeira quinta que o empresário bairradino Carlos Dias comprou em Portugal depois de, em 2008, ter feito o negócio da sua vida: a venda ao Richemont Group da marca de relógios suíços Roger Dubuis que criou e tornou mundialmente famosa em apenas 10 anos. O valor do negócio continua a não ser conhecido, mas falou-se em 850 milhões de euros.
No ano seguinte a esta venda milionária, Carlos Dias começou a investir parte das mais-valias ganhas na sua região natal, comprando a empresa Colinas de São Lourenço, no concelho de Anadia. Com o mesmo método e ousadia aplicados na sua aventura no mundo da alta relojoaria, associando a qualidade à imagem, o empresário sonhou em reproduzir na vitivinicultura a mesma história de sucesso. Contratou o conhecido consultor francês e propôs-se fazer vinhos que se batessem com os melhores do mundo. E foi assim que surgiu o rosé Principal Tête de Cuvée 2009, o seu primeiro grande vinho.
Carlos Dias estendeu-se logo de seguida ao Minho, com a compra do Paço da Palmeira, em Braga, e da Quinta da Pedra, em Monção, mais tarde ao Dão, com a aquisição da quinta Dão Bella Encosta.
Na região dos Vinhos Verdes, a aposta tem incidido, sobretudo, nas castas Alvarinho e Loureiro, e também aqui Carlos Dias já conseguiu produzir um vinho branco de qualidade mundial: o Royal Palmeira Loureiro Sur Lies Fines.
Não por acaso, tanto o Principal Tête de Cuvée 2010 como o Royal Palmeira Loureiro Sur Lies Fines 2010 foram as estrelas vínicas do jantar no Largo do Paço, o segundo do projecto “Caminho das Estrelas”, que vai levar os vinhos de Carlos Dias a todos os restaurantes portugueses com estrelas Michelin. Estes jantares fogem um pouco do formato habitual, pois funcionam como um desafio enograstonómico para os convidados e os próprios chefs. O produtor faz uma selecção dos vinhos, o chef elabora dois pratos para cada um deles e os convidados (sempre em número reduzido) elegem a melhor combinação. O projecto terminará com um jantar que irá reunir todos os chefs envolvidos e algumas das melhores combinações eleitas pelos convidados.
Desta vez, Vítor Matos, o discreto mas talentoso chef do restaurante Largo do Paço, apresentou dez propostas para acompanhar os cinco vinhos escolhidos por Carlos Lucas, o enólogo e CEO da Idealdrinks, a holding de Carlos Dias para o sector. O resultado foi brilhante e colocou os convidados perante escolhas difíceis, pois nem sempre a melhor combinação correspondeu ao melhor prato. Mas houve excepções: o Royal Palmeira Loureiro Sur Lies Fines 2010, por exemplo, esteve perfeito com a extraordinária “carbonara de caviar Oscietra, manjericão e gema de ovo”; e o sofisticado rosé Principal Tête de Cuvée 2010 casou de forma admirável com o “pombo Royal, rabo de vitela maronesa e trufa uncinatum, framboeas e foie gras”.
Igualmente sublime foi o casamento do Principal Grande Reserva 2008 (um belíssimo tinto da Bairrada feito de Cabernet Sauvignon, Merlot e Touriga Nacional) com o “queijo serra da Estrela, Terrincho velho cura caseira em trigo, doce de lima e chili, maçãs e noz”, uma das mais surpreendentes e saborosas propostas apresentadas por Vítor Matos. O “lavagante azul da costa, maracujá e lima, vieira e manga” também estava soberbo, mas faltou garra e frescura ao vinho que o acompanhou, o Quinta da Pedra Alvarinho 2010 (casou melhor com o “carabineiro, sapateira, ouriço-do-mar, couve-flor e funcho”). A última boa surpresa, tirando o “chupa” de chocolate com flor de sal servido com o café, foi o delicado e delicioso “maracujá, iogurte, coco, manga e hortelã”, que foi bem acompanhado pelo fresco e vibrante espumante Colinas Bruto Reserva 2009, da Bairrada.