Queixamo-nos com frequência de viver uma situação económica débil, queixamo-nos da apatia dos decisores, queixamo-nos da falta de oportunidades, queixamo-nos da falta de visão e iniciativa de todos os poderes, sejam eles o poder central, regional ou local. Queixamo-nos de forma mais ou menos generalizada… e frequentemente com alguma razão, com fundamentos para assumir tamanha frustração. Infelizmente, porém, nem sempre sabemos corresponder quando surgem as oportunidades, quando somos confrontados com a vontade alheia de criar algo, quando somos desafiados a participar em algo que se propõe mudar os modelos vigentes. Somos frequentemente vencidos pela inércia, pela falta de estímulo para a mudança, pela dificuldade em sair do nosso espaço de conforto.
No Douro, a viticultura continua a ser cumprida de forma inteiramente manual, vítima de uma orografia acidentada que não permite qualquer modelo de mecanização e de uma produtividade diminuta tendo em conta a pobreza extrema dos solos. Os custos associados ao plantio de uma vinha nova são colossais, os trabalhos na vinha são sempre caros e demorados, provocando custos laborais pesados de uma mão-de-obra nem sempre fácil de obter. A somar a estas dificuldades, a terra encontra-se tão profundamente fragmentada que com frequência a rentabilidade das explorações é inviabilizada pela exiguidade das vinhas, terra que em muitas ocasiões é conservada mais por saudável teimosia, empenho pessoal e tradição familiar que por uma decisão assumidamente racional.
Por isso, e pela dependência que o Douro tem da vinha, é tempo de diversificar e de reformar parte do modelo económico da região investindo naquela que poderá ser uma fonte de receita interessante e complementar da região — o turismo de qualidade associado à paisagem vinhateira, à herança cultural e à gastronomia da região. Pelas muitas singularidades da produção de vinhos no Douro e do Vinho do Porto, particularmente os lagares, a pisa a pé e as vindimas manuais, pela complementaridade da oferta, mas sobretudo pela beleza e monumentalidade da paisagem, física e humana, o Douro reúne todas os requisitos para se transformar num dos destinos prioritários do turismo de qualidade associado ao vinho. O enoturismo reúne todas as condições para se apresentar como um dos instrumentos privilegiados para o desenvolvimento rural e regional do Douro.
Não será seguramente a panaceia universal para todos os males da região mas o turismo vínico poderá vir a afirmar-se como uma oportunidade rara para a criação de emprego, para a injecção de expectativas renovadas e novos rendimentos na economia local. O enoturismo permite este ajustamento de oferta alternativa para a economia local ao valorizar activos únicos da região, desde o património arquitectónico às vinhas, desde a gastronomia até aquilo que é mais importante na região, o vinho. Permite igualmente dilatar a rentabilidade e visibilidade das marcas dinamizando a criação de emprego local, despertando a população para as tarefas do empreendedorismo e coordenação de recursos tirando partido do uso das tecnologias de informação e comunicação, adoptando-os como instrumentos de promoção da região.