As semanas que antecedem o Natal são um tempo feliz para as garrafeiras. E para os seus utentes. O vinho, principalmente o Vinho do Porto, é sempre uma prenda que os amigos, os familiares ou os parceiros de negócio costumam apreciar. Porque o vinho é um produto de prestígio. Porque dá prazer. Porque no momento em que o bebemos podemos estabelecer um diálogo de memória com quem o ofereceu. Mas também porque os vinhos, principalmente os grandes vinhos de guarda, são bens que o tempo valoriza, até no sentido económico do termo.
Por saber que por estes dias muitos dos leitores e leitoras da FUGAS terão na sua agenda o momento de pensar e de comprar prendas, decidimos deixar-lhes uma série de ideias que poderão concretizar. São, naturalmente, propostas muito diversas, para vários preços e ajustáveis a diferentes paixões em relação ao vinho. Algumas são fáceis de encontrar nos supermercados, outras exigem procura e tempo de pesquisa na internet ou nas garrafeiras onde se guardam os vinhos mais raros, mais surpreendentes e tantas vezes mais apetecidos.
As sugestões de José Augusto Moreira
Legado 2009
Manda a tradição que pelo Natal se ofereça o melhor e o Legado 2009 é um dos melhores vinhos alguma vez produzidos em Portugal. Sem sombra de dúvida. Além disso tem também uma simbologia muito particular, pelo local e condições da vinha onde nasce, e vem numa belíssima caixa com a assinatura do "senhor" Fernando Guedes, uma personalidade ímpar no mundo do vinho. Ele próprio diz, no contra-rótulo, que este "Legado é mais que um vinho: é o "testemunho do conhecimento e do saber" que recebeu dos antepassados e quer deixar agora às gerações seguintes. Um vinho deveras extraordinário e como tal perfeito para celebrar momentos de igual raridade. 220€
Czar DOP Pico 2008
Um vinho dos Açores que é um fenómeno da natureza e que, por isso mesmo, só é possível nos anos em que a natureza assim o permite. Assim aconteceu com a colheita de 2008, cujo vinho acaba de ser lançado e é uma dos mais extraordinários da longa história dos vinhos do Pico. Um grau alcoólico natural acima dos 18%, com doçura e acidez de equilíbrio fora do comum e um salgadinho final que o torna delicioso. Tudo segundo as leis da natureza, sem adição de aguardentes, açucares ou interrupção da fermentação. E com tecnologia rudimentar, como desde sempre se fez o vinho destas peculiares vinhas da ilha do Pico, classificadas como património da Unesco desde 2004. Já os czares russos eram uns dos seus mais assíduos consumidores. Daí o nome. Daí a sua aptidão para uma noite de reis, como é o Natal. 30€
Chryseia 2011
Para os apreciadores dos vinhos do Douro o Chryseia tem necessariamente uma significado muito especial, já que foi um dos grandes precursores dos grandes vinhos de mesa da região e um dos primeiros a obter o reconhecimento da crítica internacional. Só por isso já se recomendava como distinta prenda de Natal, mas acontece que esta edição de 2011, recentemente lançada, é talvez a mais prometedora de todas. Num ano que foi em geral de excelente qualidade, o Chryseia viu assim reforçadas as suas qualidades de equilíbrio entre estrutura, concentração e frescura, que alia também a uma refinada e distintiva elegância. Uma prenda para degustar mas que bem se pode guardar para ainda maior prazer futuro. 45€
Anselmo Mendes Parcela Única 2011
É um vinho ícone de um criador de vinhos que é também ele mais que um símbolo da região. Anselmo Mendes mostrou que os Alvarinho — e os Verdes em geral – podem ser apreciados e reconhecidos em todo o mundo. E que nem sempre têm de ser caros. Na sua persistência e criatividade chegou também a um vinho-emblema, que é dado por uma parcela única onde ano após ano colhia uvas de qualidade diferenciadora. Mais de dez anos depois decidiu vinificá-las e engarrafá-las separadamente, criando um vinho que bem reflecte a procura da individualidade e a qualidade do seu trabalho. A fermentação em barricas usadas e subsequentes nove meses de estágio com borras totais dão-lhe um peculiar carácter de estrutura e complexidade. Nesta colheita de 2011, a última a ser lançada, a mineralidade é imensa, a deixar na boca uma frescura que parece nunca mais acabar. E se o vinho é único, a prenda será igualmente única. 25€
QMF Reserva Pessoal 2006
