Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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Alvarinho ou Monção/Melgaço?

Como não poderia deixar de ser, alguns dos Alvarinhos das novas regiões são bons, outros medianos, outros francamente desinteressantes. Como não podia deixar de ser, alguns dos Alvarinhos recentes são vendidos a preços consentâneos com o prestígio da casta, enquanto outros são propostos a preços escandalosamente baratos com o risco latente de vir a deflacionar o valor da casta. Um eventual problema porque o nome Alvarinho tem tendência para sair menorizado e potencialmente desvalorizado, mas também porque os pequenos produtores da região original, os produtores da sub-região de Monção e Melgaço, incapazes de competir pelo preço, ficam com um problema entre mãos de difícil resolução.

Chegados a este ponto, e salvo prova futura que contrarie a tese, não é difícil afirmar que os melhores vinhos Alvarinho nasceram e continuam a nascer na sub-região de Monção e Melgaço. Parece-me francamente claro que a região reúne uma série de condições naturais que consagram qualidades excepcionais à casta, proporcionando vinhos extraordinários que não conseguem ser replicados em nenhuma outra parte do território. O que é ao mesmo tempo uma benesse e uma espécie de maldição. Se o prestígio do nome Alvarinho foi construído à custa da qualidade ímpar dos vinhos Alvarinho de Monção e Melgaço, a verdade é que esses mesmos produtores podem sair agora directamente prejudicados pelos riscos da banalização do nome Alvarinho.

Que fazer então? Pretender proibir a utilização do nome da casta fora da região ou fora de Portugal é uma aspiração impossível e de realização impraticável por força das leis nacionais e internacionais. Restringir o uso de uma casta a uma região é algo que está fora do alcance de qualquer país ou região. Na verdade, a dificuldade actual assenta precisamente no apego à utilização do nome da casta em detrimento da utilização e promoção do nome da região ou da sub-região. Se os produtores locais tivessem começado por insistir no nome da sub-região, Monção e Melgaço, em lugar do nome da casta, os problemas actuais não existiriam.

Se é possível, e desejável, proteger o nome de uma região, tal como o fizeram o Vinho do Porto, Vinho Verde, Alentejo e demais regiões, não é legalmente possível proteger o nome de uma casta e restringir o seu uso, como tantas regiões internacionais o sabem por experiência própria. Mais que trabalhar na quimera de monopólio da casta, a sub-região de Monção e Melgaço deveria esforçar-se no reforço do nome da sub-região mostrando aquilo que a diferencia, mostrando a Portugal e ao mundo que é capaz de produzir alguns dos melhores vinhos brancos do mundo. Porque a realidade é esta: tal como a região da Borgonha é maior que a casta Chardonnay, também a região de Monção e Melgaço é maior que a casta Alvarinho.

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