No Ribatejo e na Estremadura o mundo dos vinhos mudou. Radicalmente. O tempo do volume e da baixa qualidade faz parte do passado. Hoje as duas regiões que estão na órbita da capital impuseram-se na gama dos vinhos que oferecem boa relação qualidade-preço, começam a ousar lutar com os barões durienses ou alentejanos nas gamas médias e dispõem até de trunfos para jogar no difícil mercado da exportação. Na mudança dos tempos, ninguém sobrevaloriza a alteração da nomenclatura como agente do sucesso. Responsáveis das duas regiões reconhecem virtudes nas novas designações regionais, mas justificam o bom momento com o trabalho seguido ao longo do tempo.
Se o sucesso é do termo Tejo ou do trabalho da Comissão Vitivinícola Regional (CVR), José Pinto Gaspar, responsável pelo Ribatejo, afirma: "Nestas questões nunca há certezas. Poderemos dizer que acreditamos que seja o somatório das duas". Vasco d’Avillez, o seu homólogo de Lisboa, diz que o termo "Estremadura não deixa saudades nenhumas". Os dois responsáveis não duvidam que a imagem de pouca qualidade era um pesadelo que acabará por se apagar por completo com a consistência da qualidade dos vinhos.
"Penso que a mentalidade dos empresários da região ajudou à evolução da CVR. Surgiu de forma espontânea, há dez ou 15 anos, quando decidiram apostar em novos recursos humanos, novas tecnologias, quer vitícolas quer enológicas e, mais recentemente, na promoção e no marketing", afirma Pinto Gaspar.
Vasco d’Avillez sublinha o aspecto dos portugueses não estarem a beber mais vinho, mas estão a consumir mais da região de Lisboa, que produz vinhos trendy, como o chamado "vinho leve", de pouco teor alcoólico, o que é uma opção para o momento, devido à segurança rodoviária e à mudança do modo de alimentação, que se tornou mais ligeiro. Se o termo Lisboa permite uma identificação fácil em todo o mundo, já Tejo facilita a leitura em relação à comprida palavra Ribatejo.
Giovanni Nigra, da Fiuza & Bright, afirma não ter dúvida quanto às vantagens das novas denominações. "Os dados da Nielsen assim indicam". "No nosso contacto internacional verificamos que Lisboa é uma marca fortíssima, muitas vezes superior ao nome Portugal. O facto de ser cada vez mais um destino turístico procurado e premiado valoriza as nossas marcas", diz por seu lado José Neiva Correia, da DFJ. "Estamos a vender cada vez mais desde que houve esta alteração".
"O abandono da designação Estremadura em nada afectou o desempenho da Casa Santos Lima. O impacto nas vendas que a alteração da denominação teve é difícil de quantificar, já que não houve interrupção no crescimento sistemático", diz o responsável. "A verdade é que os vinhos de Lisboa são os que mais medalhas ganham nos grandes concursos internacionais", afirma Carlos Pereira da Fonseca, da Casa Agrícola do Sanguinhal, que realça a boa relação qualidade/preço dos vinhos de Lisboa.
Mas há outras visões menos eufóricas. James Frost, proprietário da Quinta de Sant’Ana, reconhece vantagens na designação Lisboa, mas não sentiu impacto nas vendas.
Para alguns, o trabalho essencial da presente geração consistiu na reconstrução de uma imagem negativa. O descalabro das regiões de Lisboa e do Tejo coincidiu, de acordo com algumas opiniões, com o surgimento das adegas cooperativas, na década de 60. João Corrêa, enólogo da Companhia das Quintas, não alinha totalmente, pois desencadearam um "grande salto qualitativo". O golpe mortal das cooperativas foi a falta de visão e capacidade de gestão dos responsáveis. "As cooperativas eram mais ‘comprativas’. Os sócios não as viam como suas e mandavam tanto as uvas boas como as más", diz João Corrêa.
Para este enólogo, a região de Lisboa sempre mostrou grande dinamismo e adaptabilidade. Agora "mudou o chip para a qualidade", para os vinhos de quinta. "Quando lhe pediram muito vinho, ela reagiu e abasteceu Lisboa e as colónias". A proximidade da capital e a certeza da venda causou "muita propensão para a martelada".