E que tal um extraordinário espumante da Bairrada para fazer companhia aos múltiplos petiscos de Natal? A Quinta da Mata Fidalga faz um dos mais representativos espumantes do velho estilo bairradino, cheios de fruta e sabor e de acidez mais escondida. Vinhos que são mais para a mesa, com uma capacidade e amplitude gastronómicas quase insuperáveis. Mesmo face a muitos dos mais prestigiados borbulhosos franceses. Deste reserva pessoal de 2006 já não há, infelizmente, muitas garrafas (mas já há o 2007), pelo que a prenda será certamente ainda mais apreciada. Resulta de uma mistura de Chardonnay com as castas típicas da Bairrada como as Bical, Arinto, Maria Gomes e ainda um pouco da tinta Baga. Parte (40%) fermenta em barricas de carvalho, seguindo-se a refermentação e estágio sobre borras de pelo menos 60 meses. É vivo e de acidez moderada, mas o que se destaca são os sabores a fruta madura e cozida e biscoito. Perfeito para os petiscos natalícios. 15€
As sugestões de Pedro Garcias
Blandy`s Terrantez 20 anos
Os vinhos Madeira não são muito conhecidos do público em geral, mas os verdadeiros amantes do vinho caem aos seus pés. Oxidados em novos, duram uma vida graças à sua fantástica acidez. Como as produções são baixas, o preço dos melhores e mais antigos é um pouco elevado, embora não tanto como o de um Porto mais ou menos equivalente. Este Blandy`s Terrantez 20 anos não tem um preço proibitivo e mostra bem a excelência dos Madeira e daquela casta (quase extinta na ilha) em particular. Engarrafado para assinalar o bicentenário da Blandy`s, é um vinho com um bouquet muito expressivo (frutos secos e cristalizados, toffy) e um paladar magnífico, cheio de notas apimentadas e doçura bem suportada pela acidez. O final é seco, vibrante e longo. 50€ (0,50l)
Ante Aequinoctium Veranum Grande Reserva 2011
Alvo de recente avaliação na FUGAS, este novo branco da Bairrada (lote de Bical, Arinto e Chardonnay) pode ser uma bela prenda de Natal, porque é um vinho ainda pouco conhecido e porque tem tudo para acompanhar na perfeição o bacalhau da consoada – prato que também vai bem com tintos. O seu autor, José Carvalheira, enólogo das Caves São João, fez um bom uso da madeira, conseguindo dar volume e complexidade ao vinho sem o deixar refém das notas tostadas. O que sobressai é a sua delicadeza e extraordinária frescura de boca. Não o beba com pressas. Este é o tipo de vinho que cresce no copo. 18,90€
Grandes Quintas Reserva Tinto 2010
Um dos novos vinhos do Douro, mais concretamente do Douro Superior (Vila Nova de Foz Côa). Lote de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Amarela, é um tinto que transporta o xisto, a flora e a fruta duriense para dentro da garrafa, mas na medida certa. Não só tem a marca da região como a do enólogo que o faz, Luís Soares Duarte, que prefere a austeridade ao espavento aromático e gustativo, a autenticidade ao modismo, a garra tânica ao corpo de veludo. É um vinho que incorpora também a boa frescura da colheita de 2010 e que vai bem com comida natalícia, seja bacalhau, peru ou cabrito. 15€
Vieira de Sousa Porto Vintage 2011
Não há vinho que se adeque tão bem à quadra natalícia como o vinho do Porto. Convida à celebração familiar e acompanha deliciosamente os doces da época, sendo, por isso, o objecto certo para se oferecer. Um Porto Vintage da colheita de 2011, uma das mais extraordinárias de sempre, pode ser a escolha acertada. A única dificuldade é seleccionar a marca. Nunca como em 2011 se fizeram tantos e tão bons vintage. Desde os mais delicados Warre`s, Croft e Offley aos mais robustos Dow`s, Fonseca e Niepoort, passando pelos exclusivos Noval Nacional, Vargellas Vinha Velha e Graham`s Stone Terraces, existe no mercado uma vasta gama de opções com preços bem distintos. Um dos vinhos com melhor relação qualidade/preço é o Vieira de Sousa, um Porto Vintage pouco conhecido mas muito bom. É produzido pela Sociedade Roncão Pequeno a partir de uma única vinha situada numa das zonas com mais pedigree histórico para o vinho do Porto, o Roncão, na margem direita do Douro, entre o Tua e o Pinhão. Um verdadeiro achado. 35€
CC&CP Espumante Pinot Noir Branco 2008
