Aqui, tudo obedece a um plano e é executado sem sobressaltos, procurando extrair o melhor e o mais genuíno das características do solo e das uvas. Um trabalho de excelência que permite que os vinhos só saiam para o mercado no quinto ano após a vindima, uma adega com condições exemplares, cave de barricas na mesma linhagem e apuradas técnicas de cultivo.
Na vinha, que cobre 25 dos 50 hectares da propriedade de Passos de Silgueiros, apenas vinga um quarto de uvas, sendo ainda por esta altura visíveis no chão os restantes 75% da produção, mondada em duas fases: a primeira pelo abrulhamento e a segunda por altura dos alvores do pintor. "É assim que conseguimos uvas maduras antes do equinócio de Setembro", justifica Hugo Chaves, o enólogo responsável pela propriedade, explicando que a maturação precoce permite em regra fazer a vindima antes das habituais chuvas da última semana de Setembro, que são a maior tormenta para os produtores da região.
A juntar à monda substancial, outra das características distintivas da vinha da Quinta de Lemos é a densidade (seis mil videiras por hectare), fruto do seu apertado compasso. "Fomenta a competitividade entre as plantas, que resulta numa maior homogeneidade entre elas", explica ainda o enólogo, esclarecendo que também dentro das mesmas castas as parcelas estão organizadas por clones, permitindo assim maturações e vinificações segundo as respectivas especificidades.
Para se entender toda esta requintada filosofia de produção, é necessário explicar que a propriedade vitícola não pode ser dissociada de um próspero negócio na área têxtil, igualmente detido por Celso Lemos. A produção é em Viseu, mas a sede comercial em Bruxelas, de onde exporta para os mais variados pontos do globo. "Produzimos com o objectivo de sermos dos melhores, para levarmos os vinhos portugueses a todo o mundo e para que sejam avaliados como dos melhores", assim se explica o filho, Pierre de Lemos, responsável pela gestão da propriedade de Silgueiros.
Os vinhos são, naturalmente, a expressão desta filosofia de exigência. Além dos varietais Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro, há também três topos de gama D. Georgina, D. Santana e D. Louise, homenageando as antecessoras e combinando algumas daquelas castas. Por enquanto só tintos, mas prevendo-se um branco, de Encruzado, já para o próximo ano.
Para lá da adega e da cuidada vinha cobrindo o lindo vale de onde se avistam as serranias do Buçaco e da Estrela, está em acabamento um moderno edifício com restaurante e acolhimento a hóspedes. Com o mesmo objectivo de exigência e requinte, o restaurante está já montado e em funcionamento mas só deverá abrir ao público no próximo ano. Liderado pelo já conhecido chef Diogo Rocha (ex- Quinta de Cabriz/Casa de Santar), foi lá que provámos os novos vinhos, da colheita de 2009, que serão lançados no mercado na próxima Primavera. Já para acompanhar o jantar, onde o chef deixou uma amostra do potencial e pretensões para o local, foram servidos os varietais Jaen (2007), Alfrocheiro (2008) e Roriz (2007), a par do D. Georgina 2005, que recentemente figurou entre melhores cinco vinhos do mundo no concurso World Callenge.
Todos mostram o melhor do Dão e o verdadeiro potencial das castas, mas há que dizer que o Roriz 2007 está mesmo um senhor vinho.