As regiões abrigam casas históricas, com grande capacidade produtiva. Situada em Alpiarça (Tejo), a Quinta da Lagoalva de Cima é uma dessas propriedades, pertencente à família dos duques de Palmela. O vinho é uma tradição antiga, com referências desde 1776. Manuel Campilho está ao leme da casa e conta que há testemunho de cultivo da vinha em 1888. Produz 220.000 garrafas, dos quais 40% na exportação. História tem também a Quinta de Sant’Ana (Lisboa), com fundação no século XVII. Os actores Eduardo Brasão e Rosa Damasceno foram alguns dos seus proprietários, que nela construíram um teatro. James Frost, o actual proprietário, exporta 60%.
Mas o vinho do Tejo e de Lisboa não vive apenas de brasões. Também há jovens produtores que se dedicam a vinhos de nicho, com teses diferentes dos agentes maiores. Porém, a dinâmica nem sempre resulta em sucesso. O caso dos vinhos Vale d’Algares, bastante elogiados pela crítica, é um exemplo dos que ficaram pelo caminho. Mas, hoje, Tejo e Ribatejo, que em conjunto representam cerca de 3,5% do total do vinho comercializado em Portugal, têm a seu favor a tendência. De 2011 para 2012 as vendas com a denominação de origem Tejo, por exemplo, aumentaram mais de 20%.
Para uma grande parte das empresas, porém, o mercado interno é já uma vocação acessória. A DFJ, por exemplo, factura 95% nos mercados externos, onde factura 95%. Na região de Lisboa detém 200 hectares de vinha, que abastecem o grosso da produção. Exemplo prático da performance: a nova adega, com dois anos, com mais de 2,3 milhões de litros de capacidade, para poder expandir a produção.
O mesmo se passa com a Casa Santos Lima, fundada no século XIX e ainda pertença da mesma família. Pedro Gonçalves refere a nova adega, que irá aumentar "significativamente" a capacidade dum dos maiores produtores de Lisboa. A exportação é de 90% das vendas. Com uma dimensão liliputiana, a Casal Figueira é outra campeã da exportação: 99%. O projecto começou em 1990, pela mão de António Carvalho. Marta Soares comanda hoje o negócio, dividindo a vida com as artes plásticas e a docência. Faz 7.000 garrafas de vinho de nicho.
Em regiões próximas do cosmopolitismo de Lisboa, a abertura aos mercados externos tende a ser mais natural. "A DFJ Vinhos nasceu em 1998 apenas para exportar", diz Neiva Correia. "O mercado mais exigente e competitivo do mundo é, de longe, o do Reino Unido, pela constante inovação, capacidade de resposta e exigência de qualidade do produto e do serviço prestado".
Uma opinião partilhada com o administrador da Falua, Luís Castro, que também nasceu para a exportação e lá factura 70%. A decisão estratégica foi tomada nos anos 90. "A opção mais fácil na altura seria definir como mercados preferenciais aqueles que mais afinidades têm connosco, como é o caso dos PALOP, Brasil e dos mercados da saudade". No entanto, a opção foi o Reino Unido, porque sendo «dos mais competitivos a nível mundial» quem tem sucesso "está preparado para entrar em qualquer mercado do mundo".
Lançar-se num mercado tem riscos e nem sempre o trabalho das entidades públicas é reconhecido positivamente. "A nossa maior fragilidade é o desconhecimento da marca Portugal e a burocracia no nosso país" – garante Neiva Correia. Opiniões partilhadas com a generalidade dos entrevistados. Vários indicam melhorias.
A batalha das castas
Jovens e por definição irreverentes, as duas regiões não alimentam sobre si um discurso baseado na tradição ou no património único das suas castas. Para eles, o pragmatismo é a palavra de ordem. Todos partilham a sensação que há um grande desconhecimento de que Portugal produz vinho, e com qualidade. Pedro Lufinha, gestor da Quinta da Alorna, diz que em alguns países o facto de se fazerem "vinhos de blend e não monocasta dificulta o consumo". E muitos acreditam que a diversidade regional expressa em várias denominações de origem e em várias castas, na sua maioria desconhecidas dos consumidores internacionais, é mais um problema do que uma oportunidade. O que explica as inúmeras plantações de castas estrangeiras no Tejo e Lisboa.