Quando dois criadores de bons espumantes se reúnem para fazer um espumante com vinhos base provenientes de duas das melhores regiões do país, o que acontece? Antes de mais, uma grande expectativa. Num vinho, a soma de duas partes boas nem sempre dá uma terceira melhor, mas o CC&CP Espumante Pinot Noir Branco 2008 que acaba de ser lançado tem, na verdade, um resultado cartesiano: juntando, em partes quase iguais, um vinho base de Pinot Noir feito na Bairrada por Carlos Campolargo com o outro da mesma casta feito no Douro por Celso Pereira (criador do Vértice), os dois conseguiram fazer um espumante magnífico, capaz de se bater com muitos champanhes bem mais caros. Finíssimo no borbulhar e no aroma (fruta exótica discreta, toranja não demasiado amarga, ligeiro brioche), surge na boca bem depurado de "artifícios" doces e com uma frescura e uma pureza quase graníticas. É tão fresco e harmonioso que um copo puxa outro de forma perigosa. Merecia um rótulo mais bonito. 18€
As sugestões de Rui Falcão
Fonseca Vintage 2011 (Vinho do Porto)
Será escusado voltar a insistir que a colheita 2011 traduz um grande ano no Douro e uma enorme declaração de vintage. O simples detalhe de ser uma declaração clássica é reveladora da qualidade do ano. Os elogios têm-se sucedido internamente e internacionalmente e as palavras de louvor sobre aquela que já foi reiteradamente intitulada como a colheita do século são mais que esclarecedores. Entre os muitos vinhos soberbos destaca-se o vintage da Fonseca, um vinho poderoso, másculo e musculado que marca pela força e poderio dos taninos, pela robustez e pela frescura de uma acidez muito bem medida. Mais que pelas refinações, este Fonseca seduz pela intensidade e potência desmedida que acaba por se equilibrar no armistício do final de boca. Resista à tentação de o beber agora e reserve-o durante os primeiros vinte anos. 75 €
Justino’s Colheita 1996 (Madeira)
Os vinhos da Justino’s estão cada vez melhores e este Colheita 1996 é a prova formal dessa autêntica revolução de estilo e carácter no maior produtor de vinhos da Madeira. Não se deixe assustar pelo facto de este Justino’s ser um Colheita extreme da casta Tinta Negra, casta que em tempos foi percebida como o "patinho feio" da Madeira. Bem antes pelo contrário, este Colheita é a prova provada das virtudes inquestionáveis da Tinta Negra num vinho portentoso que combina melaço, mel, figos secos e amêndoa torrada num vinho complexo e profundamente atraente. Untuoso, glicérico, acídulo e refrescante, está particularmente bem feito e para além de supinamente sedutor pode servir como uma das introduções mais felizes aos vinhos da Madeira e à casta. Ainda por cima vendido a um preço provocante e mais que apetitoso… 20.60€
Soalheiro Primeiras Vinhas 2012 (garrafa magnum) (Vinho Verde)
Se o Soalheiro clássico se eleva ao topo da pirâmide qualitativa nacional, o Soalheiro Primeiras Vinhas corporiza um poema lírico à casta Alvarinho. O Primeiras Vinhas é verdadeiramente arrebatador no equilíbrio entre contenção e eloquência entremeado por um carácter sóbrio e intransigente. A boca marca momentos de verdadeira tensão, apresentando-se ora ríspida e autoritária ora fresquíssima e mineral, pura e incisiva. É raro conseguir encontrar tanta beleza num vinho, tanta mineralidade e limpidez, tanta autenticidade e generosidade, tanta harmonia e sentido de proporção. Para além das suas virtudes imediatas é um vinho que pode ser guardado sem temor, sobretudo em garrafa magnum, formato que aconselho vivamente para este ex-libris dos vinhos brancos nacionais. 39€
Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas Santa Maria 2007 (Beiras)
Os vinhos de Foz de Arouce apesar de nascerem numa adega rústica, simples, de tecnologia básica e elementar são fidalgos, nobres no carácter e temperamento. A casta Baga dá-se aqui como em poucos sítios, uma Baga carnuda e opulenta, numa interpretação muito particular das qualidades da casta. O Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria, nascido de uma vinha velha plantada num local ermo e inóspito, representa o prato forte da casa. A edição 2007 deu lugar a um vinho de alma profunda, um vinho telúrico no apego à terra e às tradições, um vinho único e inimitável que mostra o retrato de uma vinha. Um vinho fidalgo mas temperamental, poderoso mas tremendamente cortês e aprimorado. Um vinho elegante e profundo, denso, volumoso, possante e encorpado, sério e austero. Um vinho profundamente português. 40€
Carcavelos Quinta dos Pesos 1991 (Carcavelos)