Será que estas castas estrangeiras tiram autenticidade? João Barbosa, da Caves D. Teodósio, admite que sim. Mas sem uma certeza absoluta. "Não será dizer o mesmo das castas portuguesas que são oriundas de outras regiões? Na minha opinião não temos de ter tipicidade com castas internacionais, mas fazer grandes vinhos, de modo a que possamos mostrar aos consumidores que somos bons naquilo que fazemos!"
Carlos Pereira da Fonseca, neto do famoso Abel Pereira da Fonseca, está à frente da Companhia Agrícola do Sanguinhal, que produz a histórica marca Quinta das Cerejeiras (Lisboa), que já em 1894 tinha vinhos referenciados na imprensa brasileira. A exportação vale 30% e as castas estrangeiras dão uma ajuda. Diz que estas castas não retiram autenticidade. "Muitas vezes, mais do que as castas, são as práticas enológicas que tornam os vinhos menos diferenciados uns dos outros. Além disso, a presença de castas internacionais, em conjunto com portuguesas, pode ser uma forma de começar a introduzir as nossas castas junto de consumidores que, de outra forma não arriscavam comprar um vinho português com uma casta desconhecida". Esta é uma opinião partilhada com Luís Costa e José Neiva Correia.
É cada vez mais frequente esse casamento entre castas nacionais e estrangeiras. A Quinta de Sant’Ana se optou por essa combinação. João Barbosa, herdeiro de uma família que teve grande importância no sector (Caves Dom Teodósio) e que em 1997 criou uma empresa com um projecto que quer pequeno, cultiva variedades portuguesas e estrangeiras por uma razão: "São as castas que produzem vinhos de que eu gosto, e como somos pequenos, ainda nos podemos dar a esse luxo".
Há ainda assim quem pense o contrário. Os líderes da Monte Cascas, Frederico Gomes e Hélder Cunha, dizem que "os nossos olhos vêem um Portugal único, cheio de surpresas, castas, solos, enfim terroirs, que nenhum outro país tem. As castas portuguesas exprimem melhor o carácter dos vinhos das nossas regiões».
O perfil "Novo Mundo" das duas regiões não se observa apenas na liberalidade com que se aceita a importação de castas estrangeiras. Até a própria certificação e regulação da denominação de origem é por vezes questionada. O responsável da Fiuza & Bright, por exemplo, diz que as várias DOC «não fazem sentido e criam confusão ao consumidor». José Pinto Gaspar, presidente da CVR Tejo, contesta dizendo que as DOC têm a importância de, "numa linguagem vitícola, designar aquilo que pode ser diferente e exclusivo". E admite que no Tejo, tal como em Bordéus, possa haver designações mais restritas.
E se eles se unissem?
Quando da reorganização do sector do vinho decretada pelo Governo de José Sócrates, era ministro da Agricultura o pouco popular Jaime Silva, chegou a pensar-se na fusão das duas Comissões Vitivinícolas Regionais (CVR). As negociações não chegaram a bom porto. Passados quatro anos, o tema volta a colocar-se. Das fontes indagadas, apenas Luís Costa, membro do conselho-geral da CVR Tejo, admitiu haver conversas. "Estão em curso negociações com vista a uma eventual fusão". Luís Costa (administrador da Falua) não quis adiantar mais pormenores.
Para Giovanni Nigra, da Fiuza & Bright, diz que as vantagens dependem da forma como for feita a fusão. José Neiva Correia, da DFJ, diz ser, desde o primeiro momento, um dos que mais defenderam a união de Lisboa com o Tejo. "Tal permitirá uma dimensão totalmente diferente para promover os nossos vinhos nos mercados internacionais. Para além disso, os custos associados à certificação, e burocracia inerente, serão menores aproximando-nos na concorrência com outras regiões mundiais".
Frederico Gomes e Hélder Cunha formam um dos rostos das novas apostas (Monte Cascas) não vêem vantagens na união, uma vez que «são regiões muito distintas». Hoje Lisboa e Tejo não são cadastro; "para nós é currículo, mais o Tejo, que está a subir muito na exportação e é a nossa maior aposta" — diz Maria João Viana, directora-geral da Enoport.
A Enoport é uma das maiores empresas vitivinícolas portuguesas e resulta da fusão de várias empresas históricas. Em Lisboa o negócio é pequeno, reduzido a Bucelas, e o grosso está no Tejo. Ao todo factura 30 milhões de euros, dos quais 65% na exportação.
A empresa tem vindo a mudar a agulha, mas ainda tem um negócio importante nos vinhos de mesa, que se utilizam para cozinhar. O preço da uva tem vindo a aumentar, o que tira competitividade. Ao mesmo tempo a região do Tejo tem conhecido melhorias na percepção de qualidade , explica Maria João Viana.
As três miniaturas à volta da capital
A Companhia das Quintas tem duas propriedades na região de Lisboa: Pancas e Romeira. Na primeira faz sobretudo tintos. Todos regionais Lisboa, porque a DOC Alenquer não dá benefícios às vendas. Na segunda só faz brancos, tirando partido da casta arinto, que em Bucelas atinge o seu esplendor. Outra denominação sub-regional é Colares, situada nas areias junto ao mar. Antigamente faziam-se palhetos, hoje a lei obriga a separação por cores. Nela reinam as castas Ramisco (tinta) e Malvasia de Colares (branca).
Carcavelos é um caso à parte, pois trata-se dum generoso. O marquês de Pombal produzia-o na sua quinta de Oeiras e introduzia-o na demarcação do Douro, sendo a única excepção.Nesta pequena zona de produção só há dois produtores: uma parceria entre organismos públicos e o outro é o Seminário de Caparide, que gere as vinhas das restantes quintas (Samarra, Pesos, Mosteiro de Santa Maria do Mar). A estas soma-se meio hectare plantado por um médico, apaixonado por este néctar.
Em 1983 foi plantada a primeira vinha, com bacelos da Quinta do Barão. Estrela Carvalho, enóloga especializada em aguardente, juntou-se ao projecto, defendendo a utilização de aguardente da Lourinhã (uma das três regiões vinícolas mundiais que só produzem destilado), que pensa ter estado, desde sempre, ligada aos vinhos de Carcavelos.
Um dos problemas do Carcavelos é a falta de conhecimento. Há poucos registos e os vinhos têm estilos muito diferentes nas diversas casas. «A Quinta da Belavista fazia seco e depois fortificava no início da fermentação, para depois fazer a união. A Quinta do Barão fazia a vinificação a meio da produção», diz Alexandre Lisboa, responsável pelos espaços verdes da Câmara de Oeiras.
Uma referência do Rôhne perto de Lisboa
Monte d’Oiro, porque quando o Sol se põe, o monte aloira-se, ganha tons dourados. Essa é a justificação do nome da quinta dos arrabaldes de Alenquer, em Freixial de Cima, a cerca de 50 quilómetros de Lisboa que ganhou fama com os seus vinhos baseados nas castas da Côtes du Rhône. Uma estratégia que hoje é muitas vezes citada como exemplo da transformação da região. Com esta quinta (não a única), a Estremadura, designação antiga, conseguiu mostrar que além de quantidade também pode fazer vinhos de grande qualidade.
José Bento dos Santos fez fortuna a negociar metais, actividade que mantém. Comprou a Quinta do Monte d’Oiro, em 1986, mas era o seu pai quem mandava na propriedade. Mas José já a conhecia. A sua mãe, natural de Vila Chã, levava-o a passar férias na zona. "A Quinta do Monte d’Oiro é, primeiro que tudo, um investimento na terra onde a minha família teve as suas raízes. Na altura, tinha uma actividade intensa enquanto broker de metais e lembro-me que um colega, e grande amigo, me disse que a terra é a commodity mais escassa do planeta", explica José Bento dos Santos.
Quando José Bento dos Santos adquiriu a propriedade não lhe passava pela cabeça dedicar-se ao sector, conta o filho Francisco. Nesses idos de oitentas, as vides não formavam o grosso da actividade da quinta. Existia apenas uma vinha muito velha, pré-filoxera, da qual restam cinco fileiras a quem chamam de «museu». As castas são desconhecidas e as tentativas de fazer vinho deram em nada, «só como curiosidade ou graça», explica Francisco Bento dos Santos.