Os vinhos de Carcavelos são os eternos desconhecidos e esquecidos do quarteto de vinhos generosos de Portugal, um vinho magnífico que com as pressão urbanística, o passar do tempo e a competição das demais regiões acabou por quase desaparecer. Felizmente o apoio do poder local e a resistência de um ou outro produtor têm mantido estes vinhos vivos e este ano tivemos direito ao renascer dos vinhos da Quinta dos Pesos num Carcavelos da colheita 1991. O stock de vinhos nesta casa é precioso e este vinho foi lançado com a ajuda de um reputado enólogo que depois de provar as muitas pipas em armazém decidiu-se por este lote de um dos vinhos mais exóticos de Portugal. Procure-o porque vai encontrar um grande vinho generoso que o tempo ajudou a tornar ainda mais complexo e subtil. 15€ (dadas as dificuldades em encontrá-lo, contactar a Quinta dos Pesos, telefone 966240052)
As sugestões de Manuel Carvalho
Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2010
O Vinhas Velhas do Crasto é um caso de sucesso internacional e pela melhor das razões. Com 93 pontos em 100 da Wine Spectator e 92 pontos em 100 de Robert Parker, este vinho reflecte o potencial e a diversidade biológica de uma vinha com uma média de idade de 70 anos onde coexistem 30 castas e o zelo com que a enologia da empresa a preserva. Um tinto que exala aromas amplos, complexos e deliciosos de fruta madura, notas de bosque, com uma barrica bem temperada e envolvida no conjunto. Um Douro de elegância pura, profundidade, complexidade, que combina aquele calor na boca própria dos tintos da região com uma acidez finíssima e longa que lhe confere frescura e um final delicioso e interminável. Um vinho irresistível, capaz de gerar consensos sobre as suas magníficas qualidades. 26€
Cabaz de castas nacionais
Se a sua ideia não for oferecer uma mas várias garrafas, pense na possibilidade de uma selecção de vinhos monocasta. Comece com um Alvarinho Muros de Melgaço de 2012, produzido por Anselmo Mendes (13.20€), siga até ao Douro e descubra um Sousão da Quinta do Vallado de 2010 (18.50€), prossiga com um Baga da Quinta da Dôna edição de 2009 (18€), tente um Touriga Nacional do Dão da Quinta da Falorca (T-NAC 2008, 14€), detenha-se num branco, o Encruzado da Quinta dos Carvalhais de 2011 (14€), e acabe com um Alicante Bouschet da Herdade do Esporão, colheita de 2009 (24€) – o nome é afrancesado, mas o Alicante é uma casta nacionalizada, nossa. Uma caixa de seis garrafas que é uma viagem pelo Portugal das castas. Total: 101.7€
Carvalhas Tinto 2011
Um tinto sumptuoso proveniente das vinhas velhas da Quinta das Carvalhas, no coração do Cima Corgo, que simboliza um novo estágio de evolução dos vinhos da casa após a chegada de Jorge Moreira (criador do Poeira, entre outras pérolas) à Real Companhia Velha. Um vinho com uma estrutura tensa e poderosa que ampara uma magnífica palete de aromas de fruta madura, especiaria e um tempero de frescura de notas balsâmicas. Moderno mas sem abdicar de uma certa rusticidade duriense bem visível no perfil dos taninos, é um vinho clássico que já se bebe com prazer mas que exigirá pelo menos meia dúzia de anos de espera até que mostre todo o seu potencial. 40€
Colheitas Porto
Os Porto com data de colheita (vintage e colheitas propriamente ditos) têm a enorme vantagem de se ajustarem a efemérides especiais. Oferecer um Porto com a data de nascimento de um amigo ou do ano da licenciatura de um filho ou de um amigo é uma prenda de sucesso garantido. Felizmente é possível encontrar um largo espectro de colheitas capazes de satisfazer a procura de quase todas as datas. Um telefonema para algumas garrafeiras ou para as próprias empresas de vinho do Porto pode suprir quase todas as necessidades. Quanto aos preços, tudo está em aberto. Um Kopke de 1995 custará 33 euros, mas a recente e luxuosa edição de 1940 chega aos 680 euros.
Quinta da Romaneira Reserva 2008
Os vinhos DOC Douro de António Agrellos (Noval e Romaneira) têm sempre um balanço quase perfeito entre a estrutura e a carga aromática, entre o nervo e a subtileza, entre o Douro e as inspirações provenientes de outros vinhos do mundo. Este Romaneira de 2008 é um desses casos de um vinho que se afirma na boca pelo seu volume e pela sua arquitectura (Agrellos tem formação na área) e que se perpetua num rasto de sensações florais, de arbustos, de especiaria e de fruta madura e deliciosa. Tintos magníficos que se ajustam às necessidades da época e que hão-de continuar a crescer nos próximos anos. 42€