Antes do vinho, a família Bento dos Santos ponderava o que poderia ir bem naquela terra. A sorte acabou por lhe bater à porta. Uma equipa de técnicos israelitas deslocou-se a Portugal, tendo em vista obter fruta fora de época. A Quinta do Monte d’Oiro foi visitada e conheceu trabalhos de estudo profundos. Os israelitas desistiram do negócio, mas na quinta ficou um trabalho apurado. Uma das actividades indicadas era a da viticultura. O trabalho começou em 1990 e em 1997 fez-se a primeira vindima.
Hoje saem cerca do Monte d’Oiro 70.000 garrafas para muito mundo. A quinta está dividida por castas, cada uma com sua parcela e vindimadas separadamente. Francisco Bento dos Santos afirma que a terra não é toda igual, pois há "premier cru, deuxième cru e grand cru"– terminologia utilizada na classificação vinícola em algumas regiões francesas. O solo, argilo-calcário, com áreas com afloramentos de sílica, é do jurássico superior.
A equipa técnica, como os proprietários, não sabem explicar as diferenças nos resultados das vinhas. Sabem, de modo empírico, que alguns lotes dão sistematicamente melhores uvas. O facto só está explicado na vinha 24, devido à diversidade genética. Os anos de vindimas já permitem um bom conhecimento dos solos e dos comportamentos das parcelas. No Monte d’Oiro não se rega e a agricultura faz-se em modo biológico.
Os 42 hectares da quinta não estão todos ocupados com vinha. Na realidade, as vides ocupam apenas 20. Um espaço considerável é de mata, com árvores variadas que o primeiro Bento dos Santos escolheu. A área de vinha divide-se, em números redondos, por Syrah (9,5 hectares), Viognier (4,8), Touriga Nacional (1,7), Petit Verdot (0,9), Tinta Roriz (0,5) e por pequenos espaços com Marsanne e Arinto. As castas dominantes denunciam o paladar de José Bento dos Santos. As apostas são vencedoras, mas outras houve que não resultaram, como foi o caso da Touriga Franca, cultivar caprichosa fora do seu ambiente duriense.
As vides vieram de viveiristas nacionais, mas algumas plantas têm origem em vinhas francesas, todas com mais de 60 anos. Tudo tem uma lógica e aqui foi a de obter uma maior variedade genética, visto que nesses anos ainda não se fazia selecção de clones. "É como se tivéssemos transplantado para aqui uma vinha de 60 anos" – afirma Francisco Bento dos Santos. O plantio foi feito com uma densidade de plantação superior ao normal. Usualmente são 4.000 pés por hectare e no Monte d’Oiro são 8.000. A concorrência provoca maior disputa e menos quantidade, mas acrescenta qualidade. Francisco Bento dos Santos afirma que a filosofia da casa assenta em três pilares: terroir, viticultura e enologia. A equipa técnica, tanto no campo como na adega, é formada por Graça Gonçalves e por Ricardo Constantino, além da consultoria de Gregory Viennois.
José Bento dos Santos não sabe se já fez o vinho da sua vida, sabe sim que, "colheita após colheita, os nossos vinhos estão cada vez melhores: mais afinados e elegantes, com uma identidade mais definida e com uma expressão mais pura do terroir". De resto, o padrão de exigência deste homem dedicado aos prazeres da mesa e às subtilezas do vinho é enorme. Se lhe perguntarem sobre os grandes vinhos que o inspiram ele dirá: "Tanto posso falar de um D. José (Douro) que descobri no espólio da garrafeira do meu pai, ou de um Francisco Ribeiro 1966 (Cartaxo) bebido em Luanda em 1975 (pensando ser a última garrafa de vinho da minha vida...), como o inenarrável Noval Nacional 1955, seguido por um Burmester 1863. O Chave 1990 (Hermitage) não tem descrição possível em palavras e o La Tâche 1959 (DRC) é algo de absolutamente inesquecível. Um François Cotat Les Monts Damnés (Sancerre) foi um dos brancos da minha vida, como foi o Montrachet 1989 (DRC), de ir às lágrimas".